O diabo no tribunal: seja o júri desse documentário 5v6m4g
Documentário O Diabo no Tribunal mostra uma das histórias do famoso casal Ed e Lorraine Warren 2p1e6b
Sabe aquelas vozes guturais de demônios? Aquelas que entram pelos nossos ouvidos e percorrem o corpo fazendo um frio subir pela espinha?
Elas estão em fitas que são apresentadas no documentário O Diabo no Tribunal, que acaba de estrear na Netflix.

Saem da boca de um menino de 11 anos, mas seriam, na verdade, de uma entidade demoníaca.
Quem conta isso é o próprio possuído. Hoje, já um adulto.
David Glatzel foi com os dois irmãos mais velhos limpar uma casa em Brookfield, no estado norte-americano de Connecticut. A irmã iria morar com o namorado no local.
Debbie deu ao caçula a incumbência de varrer um dos quartos.
No meio do serviço, o menino abandona a casa e sai correndo pelo quintal gritando que queria ir embora.
À noite, mais calmo, e de volta à casa onde morava, David contou que sentiu uma presença enquanto estava no quarto. E que, de repente, foi jogado violentamente sobre a cama. Com o corpo paralisado, ele viu uma entidade que descreveu como:
– Um diabo vestido em uma fantasia de halloween.
Tinha olhos pretos como carvão e disse que queria a alma do menino.
Era julho de 1980.
O caso, até então, ficou no conhecimento apenas da família e da igreja.
Um padre foi chamado para benzer o imóvel depois que o menino viu a entidade novamente.
Às 3 da manhã – já falei aqui sobre em outras colunas sobre o poder mítico e amaldiçoado desse horário – a casa começou a tremer, as luzes ficaram intermitentes. Foram 40 segundos de terror.
Era hora de chamar reforço contra o mal.
Pausa para sairmos um pouco do streaming para mergulharmos no cinema.
Mas calma, que essa paradinha tem tudo a ver com O Diabo no Tribunal.
E com Ed e Lorraine Warren. Ele, um demonologista. E ela, uma psíquica, uma sensitiva.
O casal que aprendemos a ver encarnados nas peles dos atores Vera Farmiga e Patrick Wilson foi responsável por um dos maiores sucessos do terror moderno: o Invocaverso.
O nome é dado ao conjunto de filmes derivados da obra Invocação do Mal, de James Wan.
O diretor fez o medo voltar ao cinema depois de muito tempo ao contar a história de uma família que foi assombrada por uma bruxa.
Veio a sequência, Invocação do Mal 2, tão boa quanto a primeira. E duas franquias derivadas: Annabelle e A Freira.
Uma mina de ouro que teve um terceiro filme. Para mim, o único fraquinho. Justamente inspirado na história que a Netflix traz agora em documentário. E que bom. Porque gostei muito do que foi trazido nessa história real.
Saem Vera Farmiga e Patrick Wilson e entram os Warren verdadeiros.
Depois que o garoto de 11 anos foi possuído, o casal foi chamado para ajudar a livrá-lo do mal.
Para que convencessem a igreja a autorizar um exorcismo, Ed pediu para que a família registrasse tudo em fotos, vídeos e fitas de áudio.
Entre depoimentos atuais dos envolvidos e materiais recuperados da época da possessão, o diretor Christopher Holt nos leva a viver ao lado da família o drama de ter um demônio vivendo entre gente de bem.
O ritmo é muito bom e você não sente o tempo ar.
Na hora do exorcismo, somos colocados na igreja com uma reprodução simulada do acontece na década de 80.
E é dali que sai uma frase que justifica todo o documentário. E que vai nos jogar numa espiral de dúvida tremenda.
O ritual não saiu como esperado. David quase morreu enquanto o padre tentava expulsar o maligno do corpo do menino.
Vendo que a criança estava em risco, o namorado da irmã, Arne Johnson, gritou com a entidade para que deixasse o garoto e entrasse em seu corpo.
Tudo se acalmou e Ed repreendeu o rapaz. Nunca podemos desafiar um demônio.
Cinco meses depois, Arne matou o melhor amigo com golpes de faca.
E acabou no tribunal.
A tese da defesa era a de que ele tinha agido por força do cramunhão.
O caso ficou famoso nos Estados Unidos e ganhou o apelido de “O Diabo me Obrigou”.
A partir daí, temos parte da família apoiando a tese com toda a fé do mundo.
E um dos irmãos, o mais velho, contestando não só a autoria sobrenatural do crime, mas colocando em xeque os interesses de Ed e Lorraine Warren.
Colocando em xeque todo o Invocaverso.
Ed e Lorraine não puderam se defender. Eles morreram. Ele em 2006, aos 80 anos. Ela, em 2019, anos 92.
Deixaram como legado um museu com milhares de objetos amaldiçoados. O curador do local é um dos netos do casal, que também aparece no documentário.
Em quem acreditar?
No assassino? Num adulto traumatizado por uma suposta possessão? No irmão mais velho? Na credibilidade de Ed e Lorraine?
Só faltou escutar a versão do demônio.
Mas é melhor não querer ouvi-lo. Ainda mais que estamos bem no mês do Halloween.