A Reserva y125f
Do frio da Dinamarca, a minissérie A Reserva traz um suspense com várias camadas envolvendo o desaparecimento de uma babá 2qbj
A Reserva é uma minissérie dinamarquesa que alcançou o número 1 na lista de mais procurados da Netflix no Brasil e de outros 27 países.
Interesse que se justifica.
A Dinamarca é um país de primeiro mundo. Na Wikipedia, “o sistema político dinamarquês é utilizado na ciência política como um ponto de referência para uma governança quase perfeita e o termo ‘chegar à Dinamarca’ é utilizado para descrever como outros países podem melhorar os seus governos.”
Pois é, mas A Reserva mostra que mesmo os países mais desenvolvidos do mundo são habitados por seres humanos. Criaturas imperfeitas que estão longe de deixarem seus interesses em prol dos semelhantes.
A obra é repleta de camadas ao mostrar, como plano central, a relação entre ricos dinamarqueses e suas au pair, que estão mais para empregadas domésticas do que babás.
Elas lavam, am roupa, cozinham, limpam a casa. E, teoricamente, a justificativa é que ajudem as mães dinamarquesas a cuidar dos filhos.
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Uma dessas au pair desaparece da noite para o dia, iniciando duas investigações. Uma policial e outra, privada.
A particular é feita por Cecilie, uma empresária bem-sucedida casada com o advogado de um bilionário, Rasmus, casado com Katarina.
Os casais são melhores amigos e vizinhos. Vivem num bairro dos sonhos, entre paisagens maravilhosas e jantares requintados.
A excelente vida deles contrasta com o sofrimento das au pair.
Vindas de países do terceiro mundo, elas estão ali não para um intercâmbio cultural como deveria ser o objetivo da legislação dinamarquesa.
Estão ali porque as 4.150 coroas que recebem (cerca de R$ 3.200) é uma necessidade e um valor que não conseguiriam em seu país de origem.
A minissérie foca em imigrantes das Filipinas.
Tanto Ruby, a garota desaparecida, quanto Angel, a au pair de Cecilie, vêm desse país.
O suspense não é o único chamariz de A Reserva.
A relação entre as pessoas vale cada episódio.
A frieza com que os ricos tratam os pobres e como isso a de geração para geração é tocante.

Mesmo quando um dos personagens dinamarquesas se esforça para quebrar essa barreira, isso é feito de forma desajeitada e só por um ponto de vista, deixando claro que não conseguimos entender a posição do outro se não vivermos o que ele vive.
Outro ponto importantíssimo da obra é a relação entre mães e filhos.
Cecilie teve depressão pós-parto do primogênito e tem, com ele, uma relação distante. O que deixa o pré-adolescente cheio de insegurança e solidão.
Já com a filha mais nova, a dedicação é diferente.
Mas o contraste maior está na diferença entre a mãe Cecilie e mãe Katarina.
A maneira como as vizinhas encaram a maternidade as colocam a quilômetros de distância uma da outra. Algo que será determinante para o desenrolar da trama.
Ainda há outras camadas para acompanharmos.
A relação da polícia ao lidar com pessoas influentes. (Nossa, achei que isso não existia na Dinamarca!)
Os adolescentes que se divertem com redes sociais privadas com conteúdo pornográfico, onde postar vídeos caseiros acaba sendo critério obrigatório pra permanência nesse grupo.
Imagine o impacto disso num jovem que já não é aceito pela mãe?
A Reserva tem 6 episódios que vão de 32 a 44 minutos de duração, em média.
Reserve um tempo para assistir.
E descubra que realmente há algo de podre no reino da Dinamarca. E ele não é nada diferente do que existe em outros lugares.
Como dizia Cazuza, a burguesia fede.
No calor do Brasil ou no frio dos países nórdicos.