Wellington, Tantan, Yago: aos 28 anos, ele impõe medo nas Moreninhas 2n5l3v
Wellington da Silva Bernardo, o nome de batismo, é suspeito de espalhar violência para controlar a distribuição de drogas ilícitas no segundo bairro mais populoso de Campo Grande bs6l
No dia 14 de junho de 2023 a polícia abordou, em Cianorte (PR), um cidadão usando documento de identificação em nome de Jessione Gabriel Paes Bezerra, nascido em Campo Grande (MS). O suposto Jessione vivia pacatamente na cidade de 80 mil habitantes, reconhecida por ser polo de confecções de roupa.

O tal Jessione dizia ganhar a vida como entregador de gás de cozinha.
Naquele dia de finzinho de outono, porém, foi descoberto seu disfarce e quem ele era de fato. A identidade era fria e o verdadeiro nome Wellington da Silva Bernardo. A origem, Campo Grande, e o ano de nascimento, estavam corretos.
Na cidade natal, o apelido de Wellington é “Tantan”, morador das Moreninhas conhecido pelo envolvimento com atividades ilícitas, apesar de se intitular barbeiro oficialmente. Se apresenta também como Yago Prado.

Mesmo antes dos 30 anos, tem uma longa “capivara”, a ponto de arrebanhar nos últimos anos conceito de chefão do crime na comunidade onde mora.
Silenciosa por razões evidentes, a fama é suficiente para espalhar temor entre os habitantes do segundo bairro mais populoso de Campo Grande, como indicou a investigação jornalística da Capivara Criminal.
Tudo para assegurar o controle da distribuição de drogas proibidas, revelam apurações policiais e processos judiciais consultados pela coluna.
Quando foi encontrado no Paraná, “Tantan” estava foragido de uma prisão domiciliar, por tráfico de entorpecentes, além de ser procurado como autor da execução de Gabriel Jordão da Silva, ocorrida no dia 1º de fevereiro de 2023.
Execução no meio da rua d6h19
Gabriel morreu aos 23 anos, no segundo atentado sofrido em menos de trinta dias. Em 7 de janeiro de 2023, havia sido atingido por três tiros, disparados por uma dupla de motocicleta.

Menos de um mês depois, no dia 1º de fevereiro, estava na frente da casa da namorada, na rua Baguari, quando um veículo Palio ocupado por um trio chegou e dois dos homens desceram atirando com pistolas 9mm.
O alvo ainda tentou se defender atirando de volta um revólver calibre 38, de modelo chamado “buldoguinho”, por ter tamanho menor.
A violência na câmera de segurança 343129
A cena foi flagrada por câmera de segurança. Mesmo sem ver o vídeo, só a descrição e os prints das imagens captadas são angustiantes.
Os dois homens perseguem Gabriel, o tiroteio continua no meio da rua, até ele ser acuado no quintal de uma casa, onde buscou abrigo.

Um dos pistoleiros, depois de a vítima estar agonizando, pega o revólver da vítima e dá um tiro de misericórdia.
Vai embora levando o “buldoguinho” de quem acabou de tirar a vida.
Durante a saraivada, há um momento no qual o motorista do Palio usa o carro para bloquear o caminho de fuga de Gabriel.
Consta da investigação da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) o nome de Wellington da Silva Bernardo como motorista do veículo. É o mesmo “Tantan” que tentou ar despercebido no Paraná como entregador de gás.
Preso pela polícia do estado vizinho, foi recambiado para Campo Grande pouco tempo depois. No mesmo dia da chegada, 13 de julho, prestou depoimento na delegacia responsável pelo inquérito da morte de Gabriel Jordão da Silva.
Ainda trajado com o uniforme laranja do sistema prisional paranaense, travou curtíssima conversa com a autoridade policial.
Em menos de cinco minutos, confirmou dados pessoais e reservou-se o direito de ficar calado, previsto na legislação penal. Pelas poucas palavras ditas, a ida ao Paraná se deu cerca de duas semanas depois da execução do dia 1 de fevereiro.
“Tantan” foi indiciado pela morte de Gabriel, com base na dinâmica do crime traçada pela equipe policial. A convicção de culpa foi construída a partir de um conjunto de provas obtidas via testemunhos, informantes, perícia e análise de dados angariados com quebras de sigilos.
Além dele, Ryan Victório Alencar da Silva, o “Amarelinho”, de 21 anos, é réu pelo mesmo homicídio. O processo já está na fase final para realização do tribunal do júri.

“Amarelinho” foi preso com a arma do crime, pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. Durante o andamento do inquérito, confessou o crime, e demonstrou preocupação com sua segurança em relação à participação de Yago.
Ao ser preso, levou os policiais militares às três armas do crime, as duas usadas pelos atiradores e a da vítima. Confessou, segundo constam dos documentos oficiais, e ainda lembrou ser réu por outro assassinato ocorrido meses antes.
Em seu depoimento gravado na DHPP, anexado aos autos, não quis fazer declarações: confira
O terceiro envolvido, embora haja suspeita de quem seja, ainda não foi reconhecido plenamente. Por isso não houve indiciamento tampouco denúncia contra essa pessoa.
Na hora do ataque, todos estavam de cara limpa e foram reconhecidos por testemunhas.
Conforme a conclusão da DHPP, a motivação para o homicídio de Gabriel foi o fato de ele descumprir a regra tácita do mercado de drogas no bairro: o entorpecente a ser vendido nas biqueiras e no modo delivery deveria ser comprado de “Tantan”/Yago.

O rapaz assassinado insistia em fazer diferente, sustentam as descobertas policiais. Como consequência, acabou se tornando desafeto mortal do grupo ligado a Wellington Bernardo.
Existe a desconfiança de ligação do investigado com ocupantes da cúpula da facção criminosa PCC nos presídios de Mato Grosso do Sul.
Você vai ver ainda neste texto, que ele já cumpriu pena por associação ao tráfico, comprovada em uma investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) relacionada à facção.
Não há, porém, comprovação de integrar o grupo criminoso no momento. Uma das teses é de a ter rompido com o PCC e se tornado independente da facção.
Testemunha assassinada 2c3928
Pouco mais de dois meses depois da morte de Gabriel Jordão, uma das testemunhas oculares da cena violenta foi morta, em situação semelhante.
No dia 17 de abril de 2023, na mesma rua Baguari, Kelvy Dhoko de Souza Gonçalves, foi alvejado por tiros de calibre 9 mm. Tinha 17 anos.

A execução aconteceu às vésperas do depoimento do adolescente na ação penal contra Wellington e Ryan pela morte de Gabriel.
A testemunha falaria à Justiça no fim do mês de maio de 2023.
Relato da mãe de Kelvy, cujo nome e idade não serão expressos nesta coluna, revelou ameaças contra o filho da parte de “Tantan”.
Kelvy e Gabriel Jordão, contou a mulher, eram como irmãos.
No dia da execução de Gabriel, o suposto atacadista de drogas nas Moreninhas esteve na casa dela, e chegou a declarar, conforme o depoimento da mãe, que os filhos não ariam daquele dia.

Ela correu para avisar o filho do coração, sem êxito. Ao chegar perto do local onde ele estava, encontrou Kelvy e na sequência, ouviu os tiros.
Deu tempo de reconhecer “Tantan” no volante do Pálio antes de ir socorrer o rapaz ferido.
Caso correu na DEPCA 5c414u
Tramitou na DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) o inquérito sobre a morte de Kelvy. Procurada pela reportagem, via assessoria de imprensa da Polícia Civil, a unidade informou apenas já ter relatado o caso ao Judiciário, sem dar detalhamento sobre quem foi responsabilizado pelo crime.
Embora tenham sido comunicadas ameaças de “Tantan”, em pessoa, a Kelvy e à genitora, a apuração da Capivara Criminal é de que ele sequer foi alvo dessa peça inquisitória.
Em outro processo por homicídio, referente a um caso de 2021, com uma morte e quatro feridos, é feita a referência a Yago por um dos acusados.
No primeiro depoimento sobre a confusão na qual Odilon da Silva Mareco, de 19 anos, foi ferido a tiros, no dia 31 de janeiro daquele ano, o investigado Leoan Gomes de Assis, então com 23 anos, citou o nome “Yago” como alguém a quem já teria sido encomendada sua execução pela vítima morta.
Junto a fontes policiais, a Capivara Criminal descobriu que a suspeita é de se tratar de Wellington Tantan, em mais uma indicação de sua notoriedade como alguém a ser temido na região.
Pelos contatos feitos, há outros homicídios, todos na comunidade do complexo de conjuntos habitacionais na região sul de Campo Grande, cuja participação do autodenominado Yago Prado está sob averiguação.
Pelo menos mais dois inquéritos, ambos sigilosos, têm o personagem da coluna deste domingo como suspeito.
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Quando uma pessoa é acusada de qualquer ilícito penal, sua vida pregressa é vasculhada, por meio dos antecedentes penais. Se é reincidente, isso conta muito para os próximos os jurídicos.
No caso de Wellington da Silva Bernardo, a coleção de infrações à lei é bem recheada:
- Tráfico de drogas
- Receptação
- Associação para o tráfico
- Posse ilegal de armas
- Formação de organização criminosa
- Homicídio
Em 2015, quando mal tinha chegado à segunda década de vida, “Tantan” foi investigado pelo Gaeco, o setor do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) especializado em ofensivas contra o crime organizado.
Leia mais n1u6n
Era uma devassa sobre a atuação do PCC dentro e fora dos presídios de Mato Grosso do Sul, onde a facção domina a massa carcerária. Como parte da ação, mais de uma centena de pessoas foram relacionadas como “irmãos” da máfia surgida em São Paulo.
Sobre “Tantan” restou evidenciada relação de proximidade com Ailton Rios Heleno, o “Tinenê” ou “Nenê Sem Perna”, apelido decorrente do fato de ser deficiente físico.
Atentado a base policial u6f3d
“Nenê Sem Perna” foi um dos presos, em 2012, por atacar a base da PM (Polícia Militar) nas Moreninhas com granadas.
Seguiu nas atividades ilícitas, de tráfico de drogas a golpes cometidos de dentro da cadeia, usando telefone celular, um item proibido no papel.
“Com base nos áudios monitorados no período, observou-se que o denunciado Ailton Rios Heleno, vulgo Neném ou Nenê Sem Perna negociou o entorpecente apreendido com o indivíduo apelidado de Piloto, sendo que tal droga estava com o denunciado Wellington da Silva Bernardo, vulgo Tantan, ou “Amigo Tinenê”.
Trecho de peça processual do Gaeco
O fim de “Nenê Sem Perna” foi triste, mas não surpreendente para quem cai na vida de “corres”. Em primeiro de julho de 2023, ele encontrou a morte em uma cela do presídio fechado da Gameleira II, apelidado de “Federalzinha” pela rigidez das regras.
Foi ferido a golpe de arma branca por um colega de cela.
Seu comparsa “Tantan”, como demonstraram os dados colhidos pelo Gaeco, na mesma época tinha voltado para a prisão, depois da captura no Paraná.
Em novembro de 2022, o apenado havia sido liberado para cumprir pena em casa em razão de uma doença autoimune, a psoriase, comprovada por exames médicos.
Atualmente, Wellington da Silva Bernardo está preso no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), no complexo penal da saída para Três Lagoas. É a terceira temporada por lá.
Estar nesse presídio já é um indicativo de uma quebra na relação com o PCC, cujos integrantes ficam no EPJFC (Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho), mais conhecido como “Máxima”.
O posicionamento da defesa de Tantan 5x5k1i
“Wellington nega a participação nessas execuções, nega qualquer tipo de envolvimento, facilitação de qualquer outro tipo de situação ou condição para exercer qualquer tipo de liderança na traficância, na Moreninha ou em qualquer outro lugar.”
Marcos Ivan Silva, advogado de Tantan
“Em questão dos homicídios, a defesa vem combatendo e vai ser levada ao júri agora. Nós vamos tentar buscar em plenário demonstrar que não existe essa condição para uma condenação”.
Marcos Ivan Silva, advogado de Tantan