Vereador era a 'ponte' entre fiscalização e organização criminosa, diz delegado
Mandado de busca e apreensão foi cumprido contra o parlamentar nesta quarta-feira (5), em Cuiabá
De acordo com o delegado da Polícia Federal, Antônio Flávio Rocha Freire, que conduz a “Operação Ragnatela” deflagrada na manhã desta quarta-feira (5), o vereador por Cuiabá, Paulo Henrique Figueiredo, um dos alvos dos mandados de busca e apreensão, fazia a ‘ponte’ entre a organização criminosa e os agentes públicos da Secretaria Municipal de Ordem Pública.

“Ainda estamos investigando para saber como era a participação do parlamentar, mas o que podemos adiantar e que já está comprovado nos autos, é o seguinte: identificamos a participação do vereador dentro da secretaria municipal. Pessoas ligadas a ele seriam responsáveis pela fiscalização dessas casas noturnas e pela concessão de autorização para realização dos shows”, disse o delegado em entrevista coletiva.
O delegado afirmou ainda que o parlamentar mantinha uma relação muito próxima com os investigados, incluindo troca de favores e a obtenção de vantagens financeiras indiretas.
A operação é resultado de investigações contra uma facção criminosa que usava casas noturnas cuiabanas e shows nacionais para realizar lavagem de dinheiro.
Além do vereador, o fiscal da Secretaria de Ordem Pública, Rodrigo Anderson de Arruda Rosa, também foi alvo da operação. Com relação ao servidor, a Secretaria Municipal de Ordem Pública informou que abrirá um procedimento interno para apuração da conduta do agente de fiscalização.

Veja abaixo a nota da Prefeitura de Cuiabá:
“Nota à imprensa
Quanto a ação policial desencadeada na manhã desta quarta-feira (5), a Secretaria Municipal de Ordem Pública esclarece:
— abrirá procedimento interno para apuração da conduta do agente de fiscalização;
— reforça que atuará de acordo com a legislação vigente, atendendo a prazos e os procedimentos necessários, ao procedimento istrativo;
— está à disposição das autoridades para colaborar com informações necessárias ao inquérito policial instaurado”.
Sobre o vereador, a Câmara, por meio do primeiro vice-presidente, vereador Rodrigo Arruda (PSDB), informou que a Casa de Leis vai aguardar os desdobramentos das investigações da PF e um posicionamento da defesa do vereador Paulo Henrique para se manifestar.
Já o gabinete de Paulo Henrique, por meio da assessoria, informou que não pronunciará oficialmente até ter conhecimento do processo.
Saiba quem é o vereador
Paulo Henrique foi eleito nas eleições municipais de 2020. Na época, declarou à Justiça Eleitoral que tinha um total de R$ 23.743,83 em bens, sendo um carro Renault Clio, uma Moto Yamaha e pouco mais de R$ 1,7 mil na conta bancária.
Ainda segundo o portal do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele já havia disputado as eleições para o cargo de vereador em 2016 e ficou como suplente, pelo PV.
Também de acordo com as declarações feitas aos órgão, Paulo Henrique é servidor público municipal de carreira e não respondia a nenhum processo na Justiça de Mato Grosso, antes da operação desta quarta-feira.
Posicionamento
Sobre a investigação, o vereador, por meio de seu perfil no Instagram disse que jamais exerceu qualquer poder de influência na liberação de eventos, pois tal atribuição não compete ao cargo que ocupa.
Disse ainda que defesa será elaborada assim que seus advogados tiverem o aos autos do processo, os quais permanecem sob segredo de justiça e ainda não liberado pelo Ministério Público.
Veja a postagem com o posicionamento do parlamentar:
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A operação
Nesta quarta, foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva e 36 de busca e apreensão em Mato Grosso e no Rio de Janeiro, expedidos pelo Núcleo de Inquéritos Policiais da Comarca de Cuiabá.
Sequestro de nove imóveis e 13 veículos, além de bloqueio de 68 contas bancárias também fizeram parte das ações.
As equipes policiais tiveram apoio da Ciopaer (Centro Integrado de Operações Aéreas), Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), da Polícia Militar e de uma força-tarefa do Ministério Público Estadual.
Ainda segundo a Ficco, as investigações apuraram que os suspeitos reavam ordens para não contratação de artistas que, supostamente, tinham ligações com outras organizações criminosas nos Estados.
A facção de MT contava com apoio de agentes públicos que seriam responsáveis pela fiscalização e concessão de licenças para a realização dos shows. Segundo a polícia, eles recebiam benefícios financeiros por isso.
O outro lado
O Primeira Página tentou contato com a defesa do fiscal, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.