Um ano sem Sophia h521y
Morte da menina completa um ano nesta sexta-feira (26) e acusados seguem presos 475v3k
Dentro de quantos quilômetros cabe a saudade? Quando se trata de sentimento é difícil mensurar, mas Jean Ocampo, 28 anos, pai da menina Sophia Ocampo, decidiu encarar mais de 1.200 km de viagem para não estar em Campo Grande neste 26 de janeiro.

A data, que antes não significava algo em seu calendário particular, agora é lembrada com o nó na garganta de quem viu a filha ter a vida abreviada, vítima de um espiral de violência que a consumiu aos 2 anos e sete meses.
“Não estamos em Campo Grande. Pelo fato de amanhã [hoje] completar um ano que Sophia se foi, nós decidimos viajar. Não queríamos estar aí”.
Jean Ocampo, pai de Sophia
O relato foi feito após ser indagado se poderia contar à reportagem como está a vida 365 dias depois do golpe que recebeu ao ver a pequena sem vida.
Depois da primeira resposta, via Whatsapp, o silêncio. Completamente entendido por esta repórter que vos escreve, mãe de duas crianças pequenas, uma delas com exata idade que Sophia teria, e que não consegue ter a mínima ideia do quão doloroso é vivenciar a morte de um rebento.
Jean e o marido, Igor Andrade, estão em Santa Catarina. Em postagem nas redes sociais eles aparecem de mãos dadas, presenciando um pôr do sol na praia. “O amor de Deus é como o mar: pode ver o início, mas não conseguimos enxergar o fim. Agora é só eu, você e Deus. 2024 vai ser o ano de Justiça, nós cremos”, escreveu Igor.
Doze meses 4b61b
Em 26 de janeiro de 2023, Stephanie de Jesus, mãe da criança, levou a filha já desfalecia à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Coronel Antonino para nunca mais vê-la em pé. Aliás, para nunca mais ver nenhuma das filhas, já que também é mãe da pequena Stella, à época com pouco mais de sete meses de idade.
Óbito constatado, ela e o marido, padrasto de Sophia, Christian Campoçano, foram presos, situação em que ainda se encontram. Ambos são acusados de matar a menina após noite de extrema violência.
O histórico, segundo revelaria meses depois investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), era de que a rotina de violência predominava na casa alugada na Vila Nasser, encontrada em total situação de insalubridade depois de todo o ocorrido.
De acordo com a ação penal em que mãe e padrasto são réus, Sophia era agredida com frequência. Tanto que em um dos episódios teve a cabecinha cortada após Christian dar um “cascudo” nela. Tudo mostrado em conversa de WhatsApp, revelada em perícia feita nos aparelhos dos dois.
Em outra ocasião, Sophia teve a perninha, mais exatamente a tíbia, fraturada depois de ser chutada pelo padrasto. A informação foi confirmada pelo filho do réu, fruto de relacionamento anterior, um menino de seis anos que morava junto ao casal.

As agressões acenderam sinal de alerta em Jean que, com o marido, buscou ajuda junto ao Conselho Tutelar na região Norte. Também foi à Defensoria Pública, bem como registrou boletim de ocorrência. A história todo mundo já sabe: não houve ação suficiente para evitar a partida prematura da vítima.
Stephanie e Christian aram por pelo menos duas audiências de instrução, foram ouvidos na última delas em 5 de dezembro ado. Eles trocaram acusações e um culpa o outro pelo fatídico destino da pequena.
Logo após ouvi-los, o juiz Aluízio Pereira dos Santos decidiu que entre os dias 12 e 14 de março de 2024 a dupla iria a júri popular, mas depois de manobra das defesas, o julgamento foi retirado de pauta e segue até agora sem data para ocorrer. Cabe aos advogados juntar aos autos novas peças.
Casa da Criança 285h4m
Além de revolta e tristeza, o caso Sophia desencadeou série de audiência públicas e atos que indicavam melhorias no sistema de proteção à criança e ao adolescente em Campo Grande.
Uma delas foi a união de forças para tirar do papel da Casa da Criança, que seria como uma extensão da Casa da Mulher Brasileira, complexo especializado em receber mulheres vítimas de violência doméstica.

No dia 23 de dezembro a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) autorizou a doação ao governo de Mato Grosso do Sul de um terreno no Jardim Imã, justamente em frente à Casa da Mulher Brasileira, para a construção e instalação do Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente.
A unidade terá delegacia da Polícia Civil, salas para a Polícia Militar, para o Instituto de Medicina e Odontologia Legal, para psicólogas, brinquedoteca, entre outros espaços. Serão R$ 7 milhões para iniciar a obra que, segundo o Estado, está entre as cinco construções prioritárias para este ano.
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Conselhos tutelares 393m
Os conselhos tutelares também sentiram pressão após o caso de Sophia reverberar Brasil afora. Isso porque conselheiros chegaram a ir na casa em que a menina morreria dentro de pouco tempo, mas não avaliaram haver perigo ou maus-tratos.
Dentre as mudanças listadas em audiência pública sobre o crime, ficou firmado o compromisso de tirar outros três conselhos tutelares do papel, cenário já previsto em resolução do Governo Federal para cidades com 1 milhão de habitantes.
A capital sul-mato-grossense, que até então funcionava com cinco unidades, teoricamente agora abriga oito, embora os três novos ainda não tenham lugar fixo para funcionar.
Os 15 conselheiros que atuarão neles hoje dividem espaço com os 25 conselheiros eleitos para os espaços que já existiam.
A Prefeitura informou ter 90 dias, a contar do início deste mês, para os conselhos estarem em funcionamento nos devidos lugares.
Logo depois da morte de Sophia o MPMS disse que estava em investigando o conselho da região Norte. A reportagem questionou o órgão para saber sobre os trâmites, no entanto não houve resposta.