Transfobia do filme “Madalena” é espelho da realidade em MS 27x8
Em 2018, travesti foi asfixiada e teve o corpo jogado em milharal; responsável pelo assassinato foi condenado a 12 anos de prisão 3r2e1u
A transfobia presente no filme “Madalena” é um espelho da realidade de Mato Grosso do Sul. No longa-metragem, o corpo da mulher trans que dá nome à obra é jogado sem vida em uma plantação de soja. Distante da ficção, mas não muito, quem teve o corpo abandonado em milharal foi a travesti Marcinha Rodrigues, morta aos 29 anos, em Camapuã, após ser asfixiada com um golpe de mata-leão.

O assassino de Marcinha, Matheus da Silva Oliveira, tinha 18 anos à época em que cometeu o crime. Se entregou à polícia, disse ter se arrependido, mas nunca conseguiu esclarecer exatamente o porquê de ter enforcado a travesti com quem bebia, juntamente com amigos, horas antes do crime. Ele foi sentenciado a 12 anos de prisão.
Discriminação 3h1t1t
O preconceito explica a motivação de Matheus e ajuda a entender outro caso semelhante: pai e filho se uniram para espancar a transexual Claudinha, de 45 anos, no último dia 6 de março, em Mundo Novo.

Neste caso, o homem de 45 anos ficou incomodado com a presença da travesti no estabelecimento onde ele estava e a provocou. Claudinha reagiu arremessando uma garrafa contra ele.
Após tratar o corte no rosto, a suspeita é de que o homem e o filho tenham saído em busca de Claudinha e a espancado com um pedaço de madeira. Deixaram o local pensando que ela estava morta. As agressões foram filmadas por câmeras de segurança e auxiliaram a polícia a identificar os suspeitos, que estão presos preventivamente, por tentativa de homicídio qualificado. A participação de uma terceira pessoa é investigada.
“A gente entende que tudo começou com o preconceito. Começaram a ofender a vítima, a humilhá-la até que ela teve uma reação mais agressiva.”
Delegado João Dorneles, responsável pelo caso.

A coordenadora municipal de Políticas para Diversidade Sexual LGBT, fundadora e presidente de honra da ATMS (Associação de Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul), Cris Stefanny, lamenta o fato de ainda ocorrerem tantos casos de LGBTfobia em Mato Grosso do Sul, “um estado que mais tem leis, decretos, órgãos e resoluções pró-LGBT”, diz.

Cris se diz comovida com estes casos, assim como todas as travestis e pessoas trans. “Somos as que levam as primeiras porradas dentro do movimento LGBT. Nossos corpos, nossas faces são militâncias vivas desde que acordamos até a hora de nos recolhermos”.
Mortes e agressões 3b3r46
Entre 2017 e 2021, relatório elaborado pela Antra (Secretaria de Articulação Política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais) mostra que foram 10 pessoas trans mortas em Mato Grosso do Sul. É o 14º estado mais violento para essa população no País.
Dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública apontam que só no ado foram registrados 11 casos de discriminação em que a motivação foi LGBTfobia.

Por enquanto, mortes com esta motivação, em geral, são registradas como homicídio qualificado por motivo torpe. Isto porque, apesar de a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2019 permitir a criminalização da homofobia e transfobia, não há lei sobre isso no Código Penal.
O subsecretário estadual de políticas públicas LGBT +, Leonardo Bastos, orienta que em todo e qualquer tipo de discriminação a polícia seja acionada.
O subsecretário ressalta que Mato Grosso do Sul tem um Centro Estadual de Cidadania LGBT que conta com núcleo de promoção de direitos em que este público recebe e psicossocial, encaminhamentos e monitoramentos.
LEIA MAIS: