"Quem manda aqui sou eu": delegado alvo do Gaeco é processado por tiros dentro de cadeia
Crimes são analisados pela justiça e aconteceram entre 2015 e 2016, nas cidade de Itaquiraí e Caarapó
Preso no começo do mês por porte ilegal de munição, e solto sob pagamento de R$ 3 mil de fiança, o delegado Rodrigo Blonkowski acumula processos na justiça por denúncias de abuso de autoridade em duas unidades policiais que foi responsável em Mato Grosso do Sul. Agressões, torturas, ameaças e até tiros na área de celas estão na lista de crimes atribuídos ao policial, que hoje está afastado do cargo.

Os crimes aconteceram entre 2015 e 2016. O primeiro foi registrado na cidade de Itaquiraí – cidade a 389 quilômetros de Campo Grande.
Era maio de 2015, Rodrigo e dois investigadores da delegacia da cidade apuravam um caso de apologia ao crime. O alvo era um rapaz que havia publicado no Facebook várias fotos de uma arma, de pés de maconha e imagens de palhaço – que no mundo do crime simboliza quem é assassino de policial.
Não demorou muito para o suspeito ser encontrado. Segundo o Ministério Público Estadual, o rapaz foi agredido para revelar de quem era a arma que aparecia em uma das fotos. O suspeito indicou a casa do amigo, que também foi detido. Os dois foram levados para a delegacia e em uma das salas da unidade foram torturados.
Conforme os autos, o suposto dono da arma teve um saco plástico colocado na cabeça e foi ameaçado de morte por Rodrigo, por pelo menos duas vezes. Em depoimento, o rapaz disse que o delegado apontou a arma para sua cabeça e também enfiou o cano na sua boca, enquanto insistia que ele assumisse o crime e revelasse onde estava a arma. Os dois confessaram tudo.
Outra cidade
Meses depois, Rodrigo voltou a ser alvo de acusações dos presos. Desta vez, as reclamações vieram da Delegacia de Polícia Civil de Caarapó. Segundo a denúncia do Ministério Público, em duas ocasiões o delegado atirou dentro da delegacia da cidade para intimidar os internos, entre o fim de 2015 e janeiro de 2016.
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Na primeira vez, os tiros foram dados do pátio da delegacia, onde, conforme as investigações, o titular da unidade promovia festa com churrasco e bebedeira que contavam até com a participação dos custodiados ali. Durante uma dessas “reuniões”, o delegado sacou a arma e disparou contra os vidros das janelas do prédio, que abrigava internos do semiaberto.
Em um curto espaço de tempo, o delegado deu uma nova demostração de poder. As apurações apontam que no dia os detentos começaram a fazer barulho nas celas e bater nas grades para chamar atenção e pedir ajuda médica para um interno que estava doente. Rodrigo apareceu logo, mas não para socorrer o custodiado, conta o material enviado ao Judiciário.
Nos depoimentos, os internos narraram que o então delegado sacou a arma mais uma vez e disparou cinco vezes. Ao fim dos tiros, gritou:
“Quem manda aqui sou eu”, teria declarado ao final dos disparos. Os tiros marcaram a parede do solário e os buracos acabaram cobertos pelos próprios presos, com massa de cimento.
O quarto caso de “excesso da força policial”, também aconteceu em Caarapó. Em fevereiro de 2016 m dos internos, que tinha problemas psiquiátricos, ou dentro da cela. Mais uma vez, os outros internos fizeram barulho para pedir ajuda, mas Rodrigo entrou na cadeia e jogou gás de pimenta no rosto do preso. Todos foram afetados com a fumaça tóxica.
A cadeia da cidade é composta por seis celas e na época dos fatos, pelo menos 50 pessoas estavam detidas no local. Depois do gás, os presos sentiram dor e irritação nos olhos, aram mal e alguns até desmaiaram e vomitaram. Foi preciso tirar os internos da cela e levá-los para o solário.
Rodrigo foi delegado de Caarapó do final de 2015 até novembro de 2016, quando foi afastado do cargo por colocar internos da unidade para trabalhar fora da delegacia mesmo com uma ordem judicial que proibia isso, justamente pela falta de segurança no monitoramento dos custodiados.
Alvo de 2 ações
Agora se somam à lista de acusações contra o delegado, as denúncias feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) na Operação Codicia. A ação investiga grupo criminoso que cometia crimes de concussão, peculato e tráfico de drogas, dentro da 2ª Delegacia Polícia Civil de Ponta Porã, município na fronteira com Paraguai que fica a 295 km de Campo Grande, unidade em que Rodrigo era o titular.
Ele é alvo de duas ações penais derivadas da Codicia. Sua prisão no dia 5 de julho, na casa onde vive em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, foi em decorrência de mandado de busca e apreensão na Codicia.
A prisão foi cumprida pela Corregedoria da Polícia Civil, que encontrou munições irregulares. Trazido para Campo Grande, Blonkowski pagou fiança de R$ 3 mil e foi liberado.
Sua defesa não foi localizada pela reportagem do Primeira Página. Nas redes sociais, o delegado tem feito postagens nas quais fala sobre estar perto de “amigos verdadeiros”, fala de covardia como atitude dos fracos ou mesmo cita uma frase famosa do personagem Rocky Balboa.
Confira o post abaixo: