Preso por atropelar mulher com caminhão não vê gravidade de crime 563j6p
Segundo a delegada Rafaela Lobato, homens que cometem crimes contra mulheres não percebem o próprio comportamento e geralmente, culpam as vítimas pelas atitudes violentas 2p3r3b
“Ele não percebe a gravidade do que fez. Notamos no depoimento dele que nem se considera um criminoso”.
É assim que a polícia começa a descrever Michel Geraldo Amorim Gomes, preso por tentar matar a companheiro atropelada com um caminhão-guincho por duas vezes no ano ado, em Campo Grande. Procurado desde outubro, ele foi preso em Santa Catarina no dia 13 de janeiro e chegou a capital de Mato Grosso de Sul nessa terça-feira (17).

No dia 22 de outubro, Michel bateu da esposa e quando ela tentou escapar de moto, a seguiu com o caminhão até conseguir atingir ela. A vítima ficou ferida, mas sobreviveu. Ele fugiu. A polícia foi chamada e ele ou a ser procurado.
Já naquela época, o pedido de prisão foi feito e rapidamente aceito pela justiça, mas por conta das leis eleitorais, que proíbem prisões nas vésperas das eleições, as equipes da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) não puderam fazer muita coisa. Michel chegou a ser ouvido, mas foi liberado e depois disso, mudou de cidade.
Por alguns meses, a delegacia especializada trabalhou para encontrar o suspeito. Nos últimos dias descobriram que ele estava em uma cidade perto de Florianópolis. Preso ele voltou a Campo Grande, “sem entender” o que realmente tinha feito.
“Ele questionou o motivo, falou que estava recomeçando em outro estado, procurando trabalho com carteira assinada. Mas foi o que falei para ele: é ótimo ele tentar recomeçar, mas isso não apaga o fato de ter tentado matar uma mulher, duas vezes. Por esses crimes, ele precisa se punido e se depois que cumprir a pena, quiser recomeçar a vida, ótimo”, detalhou a delegada Rafaela Brito Sayao Lobato.
A reação de Michel, é um reflexo de uma vida de violência contra mulheres. Só na delegacia especializada, os registros de crimes dessa natureza começam em 2015, quando ele se relacionava com outra mulher. Contra ela, o motorista cometeu crimes de injuria, lesão corporal, difamação e ameaças. Em 2021 chegou a ser preso com uma arma, enquanto perseguia a mesma mulher; como detalha a delegada Elaine Cristina Ishiki Benicasa.
No ano ado, já morando com a vítima, o comportamento se repete. “Na primeira tentativa de feminicídio ele fez a mesma coisa, tentou matar a companheira atropelada com o caminhão-guincho”. O caso foi registrado e uma medida protetiva foi dada a vítima, mas dias depois ela retirou. O inquérito acabou encerrado porque ela não ajudou nas investigações”.
De volta ao relacionamento, continuou alvo dos abusos de Michel. Foi justamente o comportamento ciumento e violento que motivou a briga no dia anterior a segunda tentativa de homicídio.
Durante coletiva de imprensa, as delegadas Elaine Benicasa e Rafaela Lobato reforçaram que esse é o comportamento “comum” entre agressores. “Geralmente no feminicídio, tentado ou consumado, se percebe no depoimento da vítima, das amigas da vítima, dos familiares, que há um ciúme excessivo, há uma agressividade, uma posse, trata de fato a mulher como um objeto. São sinais que até no início de namoro a mulher consegue perceber”.
Para Benicasa, é através da percepção do comportamento, que está a chave para frear a violência doméstica.
Depois que o crime já foi cometido, outra atitude é visível nos autores: a falta de noção da gravidade do que fizeram e a tentativa de usar os comportamentos da vítima como justificativa para “surtos” de violência. Foi caso de Michel, como já narrado pela polícia, e de muitos outros homens ouvidos pela delegada Rafaela Lobato.
Mesmo com todo o histórico, Michel estava novamente conversando com a vítima, por mensagens e ligações. O que para a polícia só prova que ele mudou para fugir da prisão e não para “ficar longe e respeitar a medida protetiva”, como insistiu em falar no depoimento.
Preso preventivamente, Michel vai responder por duas tentativas de homicídio, qualificadas por feminicídio. Por isso, será julgado no Tribunal do Júri ao fim do processo.