Policial penal detalha momentos de tortura por colegas durante curso: 'queimaram meu rosto' 453y2n
Segundo a agente, tudo aconteceu no dia 3 março, no Curso de Intervenção em Recinto Carcerário aplicado pelo GIR (Grupo de Intervenção Carcerária) 6lu1v
A policial penal que denunciou um colega de trabalho por importunação sexual e policais por tortura durante o Curso de Intervenção Rápida em Recinto Carcerário detalhou as agressões, em entrevista exclusiva exibida na TV Centro América, nesta sexta-feira (10).

Nessa quinta (10), a Justiça determinou o afastamento de cinco dos integrantes do GIR, o gerente Roberval Ferreira Barros, e quatro instrutores, Marcos Benigno Monteiro, Gilberto de Almeida Sales, Ivando Lembranzi Kleber Féliz da Silva, e do policial penal José Gomes – suspeito de importunação sexual contra a vítima.
A defesa de Marcos Benigno Monteiro e Kleber Félix da Silva afirmou que eles negam a acusação de que teriam participado de tortura. Já o advogado que representa Roberval Ferreira Barros, Ivando Lembranzi e Gilberto de Almeida Sales foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar por nota. O Primeira Página não conseguiu localizar a defesa de José Gomes.
Segundo a agente, tudo aconteceu no dia 3 março, em um curso ministrado pelo GIR (Grupo de Intervenção Carcerária).
“Me torturaram o tempo todo, jogaram gás no meu rosto o tempo todo, jogaram espuma no meu corpo inteiro, queimaram meu rosto e a minha boca”, disse à reportagem.
As agressões d715o
A mulher acredita que a denúncia do crime de importunação sexual no ambiente de trabalho, ocorrida em novembro do ano ado, motivou a tortura durante o curso.
Ela relatou que, após ser vendada com uma balaclava, que é um capuz, foi levada para outra sala onde ocorreu agressões.
“Alguém me tira do local [onde estavam os demais colegas de curso] e, antes de me levar para uma sala totalmente escura, alguém dá uma pancada nas minhas costas. Não sou capaz de identificar quem é. Na tal sala, alguém diz que eu estou querendo ver o meu coleguinha de farda preso”.
Conforme a vítima, dentro da sala, os envolvidos teriam a questionado o porquê de ter feito a denúncia. Ela se defendeu dizendo que ele estava observando-a sem roupa pela janela do alojamento. Mesmo assim, os colegas não aceitaram a resposta e culparam a policial por deixar a janela aberta propositalmente.
‘Intenção era saber sobre meu depoimento’ 1l245c
A policial penal contou que os agressores questionaram o que ela havia dito no boletim de ocorrência.
“A intenção era saber sobre o meu depoimento, que é sigiloso. Não disse, eu me calei. Contaminaram os meus olhos com um produto que causa irritação nos olhos, fecha involuntariamente a suas pálpebras e causa uma dor tremenda”, relatou.
“Puxaram meu braço pra bater o sino [para desistir do curso]. Me levam pra uma viatura e falaram que me levariam para um determinado local. Eu falei: ‘Não! O que vocês estão fazendo é contra a minha vontade, isso é privação de liberdade’. Eles falaram que não, que era a ordem do coordenador do curso me levar pra esse determinado local”, detalhou.
Ela afirmou também que abriu a porta da viatura, saiu com os olhos vedados, enxergou uma luz na escuridão e foi até o local pedir socorro.
“Uma senhora abriu a porta e me escondeu debaixo de uma cama. Aí chegaram algummas pessoas lá pedindo para ela abrir a porta, que eu estava em surto psicótico, que eu não estava em minhas condições mentais. E eu pedia para ela não abrir, não. Eu peguei uma carona com uma pessoa para retornar para Cuiabá”, explicou.
Os integrantes do GIR denunciados pela mulher foram presos em flagrante, liberados no mesmo dia e tiveram os celulares apreendidos. Agora, respondem ao inquérito por lesão corporal, coação no curso do processo, cárcere privado e tortura.
“Eu espero que a Justiça seja feita, que os culpados, que inibiram o caso [sobre importunação sexual] de ir para frente, que sejam responsabilizados, porque tudo aconteceu comigo porque houve uma impunidade num período aí de três meses. Se não tivesse tido a impunidade, as coisas não teriam chegado a esse no nível que chegou”, finaliza.
Reportagem atualizada às 18h20.