Para humanizar atendimento, PCMS começa curso de repressão ao racismo 47314j
No ano ado, Mato Grosso do Sul registrou 41 casos de racismo, preconceito e discriminação e 471 por injúria por discriminação 1c5y5n
Mas quando é noite de luar
Tem gente que já viu em meio à plantação
Um negro levando um menino louro pela mão
Os dois correndo pelo campo
Vão deixando um rastro de luz sem igual
Um rastro de um amor no meio do canavial
A letra da canção de Chrystian & Ralf, Olhos de Luar, retrata a morte de um peão negro que se apaixonou pela filha do patrão. “A honra se lava com sangue” e assim, o racismo fez mais uma vítima do Brasil.
O crime brutal descrito na música, foi lembrado pelo secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, na abertura do primeiro curso de Repressão aos Crimes de Racismo e Injúria Racial da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, realizado na manhã desta segunda-feira (31), em Campo Grande.

O curso surge em homenagem ao deputado estadual Amarildo Cruz, que morreu em março deste ano e tinha como uma das suas principais bandeiras a igualdade racial. “Ano ado chegou a nós uma demanda do Amarildo solicitando a criação de uma delegacia específica para investigar os crimes de racismo”, contou o delegado-geral, Roberto Gurgel.
Como a pouca demanda no estado, a primeira medida foi concentrar a investigação em uma única delegacia, a DEOPS (Delegacia Especializada de Ordem Política e Social). Em 26 de janeiro deste ano surge então a Seção de Investigação de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.
“Mas os crimes de racismo não acontecem só na capital. O segundo o foi esse curso”, reforçou Gurgel. Segundo o delegado-geral, a intenção é capacitar policiais civis de todo o estado para atender e acolher as vítimas de racismo em todas as delegacias de Mato Grosso do Sul. “É um momento histórico, é o primeiro curso com essa temática na Polícia Civil de Mato Grosso do Sul”.
Durante o curso, os policiais vão estudar sobre o racismo estrutural, formas de racismo, vão analisar casos registrados e trabalhar práticas da polícia civil em relação a população negra, incluindo a maneira de escrever, os termos que devem ser usados nos boletins de ocorrência. Para isso as aulas contarão com a colaboração de vários setores e também do movimento negro.
“É a primeira vez que chegamos a Polícia Civil. É algo que nós como pessoas negras identificamos há anos. É muito significativo para mudança de pensamento”, reforçou a subsecretária de políticas públicas para promoção da igualdade racial, Vânia Lucia Baptista Duarte.
Ao fim da cerimonia de abertura, o secretário de segurança, Antônio Carlos Videira, revelou a intenção de expandir o curso para a Polícia Militar e para o Corpo de Bombeiro.
“Aqui, sugiro capacitar os policiais militares e bombeiros militares para atendimento no momento da ocorrência, capacitar para que não haja abordagens seletivas pela cor. Que possamos ter na segurança pública a humanização do atendimento, mas, principalmente, o respeito a cada humano que tem por trás de um boletim de ocorrência, de um laudo pericial”.

Dados no estado 1d242n
Segundo balanço divulgado pela Polícia Civil, Mato Grosso do Sul, no ano ado, registrou 41 casos de racismo, preconceito e discriminação e 471 por injúria por discriminação. Em 2021, os números foram um pouco menores, 16 e 313, respectivamente.
Já na Capital foram 15 casos de racismo, preconceito e discriminação, no ano ado, e 179 de injuria por discriminação. Já no ano anterior, foram registrados 9 boletins por racismo e 124 por injúria.