Pacas: esquema de advocacia predatória trata vítimas como animais numa caça 4b1k4p
Os aliciadores eram os paqueiro do grupo– nome dado ao cachorro usado na caça do animal silvestre 2oy
Alvos de um esquema criminoso de advocacia predatória idosos e pessoas com deficiência – geralmente pobres e iletrados – eram chamados de pacas e caçados pelo grupo em todo o país. Durante as ações de campo da operação “Arnaque”, realizada na quarta-feira (5), “caixas e caixas” com dados de clientes foram apreendidas nos escritórios da banca chefiada por Luiz Fernando Cardoso Ramos, que tem unidades espalhadas por vários estados brasileiros.

Foi justamente a dimensão do acervo de cliente do advogado Luiz Fernando Cardoso Ramos que impressionou, conforme a apuração do Primeira Página. Dono de escritórios por todo o país, o principal alvo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) mantinha sua sede em Iguatemi e foi na cidade a 394 quilômetros de Campo Grande que as equipes apreenderam diversas caixas com cadastros das vítimas dos golpistas.
Conforme a investigação jornalística, os documentos foram encontrados no escritório de Luiz, da sócia dele, Iolanda Michelsen Pereira e de Alex Fernandes da Silva – os três foram presos preventivamente na quinta-feira. Eram procurações e documentos, cópias de documentos, planilhas e listas de pessoas.
Houve apreensão de dinheiro, além de armas. Em apenas um lugar, foram R$ 38 mil.
A defesa do advogado deve se manifestar sobre as acusações, por nota, ainda nesta sexta-feira (7).
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Os promotores do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) estão catalogando todo o material, para descobrir como o grupo conseguiu a lista de vítimas. A suspeita é de que compraram os nomes de brasileiros que recebem benefícios do governo ou que o banco de dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) tenha vazado.
Fato é que com as informações de pessoas em vulnerabilidade nas mãos, os advogados mandavam aliciadores convencerem as vítimas procurações em branco, que mais tarde eram alteradas para dar pleno poder aos líderes do esquema.
Esses aliciadores eram chamados pelo grupo de paqueiro – apelido dado ao cachorro usado na caça de paca. As vítimas eram consideradas as pacas
Grande parte dos escritórios de Luiz Fernando sequer tinham advogados. Eram cuidados por gerentes, contratados exclusivamente para lidar com os paqueiros.
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Depois que as vítimas eram convencidas a os documentos, eram usadas como requerentes em ações de indenização contra um mesmo banco ou empresa de grande porte. Os clientes, no entanto, sequer sabiam dos processos e quando a sentença era favorável os advogados não reavam os valores.
Quando reavam, aplicavam uma planilha de honorários que chegava a 80% de retenção do valor pago pelos bancos.
Sete advogados envolvidos no esquema foram presos. Em Mato Grosso do Sul todos foram transferidos para as celas especiais da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil – Mato Grosso do Sul). Os outros presos permaneceram nas delegacias das cidades em que foram encontrados.
Dos 39 mandados de prisão expedidos pela justiça de Campo Grande, apenas dois não foram cumpridos, segundo o levantamento do Primeira Página.