Oportunistas ou obcecados: abusadores de crianças têm perfil 5y2n22
Criminosos em potencial costumam dar sinais; vítimas do crime também dão indícios quando algo está errado, mas, em ambos os casos identificar o problema não é simples 2z4u15
Mato Grosso do Sul assistiu, no intervalo de um mês exatamente, a dois crimes bárbaros, envolvendo morte de crianças, duas Sophias, vítimas de agressões e abuso sexual. Para além dos aspectos policiais e de justiça, as duas situações abrem perguntas sobre o que faz um ser humano ter atitudes assim, principalmente com meninas ainda na fase inicial da infância.

Nem todo abusador de criança é pedófilo e nem todas as pessoas com esse tipo de transtorno praticam crime.
Ana Lara Camargo de Castro, procuradora de Justiça
A explicação é da procuradora de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, Ana Lara Camargo de Castro, uma estudiosa do assunto.
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Ana é Master of Laws em Criminal Law pela State University of New York, especialista em psicopatologia e saúde mental, em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública com Direitos Humano, licenciada em Ciências Sociais e História, formada em Psicanálise Clínica e autora dos livros: Plea Bargain – Resolução Penal Pactuada nos Estados Unidos; Stalking e Cyberstalking; Exposição Pornográfica Não Consentida na Virtualidade; e Perversão, Pornografia e Sexualidade.
Segundo ela, existem perfis de abusadores, mas a identificação não é tão simples.

Casos recentes como os das meninas Sophia, uma de Campo Grande e outra de Douradina, que além de terem sido vítimas de maus-tratos também sofreram violência sexual até a morte, despertam um alerta: é possível identificar agressores em potenciais antes que os crimes aconteçam? Estudos indicam ser uma tarefa difícil, e orientam estar atento a sinais.
Oportunistas ou obcecados 17344p
Ana Lara explica, com base em estudos, que em linhas gerais há dois perfis de abusadores de crianças: os preferenciais e os situacionais. No primeiro caso, “manifestam desejo obcecado e centrado em crianças”. São aqueles que premeditam o crime, aliciam menores pela internet, tentam fazer amizade com as vítimas. Os situacionais, no entanto, “não apresentam preferência sexual definida por crianças, são oportunistas e predam para mera descarga sexual, valendo-se, sobretudo, da facilidade de o a alvos indefesos”.

O caso de Isadora Araújo Martins exemplifica a atuação de um agressor situacional. A menina de 10 anos estava sozinha em casa com os irmãos de 3 e menos de um ano quando um dos clientes da mãe, que é garota de programa, chegou e, sabendo que a porta dos fundos da moradia estava protegida apenas por uma máquina de lavar, invadiu a casa, estuprou a menina e a espancou até a morte. Ele está preso.
Nem todo abusador é pedófilo v6u4n
Maykon Araújo Pereira, de 31 anos, preso por estuprar e matar a menina tinha agens na polícia por violência doméstica e roubo. Não é possível afirmar que ele é pedófilo, mas, ele é um exemplo claro de que homens que praticam violência doméstica contra mulheres frequentemente também menosprezam e agridem meninas.
Christian Campoçano Leitheim, de 25 anos, preso sob a suspeita de ter matado a enteada Sophia também tinha agens na polícia por violência doméstica contra a ex-mulher.

“Há muita confusão quanto ao termo pedofilia que, em verdade, trata-se de um transtorno parafílico”, resume Ana. Em outras palavras, o pedófilo tem um fixação, um desejo obsessivo com excitação exclusivamente ou preferencialmente por crianças.
Nem todo abusador é pedófilo, ou seja, estupra em decorrência de transtorno parafílico pedofílico. A maioria dos estupradores de crianças e adolescentes não possui esse transtorno identificado, não deseja especificamente pessoas nessa faixa etária, e se encontra justamente em uma das possíveis categorias de abusadores situacionais. Há também pessoas com o transtorno que não praticam crime, pois, jamais atuam concretamente nesse desejo. A procuradora ressalta que o fato de ter o transtorno não afasta a responsabilidade penal.
O perfil violento 1s1i29
Em se tratando das semelhanças entre o agressor no âmbito da violência doméstica e no campo dos crimes contra as crianças a agressividade é o comportamento mais comum.
Quando se trata de violência contra as mulheres eles costumam xingar, ameaçar, monitorar as atividades das companheiras, controlar o dinheiro, antes das agressões físicas.

Se a violência dos abusadores está voltada para as crianças, os sinais mais claros são os castigos físicos impostos que normalmente têm requintes de crueldade.
“Quando o potencial abusador é prontamente identificável e o comportamento violento é patente, a criança precisa ser protegida de imediato. O convívio necessita ser descontinuado”.
Sinais das vítimas 6qe24
A procuradora lamenta que muitas vezes a violência ocorre dentro de casa e alerta para os sinais que crianças vítimas de abusos físicos ou sexuais podem apresentar.
Em se tratando do comportamento alguns sinais de alerta são:
- prática de agressões;
- ruptura de relacionamentos;
- delinquência;
- transtornos de alimentação;
- hostilidade;
- hiperatividade;
- perda de confiança;
- mentira;
- fobia;
- fuga de casa;
- postura sexualizada;
- problemas de sono
- automutilação.
Alguns sinais físicos são:
- sangramentos ou lesões na região genital e anal;
- dificuldade de caminhar;
- coceiras na região genital ou anal;
- significativo ganho ou perda de peso.
Quando se trata de manifestações emocionais é preciso prestar atenção quando a criança ou adolescente apresenta os seguintes sinais:
- ansiedade;
- raiva;
- angústia;
- sentimento de culpa;
- depressão;
- baixa autoestima;
- autodepreciação;
- vingança;
- isolamento.
Quando se trata de abusadores dentro de casa a criança apresenta sentimentos conflitantes. “Não raras vezes a reação emocional será de simpatia ou pena”, finalizou a procuradora.
