Operação Codicia: policiais pediram R$ 20 mil para devolver caminhão recuperado na fronteira 1o2y3u
Investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) revelaram detalhes do esquema de corrupção “implantado” na 2ª Delegacia de Polícia Civil de Ponta Porã – cidade a 295 quilômetros de Campo Grande – por um grupo de policiais que na manhã desta segunda-feira (25) foram alvos da Operação “Codicia”.

Ao todo, nove pessoas foram presas na ação, quatro delas são integrantes da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul. Detidos em Ponta Porã, os suspeitos foram trazidos para duas unidades policiais de Campo Grande: a 3ª Delegacia de Polícia Civil e o Garras (Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros). Nesta terça-feira (26) aram por audiência de custódia.
Os crimes praticados pelos policiais foram descobertos após vítimas de roubo serem forçadas a pagarem para retirar um caminhão trator recuperado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) do pátio da delegacia. Inicialmente, o grupo pediu R$ 20 mil para devolver o veículo, sem ter como entregar todo o valor, o casal reou o que tinha em conta, cerca de R$ 5 mil.
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O esquema 6e1p69
Segundo as investigações, no dia 5 de abril o caminhão do casal foi roubado no município de Queimados, interior do Rio de Janeiro. No dia seguinte, policiais rodoviários federais conseguiram interceptar os bandidos que tentavam levar o veículo para o Paraguai.
O caminhão já chegava na fronteira quando foi recuperado e por isso acabou levado para o pátio da 2ª Delegacia da cidade. Os donos foram avisados e viajaram de Santa Catarina até Ponta Porã. Já no município, foram orientados a procurar uma escrivã da delegacia, que hoje está aposentada.
Por WhatsApp, a escrivã pediu para o casal ir até a unidade. Lá, eles foram recebidos por outros três policiais: um escrivão, um investigador aposentado e outro investigador da delegacia.
Conforme os relatos, foi o escrivão que exigiu o dinheiro. Afirmou que para pegaram a chave, as vítimas precisavam deixar um “agrado”. Elas ofereceram pouco mais de R$ 300 e foram tratadas com desdém pelo policial. Ele então avisou que, por ordem do delegado, o casal deveria pagar R$ 20 mil para ter o caminhão de volta.
As vitima explicaram que não tinham dinheiro, mas não teve jeito. Assustados com a situação, tiraram todo o dinheiro que tinham em conta, R$ 4 mil e deixaram em cima da mesa do escrivão. Depois mandaram mais R$ 1 mil por Pix na conta do policial e foram orientados a enviar mais dinheiro para a escrivã que “ajudou a liberar os documentos”.
O casal ficou horas na delegacia e viram que depois de entregarem o dinheiro os funcionários da unidade começaram a aparecer com caixas de cerveja e carne, como se preparassem um churrasco. Para o Gaeco, as vítimas afirmaram que entenderam que eles usaram o valor da propina para fazer festa na delegacia.
Só depois de entregar tudo o que tinham, as vítimas conseguiram liberar o caminhão. Assim que pegaram a chave, perceberam que vários órios do veículo – como pneus, catracas, enfeite no para-brisa e a antena de um rádio amado – haviam desaparecido. Comparando com fotos enviadas pela PRF, o casal constatou que os objetos sumiram na delegacia.
Os donos do caminhão chegaram a questionar o escrivão, que culpou a empresa de guincho e se irritou com a possibilidade das vítimas pediram uma investigação sobre o assunto. Constrangidos com a situação, resolveram ir embora.
Já em casa, receberam uma mensagem do escrivão, uma imagem com os dizeres “qualquer pessoa que nunca cometeu um erro, nunca tentou nada de novo”. Em depoimento, afirmaram que entenderam o recado como uma ameaça para manterem o silêncio sobre o caso.
Além dos quatro investigados, um dos delegados na unidade foi alvo da operação. Conforme apurado pela reportagem, ele não foi preso, mas teve o celular apreendido. O delegado que assinou a entrega do caminhão após pagamento de propina não foi preso.

Tráfico de drogas 194s25
Também ficou demonstrado, conforme o Gaeco, a existência de uma associação para o tráfico, cuja droga comercializada era, algumas vezes, retirada do depósito da Delegacia de Polícia por um escrivão de polícia e reada aos seus comparsas para a revenda.
Durante as ações, equipes do Gaeco apreenderam mais de R$ 100 mil em dinheiro com os policiais investigados.