O alerta de quem ficou 4 h sob mira de tesoura: eles dizem que amam, mas matam 4bm8
Ao Primeira Página, vítima contou como tudo ocorreu e fez alerta importante às mulheres que vivem relacionamento abusivo 31705g
“Achei que minha vida ia durar só mais aquelas quatro horas”, assim resume o que viveu a mulher feita refém pelo companheiro em um apartamento do bairro Paulo Coelho Machado, na madrugada do último domingo (10), em Campo Grande.
Apesar de a união estável ter sete anos, foram necessárias poucas horas para a relação ruir e quase resultar em tragédia. Ao Primeira Página, ela conta que o então marido havia ado os dois últimos dias consumindo cocaína.
Na noite de sábado (9), entrou em casa e por volta da meia-noite invadiu o quarto em que ela estava dormindo. Com uma tesoura em mãos, anunciou que a faria refém até que acionasse o Corpo de Bombeiro para levá-lo. Queria se recuperar, pois, em seu imaginário sob efeito da droga, estava sendo perseguido.
A vítima acatou o pedido. Ligou uma, duas, três vezes para os bombeiros. Duas horas depois a Polícia Militar chegou ao local. “Eu ei aquelas duas horas achando que iria morrer”.
“Eu ei aquelas duas horas achando que iria morrer”.
Vítima de violência doméstica
Pavor familiar 412g51
No quarto ao lado estavam duas crianças, de quatro e cinco anos, além de sua filha e genro. Todos levados para fora do apartamento pelos agentes, assustados por serem ‘pegos de surpresa’.
“Em momento algum ele [o agressor] sinalizou que iria ao outro quarto. Me pedia para falar baixo para não acordar ninguém, inclusive”.
Ao perceberem a gravidade, os PMs solicitaram a presença de um negociador, mas, mesmo com uma voz experiente em sequestro e cárcere, foi preciso mais duas horas de negociação até que a mulher fosse solta. Entre uma ameaça e outra, um lapso de sanidade o fez cair em si e soltá-la.
Segundo relata, o companheiro ou a sentir muita sede em determinado momento e à polícia disse que liberaria a esposa se lhe dessem água. Na primeira vez foi blefe. Na segunda, titubeou e a vítima tentou se desvincilhar.
Acabou caindo e machucando o rosto, marcado até agora. “Foi aí que comecei a ficar gelada. Eu estava somente com a parte de baixo do pijama porque a de cima ele tinha embolado para me fincar a tesoura. Falei para ele que iria infartar, que ele acabaria me matando de qualquer jeito”.
A fala surtiu efeito. O rapaz pediu que a polícia chamasse socorro para atendê-la e, após certa resistência, a soltou. “A equipe já estava pronta para me atender e me levou para o hospital”.
Os ferimentos continuam aparentes. Rosto com hematomas devido aos três socos que levou, nariz e bocas ralados pela queda na tentativa de fuga, além de muitas marcas nas mãos e nos seios. “Mais de 100 mini perfurações da tesoura”, conta ao erguer a blusa e mostrar o estado do corpo.

Emocionada por relembrar horas tão duras, ela, que conta ser bastante religiosa, rogou a Deus. “ei uma coisa que não desejo para ninguém. Nenhum calmante consegue fazer eu me acalmar. Eu falava o tempo todo com Deus, que não deixasse minha morte ocorrer pelas mãos do inimigo. Pedia para ter uma morte digna, pedia pra Deus me salvar”.
Aos 51 anos, a mulher diz que jamais havia ado por nada parecido, nem mesmo dentro da relação que mantinha com o homem, 29 anos. Discussões acaloradas fizeram parte do viveram, somente isso. Hoje, após o filme de terror que protagonizou, entende que qualquer indício é fagulha que pode iniciar um incêndio de grandes proporções.
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“Em 24 horas todo o meu pensamento mudou. Eu sou a vítima, mas sinto vergonha, medo e dor no meu corpo inteiro. Isso tudo por causa de uma pessoa que dizia me amar, foi esse o pagamento que recebi”.
Moradora do 4° estado no triste ranking do feminicídio, segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ela aconselha quem está num relacionamento minimamente abusivo.
“Se ele diz que te ama, mas implica com sua amizade, com sua família, com sua roupa, tentar ter posse, domínio do que é seu, não é amor, é um narcisista, um monstro. Porque amor ele é feito de coisa boa”.
