Não existe contato sexual em rituais religiosos, afirmam sacerdotes 3y5i72
Apesar da versão apresentada pelo suspeito à polícia, quem exerce de verdade a fé nos orixás afirma categoricamente que não existe nenhum tipo de contato sexual nos rituais de purificação energética 442k71
A prisão de um suposto guia espiritual pelo estupro de uma adolescente de 15 anos nessa segunda-feira (21), reacendeu a discussão sobre os rituais praticados nas religiões de matriz africana. Apesar da versão apresentada pelo suspeito à polícia, quem exerce de verdade a fé nos orixás afirma categoricamente que não existe nenhum tipo de contato sexual nos rituais de purificação energética.

O caso que veio à tona depois que a vítima contou a mãe sobre o estupro. A menina deu detalhes dos momentos de terror que viveu dentro de uma “sala reservada”, onde ela foi atendida pelo sacerdote de 63 anos. Revelou que teve as roupas afastadas, foi tocada e por fim, forçada a ficar com a mão nos órgãos sexuais até o homem ejacular.
No depoimento à polícia, o líder religioso afirmou que não lembrava do atendimento, mas “explicou” que o contato físico durante transferência de energia é comum, que “o espirito incorporado retira a energia negativa de espíritos obsessores pelas partes íntimas” e alegou inda que a vítima estava “carregada”.
É justamente essa “justificativa” do suspeito que vai contra os princípios e ensinamentos das religiões africanas, que tem como base o respeito ao próximo.
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Para entender o rito correto, o Primeira Página conversou com três sacerdotes, ligados a umbanda e ao candomblé. Todos reforçaram a mesma coisa; aproximação física pode até acontecer, durante os ritos de limpeza espiritual, mas ficam s a cabeça, ombro, costas, barriga, mas nunca contato sexual ou forçado.
“Não existe no Candomblé, na Umbanda e nem tampouco em qualquer segmento de matriz africana, prática litúrgica que envolva contato íntimo entre adeptos. Como toda e qualquer religião, as de matriz africana são voltadas ao bem estar espiritual das pessoas”, reforçou o babalorixá campo-grandense, Lucas de Odé, que hoje é dirigente do Ilê Iyeiyeo Axé Odé Inlé em São Paulo.
Segundo o coordenador do grupo Xamânico Atabaque de Ogum, Fábio Sarzi, não é preciso que haja contato físico em qualquer cerimônia ritualística, já que todo o trabalho feito é espiritual e energético. No entanto, existem alguns casos em que as entidades encostam superficialmente para fazer a limpeza, sem necessidade de qualquer contato “mais profundo”.
É o que também explica a influencer de religiosidade, Dandafeomi – nascida e criada em uma família umbandista e que atualmente foi iniciada no candomblé. Ela explica que nas duas religiões há ritos de limpeza, a exemplo do e, em que há o toque. No candomblé, um dos ritos pede que substâncias sejam adas no corpo da pessoa – pernas, braços e até barriga – no entanto, isso geralmente é feito na frente de outros filhos da casa e jamais com toque íntimo.
“Posso afirmam com você com propriedade que não existe nenhum ritual, tanto na umbanda, como no candomblé, onde tenha algum ato libidinoso, onde exista a prática de relação sexual ou até mesmo onde o sacerdote, o pai de santo ou a mãe de santo, a a mão das partes íntimas de alguém. Isso não existe, não é aceito”.
Os danos 2r341x
Para os líderes religiosos, o homem preso nesta madrugada é apenas mais um que usa da fé dos outros para cometer crimes. O problema, contam, é o desgaste na imagem as religiões de matriz africana, que ainda hoje sofrem preconceito por grande parte da população.
“Minha religião já é historicamente marginalizada por ser prática ancestral de pretos e quando acontece um caso desses, que é ato isolado de um charlatão, o racismo religioso só cresce. Tenho certeza que assim como eu, todo religioso de matriz africana aguarda que a justiça seja feita se o crime se confirmar”, desabafou o babalorixá campo-grandense, Lucas de Odé.
Dandafeomi lembra que as pessoas que procuram a religião geralmente quando estão com a cabeça desequilibrada e o coração aflito. Nesse momento, precisam de acolhimento, mas na prática, o que se vê Brasil a fora, é quem usa as religiões – todas elas – para se aproximar, ter domínio e tirar vantagem da fé dos outros.
“Isso só mostra o quão ele não tem carácter e o quanto ele não representa nenhum de nós líderes religiosos que estamos aqui todos os dias lutando contra a intolerância religiosa, lutando para ser respeitado pela sociedade, que até hoje é extremamente preconceituosa para conosco. Isso acaba prejudicando muito quem leva a religião a sério”.
As investigações do caso estão sob responsabilidade da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), que deve apurar também se outras mulheres que frequentavam o local foram vítimas de abuso ou qualquer tipo de crime sexual. A orientação da polícia é denunciar atitudes como o do suposto líder religioso, que foge do fundamento religioso.
“Eu gostaria de fazer um apelo para as pessoas que não conhecem, que não entendem nossa religião, das religiões de matriz africana, para quem não possui um entendimento de como é o ritual de como é a prática da nossa fé, da nossa persistência, da nossa resistência com o ar do tempo, gostaria de dizer: não tomem isso como verdade, nosso culto não é isso, esse homem não nos representa, e eu espero de verdade que xangó cobre a justiça dele e que ele pague diante da justiça dos homens e do sagrado, a atrocidade que ele está fazendo, não só com a vida dessa menina, mas com a imagem da religião”, reforçou Dandafeomi.