"Imperícia e imprudência": especialistas em Segurança avaliam ação de delegado 5n5759
Especialistas em Segurança Pública disseram o que nenhuma outra autoridade do Estado pontuou sobre o caso x1858
Imperícia e imprudência. São estas as primeiras afirmações de especialistas depois de verem os vídeos da abordagem do agora delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Adriano Garcia Geraldo, a uma jovem motorista depois que ela mostrou o dedo do meio a ele.
O caso, que teve perseguição e tiros disparados pelo delegado geral ao carro da jovem, aconteceu na última quarta-feira (16), na Avenida Mato Grosso.
O Primeira Página reproduz duas entrevistas realizadas pela TV Morena com especialistas em Segurança Pública que dizem o que nenhuma outra autoridade do Estado falou sobre o caso.
Depois de ver as imagens da abordagem, a antropóloga, professora do Departamento de Segurança Pública da UFF (Universidade Federal Fluminense), Jacqueline Muniz avaliou como pesquisadora de políticas públicas de segurança.
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Visão dos especialistas em segurança 6k3n5b
“A primeira coisa que se pode dizer é que a abordagem do ponto de vista logístico foi imperícia e do ponto de vista tático, foi uma imprudência”, sustenta.
A pesquisadora explica que o juízo de oportunidade da ação do delegado estava inadequado e o juízo de propriedade, ou seja, dos meios empregados para a ação também estavam inadequados. “O modo da ação não corresponde a uma disciplina tática qualificada para a ação de polícia. Temos que lembrar que a forma de ação e o recurso usado pela ação implicou em uso excessivo de força”, completa.
Questionada sobre qual seria então o procedimento mais adequado, Jacqueline Muniz explica que tudo depende da doutrina adotada pelas polícias no Estado de Mato Grosso do Sul, mas frisa que é fundamental que os protocolos sejam públicos e de conhecimento da população.

“Todo e qualquer protocolo de atuação que não é validado pela sociedade, Ministério Público e Defensoria Pública sofre de alegalidade produzindo insegurança, seja para o policial seja para o cidadão. Quer dizer que em vez da polícia prover segurança e produzir previsibilidade e regularidade na sua atuação, ela acaba esquentando a chapa”, descreve.
A cena vista pela especialista mostra não só um uso “inadequado do poder de polícia”, como também levanta a questão de que “o poder não é do policial”. “O poder de polícia é da sociedade, e é fundamental que a sociedade siga questionando os modos de emprego de força”, pontua.
Para a professora, fica claro que o então delegado-geral da Polícia Civil faz “muito mais o exercício da sua própria razão do que os padrões praticados e adequados à Polícia”.
Quanto ao uso do giroflex, alegação feita por Adriano Garcia, de que estava identificando ser uma autoridade, Jacqueline Muniz fala que a sinalização acoplada na parte da frente do carro é insuficiente. Também em relação aos disparos, a professora é enfática.
“Já está provado que como tática de imobilização, dar tiro em carro produz desordem pública. Você atira num pneu e esse carro vai perder a direção. Pode bater em outro carro, maximizando a vitimização. Não é dessa forma que você produz um cerco tático”.
Em tempos de flexibilização de armas, a pesquisadora vê com mais preocupação a abordagem dentro do contexto. “Atirar qualquer um pode fazer. Que garantia o cidadão tem que um carro com giroflex ligado que pode ser de segurança privada, segurança privada ilegal, um sujeito que colocou aquilo para brincar de polícia. Isso não garante, não explicita que se trate de uma voz de comando, de uma autoridade pública.
Diante do fato da motorista de 24 anos não ter parado e ficar dentro do veículo, Jacqueline Muniz completa dizendo que ali poderia ser desde um miliciano a um traficante e até um golpe.
“A cidadã que experimenta a insegurança não tem porquê parar e aguardar para saber depois que rolou que se tratava de uma autoridade policial ou de uma prática machista, misógina que poderia vulnerabilizar ainda mais uma mulher”.
Abordagem “toda errada” 3z4s56
Na visão do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, existiam outras formas de ser feita a abordagem. O primeiro ponto levantado pelo membro do fórum, Rafael Alcadipani é que a função de regulamentação de trânsito não cabe à Polícia Civil e sim à Polícia Militar.
“Ele poderia ter seguido esse carro com tranquilidade, chamado por apoio se ele soubesse que era uma coisa que tinha um risco, teria avisado a Polícia Militar que tem a função de regulamentar o trânsito. Parece que está tudo errado neste caso”, afirma.
Outro ponto é que desde a perseguição até a abordagem deveriam ter sido feitas com calma e parcimônia.
“Jamais ter disparado nos pneus do veículo, e quando for abordar ter mais gente com ele, não ele estar sozinho. O que me chama atenção também é conduzir uma pessoa para a delegacia na base de um testemunho. Fica a questão: até que ponto o delegado de plantão vai ter isenção para fazer essa investigação quando a gente está falando do número 1, da pessoa mais alta da Polícia Civil na segurança pública">Quero deixar minha opinião!