Fugitivo da Bahia fez paradinha de rico em Bonito a caminho do Paraguai 15635
André Márcio de Jesus ficou escondido em rancho de alto padrão, até ser preso na madrugada do Ano Novo 1w436r
Era dia de “Cosme Damião”, 27 de setembro de 2022. Às 13h30, “Buiú” deixava o Complexo Penitenciário de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador (BA), pela porta da frente. Estava com uma tornozeleira eletrônica para rastrear seus os. A desculpa para a saidinha, acolhida pela Justiça, era uma consulta médica. Vinte minutos depois, às 13h50, o detento em semiliberdade sumiu do mapa, destruiu o equipamento e abandonou no meio do mato.
Mesmo com tão pouco tempo, a tornozeleira já estava encapada por papel alumínio, gambiarra comum entre quem quer despistar a vigília eletrônica. Alertada, a polícia tentou em vão localizar o homem.

Corta a cena para a madrugada de 1º de janeiro de 2023, no paraíso chamado Bonito, um dos principais destinos turísticos brasileiros, em Mato Grosso do Sul. O lugar é definido pelo próprio nome, perfeito para quem busca paz, natureza, aventuras ao ar livre. Ou fuga dos olhos da justiça, como é o caso.
Ali, num rancho de alto padrão à margem das águas transparentes do rio Formosinho, cuja diária chega a R$ 3 mil, policiais civis interrompem a ressaca de uma noite de Ano Novo movida a bebida cara. Surpreendem “Buiú”, a mulher e mais uma dezena de pessoas, dormindo. Não há tempo para qualquer reação ou tentativa de usar os carrões estacionados para escapar.
Acaba a clandestinidade de André Márcio de Jesus, 39 anos. Interrompe-se a provável trajetória de ida para o Paraguai, refúgio de muitos criminosos brasileiros, que se aproveitam das fragilidades da fronteira entre os dois países para ficar entre lá e cá, boa parte das vezes usando uma nova identidade e persistindo na vida bandida.

André Márcio alugou o rancho usando documento em nome de Tiago Nambeiro Filho, nascido no Espírito Santo. Além do cumprimento das ordens de prisão já existentes, foi autuado em flagrante por usar documentação falsificada.
Para chegar ao Paraguai, considerando o destino da região de Ponta Porã e Pedro Juan Cabbalero, seriam mais 3 horas de viagem. O plano deu ruim graças à investigação da polícia baiana e à operação desencadeada ao nascer do ano pelos agentes de segurança sul-mato-grossenses.
Essa possibilidade está anotada nos autos relativos à prisão, como mais um elemento de convicção da necessidade de manter a prisão.
Buiú, de quem se trata? 1f381r
O personagem da Capivara Criminal deste domingo é traduzido pelas autoridades baianas como bandido perigoso. No “baralho do crime”, nome da lista dos mais procurados no estado nordestino, tinha a classificação de ás de copas, ou seja, estava no topo da lista.

Para a polícia, André Márcio de Jesus chefia facção criminosa local, o MPA (Mercado do Povo Atitude). Contra ele, existiam três mandados de prisão em aberto, todos por tráfico de drogas.
Pairam outras suspeitas: envolvimento em chacina e ataque a transportadora de valores.
O grupo MPA, diz o acompanhamento policial, é associado à maior máfia brasileira do momento, o PCC (Primeiro Comando da Capital), nascida em São Paulo, mas com estrutura em toda a América do Sul e tentáculos até na Europa, onde está a se estabelecer em Portugal, por exemplo.
Operação frustrada 6n4yu
Os quase cem dias de “Padaria” – outro apelido – como fugitivo foram um tempo complicado para as autoridades de segurança baianas. Era, por assim dizer, questão de honra capturá-lo.
A caçada ao chefe do MPA custou a vida de um suboficial da PM (Polícia Militar), em operação controversa ocorrida no dia 28 de setembro. Na data, equipe de policiais militares foi até Itajuípe (BA), a partir da informação de que o criminoso desaparecido um dia antes estava em uma pousada do município.
Aconteceu então algo inusitado, grave, ainda não explicado em detalhes: quatro policiais militares, fora do serviço, teriam reagido à abordagem dos próprios colegas e foram baleados. Dois deles eram do estafe de segurança do então candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (União Brasil), que teria agenda de campanha em Coaraci, município vizinho, no mesmo dia. ACM cancelou o compromisso.
Um dos baleados foi o subtenente Alberto Alves. Ele morreu na ação. Um militar sobrevivente, em seu depoimento, acusou a equipe de forjar uma troca de tiros.
O episódio está sob investigação da Corregedoria da PM da Bahia.
Perseguido 8666b
Com esse estrago deixado para trás, André Márcio de Jesus tornou-se um fantasma a ser encontrado por toda lei. Ao juízo da execução penal, sua defesa alegou, logo depois da quebra da tornozeleira, que ele fugiu para não ser morto.
Na descrição feita pelo advogado, policiais tentaram executar “Buiú” pouco tempo depois de sair do cárcere.
“A defesa informou que o sentenciado rompeu a tornozeleira eletrônica logo após ter saído da unidade prisional, em razão de ter sido perseguido por Policiais Militares que buscavam ceifar-lhe a vida”, informa a peça processual.
Em verdade, conforme os relatos oficiais do dia, logo após perceber a fuga, houve tentativa de recapturar “Buiú”, que conseguiu romper o cerco.
O pedido feito pela defesa – apesar de a origem do procurado ser a cidade turística de Porto Seguro (BA) e de as infrações imputadas a ele terem ocorrido na terra natal – foi para ficar custodiado em São Paulo, estado onde o PCC surgiu e domina o sistema carcerário.
Foi negativa a resposta vinda do Poder Judiciário.
“Diante dos fatos narrados, este Juízo concedeu o prazo de 72 horas para o apenado se apresentar em uma das delegacias de polícia desta comarca ou na própria unidade prisional de Lauro de Freitas e indefiro o pedido de apresentação do apenado em estabelecimento prisional no Estado de São Paulo”, traz o despacho de 5 de outubro de 2022.
Em razão da falta grave, o benefício da saída temporária foi suspenso.
Como se sabe, André Márcio de Jesus não cumpriu o prazo. Continuou sua fuga, até ser achado pelos policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), unidade de elite da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul. Os policiais cumpriram o mandado de prisão a pedido da 23ª Coorpin (Coordenadora de Polícia do Interior) de Eunápolis, responsável pela descoberta do esconderijo.
“A casa havia sido alugada para as festas de final de ano. Doze pessoas estavam no imóvel”, declarou o delegado Moisés Damasceno, chefe da 23ª Coorpin.

Capturado, o integrante de facção será recambiado de Mato Grosso do Sul para a Bahia. Isso ainda não tinha acontecido quando esse texto foi fechado. André Márcio de Jesus estava em uma cela do Garras, em Campo Grande, pois quando aconteceu a prisão, foi o espaço considerado mais seguro para evitar uma nova tentativa de escape, caso ficasse em um presídio ou cadeia pública no interior.
Outra preocupação, não itida oficialmente, porém identificada pela Capivara Criminal, tem em relação ao o a telefone celular, algo muito mais fácil no sistema prisional do que na unidade de elite da Polícia Civil.
“Convive com fezes” 4m3s3e
Se em outubro do ano ado, André Márcio queria apresentar-se às autoridades em São Paulo, agora mudou de intenção. Pediu à Justiça de Mato Grosso do Sul para voltar à Bahia. Na petição, o advogado Gabriel Resende alega problemas de saúde do cliente e necessidade de tratamento não oferecido na carceragem do Garras. Reclama, ainda, das condições do local.
“Acontece que, enquanto não ocorre a transferência entre estados do apenado, o mesmo permanece custodiado na Sede da Delegacia de Polícia do Garras, local que,mesmo temporariamente, não guarda qualquer condição de custódia por mais de 48horas, já que, não possui o mínimo de assistência, seja em condições estruturais sanitárias (vez que o acusado fica exposto a fezes e apenas uma vez a dia fornecem água para limpeza), alimentação (disponibilizada uma vez ao dia), materiais de higiene, de maneira mais incisiva, assistência médica e hospitalar que, no caso específico, o penitente possui diversas restrições por conta de tratamento contínuo.”
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Foram anexados laudos médicos, demonstrando que André Marcio tem problemas de estômago. Por ora, o encaminhamento da justiça sul-mato-grossense foi de requerer a manifestação da MPMS (Ministério Público Estadual) sobre o assunto. No mesmo despacho, a chefia do Garras foi instada a prestar informações sobre as condições de manutenção de presos no local.
Em contato com as unidades policiais de Campo Grande (MS) e de Eunápolis, na Bahia, a informação obtida é de que a transferência está sendo providenciada. São mais de 2 mil a percorrer. Por se tratar de um criminoso com histórico de pelo menos mais duas fugas, filiado a uma facção perigosa, capaz de tentar um resgate, os trâmites para o transporte do detento são sigilosos.