Fronteira da Bolívia tinha rixa entre policiais por apoio ao tráfico, denuncia Gaeco 5f33c
Delegados Fernando Araújo e Rodrigo Blonkowski. envolvidos em outros crimes, são apontados como líderes dos grupos 3l1c10
Depois de quase quatro anos de investigação, decisão judicial traz à tona um esquema de corrupção que funcionava dentro das delegacias de Corumbá e Ladário, de acordo com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado). Nas cidades que ficam ao lado da Bolívia, dois grupos distintos, liderados por delegados, recolhiam drogas das ruas, mas em vez de agir para responsabilizar os traficantes, revendiam a outros criminosos.

Não bastasse esse comportamento criminoso, os dois grupos eram rivais, conforme a investigação.
A história, mais uma daquelas que parece série de TV, reúne personagens conhecidos em Mato Grosso do Sul: de um lado está Fernando Araújo da Cruz Júnior, o delegado que matou um boliviano dentro de uma ambulância e foi condenado a mais de 16 anos de prisão. Do outro, Rodrigo Blonkowski, investigado por liderar um esquema de corrupção na delegacia de Ponta Porã, e que segue afastado do trabalho por determinação judicial.
As investigações contra os dois delegados e outras sete pessoas foram feitas entre 2018 e 2019, mas só no mês ado todos foram denunciados à justiça pelo Gaeco.
Ao longo de 38 páginas, os promotores detalham a investigação da Corregedoria da Polícia Civil, que em 2018 começou a interceptar as ligações dos envolvidos. Foram meses analisando o comportamento dos delegados e a rotina nas unidades onde trabalhavam.
A descoberta apontou a existência de dois grupos corruptos nas delegacias, que ainda por cima eram “concorrentes”.
Fernando, conforme a denúncia, contava com a ajuda do investigador Emmanuel Nicolas Contis Leite e de outros três comparsas: Daniel Pereira Sampaio, Luiz Adriano Rondon Martins e Valcir Ricardo Galharte. Contis foi processado por fraude processual em relação ao homicídio do boliviano Alfredo Rangel Weber, de 48 anos. Segundo a acusação, ajudou o ex-chefe, o delegado Fernando, a destruir rastros do crime na rodovia entre Corumbá e Puerto Quijarro, em solo boliviano.
Rodrigo, conforme a peça acusatória, tinha o próprio time: os investigadores Amando Yoshitaka Balancieri e Eduardo Alencar Batista, conhecido como Dudu. Armando já morreu.
O esquema 6e1p69
Pela descrição da denúncia do Gaeco, os dois grupos agiam da mesma maneira: identificavam traficantes e tomavam deles dinheiro, armas e drogas. Nada do que era apreendido entrava no boletim de ocorrência. Ia direto para a “casa” dos suspeitos, cita o trabalho dos promotores.
Além de ficar com o dinheiro e armas que deveriam ser confiscados pelo estado, os dois delegados revendiam as drogas apreendidas para outros traficantes da cidade. Para isso, pegavam cocaína de boa qualidade, “batizavam” e comercializam nas bocas de fumo “selecionadas”.
Ainda pagavam por informações sobre os criminosos que iriam “arrochar” e extorquiam as vítimas que avam pelas delegacias, diz o caderno de informações do Gaeco, baseado nos levantamentos da Corregedoria da Polícia Civil.
Ao longo das investigações, a polícia encontrou conversas entre os próprios investigados que comprovavam a existência dos grupos criminosos dentro da delegacia. Identificou, ainda, indícios de convivência bastante amistosa, incluindo pescarias registrada em fotos, entre policiais e traficantes.
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“Fernando Araújo da Cruz Júnior e Rodrigo Blonkowski, cada qual liderando seu grupo específico, se associaram com traficantes de drogas locais e Investigadores de Polícia Judiciária, a fim de praticarem o tráfico de entorpecentes na região, vendendo, oferecendo, transportando substância ilícita adquirida mediante subtração (drogas desviadas de operações policiais)”, traz o documento.
Segundo as apurações, Amando fazia o contato com os traficantes para Rodrigo. Dudu, por sua vez, monitorava as rodovias de Mato Grosso do Sul para que a equipe conseguisse abordar os suspeitos de tráfico e apreenderem as cargas transportadas por eles.
Consta ainda que Rodrigo, por mais de uma vez, fez pesquisar no sistema da polícia para descobrir se ele ou um dos investigadores eram alvo da Corregedoria. Por causa disso, perdeu o o exclusivo que tinha.
No grupo de Fernando, Emmanuel era quem falava com os traficantes. Valcir Ricardo, conhecido como Migucho, era o braço forte do delegado na rua, de acordo com o Gaeco. Era ele que vendia a droga para ele e para o investigador.
Na denúncia, o Gaeco ainda reforçou que os dois também usavam os cargos para outros crimes. Em um deles, Emmanuel encontrou dois traficantes e foi com Fernando a casa deles. Sob alegação de que o morador estava sob investigação, eles levaram R$ 3 mil reais, dois celulares, duas televisões, geladeira, micro-ondas e até uma cama. Nada foi documentado.
Ficha corrida 6ov5h
Os delegados Fernando e Rodrigo acumulam escândalos ao longo da carreira policial. Um foi preso em março de 2019 por homicídio e o outro em 2022 durante ações da Operação Codicia, para investigação de esquema de corrupção na delegacia de Ponta Porã.
Emmanuel está lotado na delegacia de Coxim – cidade a 239 quilômetros de Campo Grande – e recebe por mês pouco mais de R$ 5 mil.
Com a denúncia feita pelo Gaeco, os delegados e investigadores respondem por associação para o tráfico, peculato e violação do sigilo profissional. No documento, além da condenação de todos os envolvidos, os promotores pedem a perda da função pública e aposentadoria, dos policiais.
Chegou a haver pedido de prisão para todos, negado pela Justiça, em autos que estão sigilosos, conforme a reportagem levantou.
Antes a cargo da promotoria em Corumbá, a peça de acusação foi assumida pelo Gaeco, que apresentou a denúncia, recebida pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Corumbá, no dia 19 de abril.
Na fase de interrogatório na Corregedoria da Polícia Civil, os envolvidos negaram até os contatos que foram identificados por meio de escutas telefônicas.
As partes do processo por crimes previstos na lei de combate ao tráfico ainda não têm advogados constituídos, conforme a consulta ao sistema virtual do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), e por isso não foi possível localizar as defesas.
A reportagem não conseguiu falar com os dois delegados acusados de comandar o esquema. Um está preso, e o outro não foi encontrado nos contatos disponíveis. Como a denúncia foi recebida há pouco tempo, o processo ainda está na fase de citação, ou seja, de comunicação aos nove envolvidos de que estão sendo acusados oficialmente.