Amizade foi além de minutos finais ao lado de Vanessa Ricarte 3f394u
Amiga responsável por divulgar áudios conta como era Vanessa no dia a dia 2r2h23
“Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais”, trecho da letra de Belchior, eternizado na voz de Elis Regina, embala muitos casais, mas quem disse que uma amizade não representa um amor eterno? É nessa toada, olhando as fotos de uma década de amizade, que a jornalista Alessandra Izaac vai assimilando que o álbum com a amiga Vanessa Ricarte vai ficar, agora, no coração.

Responsável por trazer à tona os áudios que a amiga gravou momentos antes de ser assassinada a facadas pelo ex-noivo Caio Nascimento, ela conta como foi a última tarde ao lado da vítima. Mas, antes de narrar as cenas que insistem em povoar sua cabeça desde a última quarta-feira (12), se recorda de como esse “encontro de almas”, como ela mesma define, começou.
Vanessa estava em uma pauta de rua quando fez uma foto em que Alessandra aparecia. Na ocasião, não trocam palavra. “Mas eu já achei ela linda, inteligente. Na época, eu era estudante de jornalismo ainda, era formada somente em publicidade”.
Dois anos depois, ambas foram nomeadas como assessoras de imprensa no Município. Em secretarias distintas, porém sempre nos mesmos eventos, acabaram se aproximando e, de lá para cá, não se desgrudaram mais.
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Dentre os momentos vividos, um ficou marcado para Alessandra: a metamorfose trazida pela maternidade. Só quem tem um filho sabe que nem sempre as amizades ficam com a chegada dos pequenos. E Vanessa não só ficou, como a acompanhou durante a gestação e na difícil fase do puerpério.
Migrar da mesa do bar da vida solteira ao chá da tarde quando o bebê nasce não é para todo mundo.
“Ela ficou! Me deu apoio, me deu e. Ela falava que eu tinha feito tanta coisa por ela, então era a hora dela fazer por mim”.
Tanto que Vanessa era uma das madrinhas do pequeno Amin, hoje com pouco mais de dois anos. “As fotos que tenho com Amin, quase todas ela que fez”. Muito além de ar pelo desafio de se ver sem a amiga, agora cabe a Alessandra manter viva na memória de seu pequeno o quão presente a madrinha foi.
“E eu não vou deixar nunca ele se esquecer”. Amin, assim como a mãe, se despediu de Vanessa naquela fatídica tarde de 12 de fevereiro. Numa cronologia, a despedida, na verdade, havia começado no dia anterior, mas quem ali iria adivinhar?
“Ela sumiu por cinco dias. Nós (ela e o amigo que estava com Vanessa na hora do crime) começamos a estranhar. Então ela veio aqui e contou tudo que tinha vivido no período em que ficou sumida”.
A jornalista estava em espécie de cárcere privado. Caio a levava de casa para o trabalho. Do trabalho para casa. Monitorava seu celular com rastreador. Estava há cinco dias usando cocaína. Embora soubesse do problema com drogas, ele, até então, se dizia adicto.

A comunicadora nunca tinha presenciado algo assim, mas viu tudo ruir em menos de uma semana. O estopim foi a exposição de fotos íntimas dela, que culminou na primeira ida à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). O registro foi por injúria.
Vanessa dormiu no carro para não voltar para casa e, no outro dia, decidiu abrir o jogo com os amigos. Quando terminaram de ouvir o que mais parecia um filme de terror, foram firmes ao orientá-la a voltar à delegacia para acrescentar ao boletim de ocorrência toda a violência vivida nos últimos dias.
Mas, antes, Alessandra preparou comida à amiga. “Quando ela me disse que estava há cinco dias praticamente sem comer, meu coração apertou tanto. Ela escolheu o cardápio e comeu como se soubesse que era a última refeição”.
No suspiro de quem havia acabado de matar a fome e se preparava para dar fim ao relacionamento abusivo em que vivia, Vanessa, acompanhada do outro amigo, se despediu. Deu um abraço no afilhado, que chorava. Disse que no domingo (16) iriam comemorar o aniversário e a liberdade da madrinha.
“Ela saiu gritando ‘vai ser minha liberdade! Vou até mudar minhas senhas para liberdade, liberdade'”. De lá seguiu para Deam e o restante da história já é de conhecimento geral. A liberdade não chegou.
Alessandra soube do ocorrido praticamente simultaneamente ao crime. Foi para casa da amiga e por lá ficou até que a perícia fosse embora. Hoje, olhando com calma para trás, sabe que Caio fez tudo de caso pensado.

“Antes dela ir para a delegacia, ele mandou áudio dizendo que tinha feito comida e arrumado a casa, pedindo para ela voltar. Mas não era verdade, ele só queria atrair ela para lá. Eu vi a casa. Estava tudo sujo, comida queimada no fogão”.
Mas, do horror compartilhado nos últimos dias, Alessandra quer apenas fazer justiça à memória da amiga. A longo prazo, quer cultivar o que ficou de bom de uma década inteira vivida intensamente.
E se pudesse dizer algo àquela que a acompanhou por tanto anos, seria apenas
“amiga, fica comigo pra sempre">Quero deixar minha opinião!