Ilusão do “dinheiro fácil” alicia adolescentes para o tráfico de drogas 5150m
Adolescentes infratores contam como se envolveram com o tráfico e enfatizam que é preciso ter muita “força de vontade” para abandonar a criminalidade d7217
Um dos lados perversos do tráfico de drogas é como ele coloca crianças em situação de risco, conforme reportagem publicada pelo Primeira Página. Essa exposição não se limita aos menores de 12 anos. Muitos adolescentes também são colocados em situações de perigo em consequência da venda de entorpecentes. A diferença é que muitos deles entram nesse mercado ilegal pelos próprios pés.
Segundo dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), em 2021 foram registradas 4.429 ocorrências de tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul, número um pouco menor que os 4,6 mil do ano anterior. Parte destes casos tem participação de adolescentes.
Gabriel* se envolveu com o mundo ilícito porque “se inspirou” em outros jovens. Maria* foi convidada por uma “amiga”. Os dois adolescentes, de 17 anos, cumprem medidas socioeducativas na Unei (Unidade Educacional de Internação) Dom Bosco e Unei Estrela do Amanhã. Ao Primeira Página, contaram como cruzaram a linha de vulneráveis para infratores em busca de dinheiro, as consequências sofridas e as expectativas para deixar o mundo do crime.
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“Com 10 anos comecei a fumar maconha. Depois a gente começou a andar na rua e conheci o que era crime. Fui me interessando e acabei entrando”.
A declaração é de um adolescente apreendido pela primeira vez aos 13 anos. “Eu saí de casa e não queria saber de nada. Minha mãe colocou a polícia atrás de mim”, lembra Gabriel.
Após ter sido localizado pela polícia, foi levado para uma Unei. Disse ter “colocado a cabeça no lugar” durante um período, mas voltou a traficar e no ano ado foi novamente apreendido.
Sobre os motivos que o levaram à ilegalidade, indica serem os mesmos que dificultam a saída.
“Vou dizer bem a verdade: eles têm carro, moto, andam bem vestido. A gurizada se inspira nisso aí (sic)”.

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Maria se envolveu com o tráfico após ser convidada por uma amiga para um “corre”. Afirma que não sabia exatamente o que era, mas tinha convicção que não era algo legal. Na primeira vez conseguiu. Na segunda tentativa foi flagrada por policiais militares que entraram no ônibus em que ela estava e se surpreenderam com o peso da mala.
“O policial falou: você não consegue carregar essa mala, menina”, lembra.
A adolescente ou alguns dias apreendida e quando foi liberada disse ter procurado pelo traficante para fazer novo transporte da droga e “pagar” a dívida contraída após perder a carga anterior quando foi presa. Foi flagrada mais uma vez e encaminhada para uma Unei, onde está internada no momento.
Mãe de uma menina de 2 anos, ela afirma ter se envolvido com o crime para conseguir dinheiro para alimentar a filha, já que estava desempregada. “Minha filha está com a minha mãe agora. Ela pensa que estou viajando”, conta.
A entrada no tráfico h2go
Os dois adolescentes afirmam que os parentes não tinham ligação com a criminalidade e decidiram se envolver com o crime exclusivamente em busca de dinheiro. Assim como Maria, Gabriel afirma também ter vontade de deixar a criminalidade. “Mas precisa ter muita força de vontade”, diz.
A Superintendente das Uneis em Mato Grosso do Sul, Tatiana Rezende Nassar Cintra, reforça que um dos fatores que levam o adolescente a se envolver com o tráfico é mesmo a questão financeira. “A questão do adolescente ver o traficante ali com situação boa, com uma certa condição financeira faz ele querer se espelhar. A condição de extrema vulnerabilidade financeira também”, diz, reforçando que são vários fatores.
Conforme Tatiana, a mudança de cenário é fundamental para reverter o quadro. Em outras palavras, adolescentes que têm a chance de participar de cursos, conhecer outras realidades e depois serem inseridos no mercado de trabalho ficam menos vulneráveis a traficar novamente.
*Nomes fictícios para não expor os adolescentes.
Comentários (1) 3kf3p
Eu acho legal falar em o a educação, o problema é que tem muita gente qualificada sem trabalho e, quando tem, ganha muito pouco em trabalho precarizado por isso eu falo, tem que ter crescimento econômico e industrialização também pra absorver a mão de obra que pague um salário digno, moradia popular ou financiamento de imóvel ível, uma classe média ampla.