5 anos sem Dineia: a saudade de quem perdeu alguém vítima do feminicídio 6p1a5b
Dineia foi assassinada há quase cinco anos. Ela deixou dois filhos, pais e uma família que ainda tenta aceitar a morte cruel i117
A partir desta segunda-feira (7), o Primeira Página inicia uma campanha, um apelo à toda sociedade: basta! Basta de violência contra a mulher!
Só em janeiro de 2022, seis mulheres foram assassinadas em Mato Grosso em contexto de violência de gênero, ou seja, feminicídio. Essas mulheres sofrem dentro da própria casa. São constrangidas, coagidas, agredidas e mortas.

Dineia Batista Rosa, 35 anos, é uma das muitas vítimas do feminicídio. Faz cinco anos que ela foi brutalmente assassinada em Cuiabá pelo ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento de três anos. O feminicídio deixou marcas profundas na família e no casal de filhos dela.
Irmão da vítima, Ednei Rosa contou ao Primeira Página como tem sido a vida sem Dineia, os planos que foram interrompidos e como os pais dela buscam forças para viver sem a filha. Ela era a principal companhia dos idosos. Na época, estava organizando a mudança para a tão sonhada casa própria. Dineia acabou sendo morta exatamente no local onde havia planejado só felicidade.

Dineia e Edinei haviam dado um presente de Dia das Mães à matriarca: uma casa. Estava muito feliz por, enfim, sair do aluguel. Ela se organizou para, no sábado, ir ao local começar a fazer a limpeza e ver o que seria necessário para a mudança.
Ela foi surpreendida com a chegada de Welington Fabrício de Amorim Couto, que a matou por espancamento. Ela morreu ali, no dia 20 de maio de 2017, por volta das 8h. No laudo necroscópico, a causa da morte foi traumatismo craniano e asfixia mecânica.
Por volta das 17h do mesmo dia, a polícia encontrou Welington no bairro Três Barras e o prendeu em flagrante. Ele está preso, foi condenado a 12 anos em regime fechado.
Sonhos interrompidos 4nj42
Aos 35 anos, divorciada e com dois filhos pequenos, Dineia estava empenhada no sonho de dar uma vida melhor à família. Ela ou na faculdade de Direito entre os 10 primeiros classificados, e conseguiu ser aprovada em um seletivo para estágio no Fórum de Várzea Grande.
Seu foco ou a ser os estudos e o novo emprego. Ela sonhava com uma vida com mais qualidade para seus filhos e também poder ajudar os pais e familiares.
“Ninguém espera que possa acontecer uma coisa dessa. Ela era muito apegada aos meus pais. Era ela quem morava com eles, cuidava deles. Era trabalhadora, estudiosa e estava com grandes sonhos: de se formar na faculdade, prosperar financeiramente. Ela fazia tudo para os filhos, se esforçava para dar o melhor para as crianças”, completou.
O trauma 6m60
Dineia deixou dois filhos. O menino hoje tem 12 anos, e a menina, 11. Segundo o irmão, as crianças moram com o pai na cidade de Cáceres, a 217 km de Cuiabá, onde estudam e ainda tentam lidar da melhor forma possível com a ausência da mãe. Ednei conta que o adolescente sofre até hoje, já que ele estava próximo à cena do crime.
“Eu creio que o menino ficou com mais problemas emocionais. Ele estava na hora do crime. A menina estava na casa do pai, em Cáceres, e ele estava em Cuiabá morando com a mãe. Ele presenciou, e estava muito apegado com a mãe na época. Viu como tudo aconteceu. Ele viu na hora que o rapaz saiu da casa ensanguentado. Ele se desesperou, e aí minha mãe chegou e tirou ele de lá. Viram o assassino limpando as manchas de sangue e saindo naturalmente”, disse Ednei.

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Namorando o inimigo 4r4c13
Dineia conheceu Welington em 2014. Eles trabalhavam na mesma empresa, uma lavanderia no bairro Ribeirão do Lipa. Com a proximidade no emprego, eles começaram um namoro, que desde o início foi um pouco conturbado.
Apenas após o assassinato é que a família descobriu quem de fato era Welington. Ele já tinha cometido um outro feminicídio em 2008, e foi condenado a cinco anos de prisão após matar a ex-mulher, Danevimar da Silva Dias, de 23 anos. O crime ocorreu no residencial São Carlos, em Cuiabá.
“Ninguém sabia, mas ele já tinha um feminicídio. Ele matou uma ex estrangulada e chegou a arrancar os bicos dos seios. Depois tampou o corpo com jornal em cima da cama. Ele ficou preso cinco anos e saiu em liberdade condicional. Minha irmã não sabia do ado dele, e ficaram juntos por três anos”, disse.
Medida protetiva 3j3z26
Quase um mês antes de ser assassinada, Dineia registrou um boletim de ocorrência. Ela relatou aos policiais que estava sendo perseguida e ameaçada por Welington. Ele a jurou de morte e a seguia até na faculdade.
“Do dia que ela fez a denúncia até a morte, foi menos de um mês. O que mais a gente estranhou é que ela tinha medida protetiva, mas ele descumpriu e a polícia chegou a decretar a prisão preventiva dele. Ele foi no Fórum e na outra semana ele a matou. Não checaram nada. Se tivessem checado o ado dele, ele iria ficar preso. Mas ninguém viu nada e ele matou ela em um sábado na outra semana”, relembra o irmão.
Formas de denúncia c511e
Em todo o estado, há oito delegacias especializadas de atendimento às mulheres. Há também:
- Disque denúncia (197/181), 190 (Polícia Militar), aplicativo SOS Mulher.
- As denúncias também podem ser feitas pelos sites sosmulher.pjc.mt.gov.br e www.edenuncias.mt.gov.br.