12 assassinadas em 2022: morte de Eloisa repete filme triste do ciclo de violência contra mulher 9f39
O ciclo da violência tem três principais fases: Aumento de Tensão; Ato de Violência; e Lua de mel. 2t5r3v

A morte de Eloisa Rodrigues de Oliveira, de 36 anos, a 12ª vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul e a 3ª em Campo Grande em 2022 mostra a repetição do ciclo de violência contra mulher que, de acordo com as estatísticas, acaba nesse tipo de crime. O início do relacionamento perfeito, o começo das agressões, do ciúmes doentio, da manifestações violentas de prossessão, e o fim trágico deixando famílias órfãs.
Eloisa morreu por volta do meio-dia de quinta-feira (17), na Santa Casa de Campo Grande, depois de ar por uma cirurgia urgente por causa das quatro facadas na região do abdômen desferidas por Fabiano Querino dos Santos, de 35 anos, preso em Ribas do Rio Pardo, município a 86 quilômetros da capital, tentando fugir da polícia, que já tinha pedido a prisão preventiva dele.
Segundo uma amiga de Eloisa, cuja identidade será preservada, e que conviveu com o casal desde o início da relação no bairro do Lageado, tudo foi tranquilo até a mulher começar a trabalhar e ter de deixar os filhos do casamento anterior na casa da ex-sogra.
“Depois que a Eloisa teve que deixar os filhos aos cuidados da ex-sogra pra trabalhar, aí ele [Fabiano] foi tirando as máscaras com ciúmes e até proibindo ela de deixa as crianças lá, ou até de ar por perto da casa da vó das crianças”, contou a amiga.
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Essa atitude, segundo a psicóloga norte-americana Lenore Walker, é fase 1 do ciclo da violência, conhecida como “Aumento de Tensão”, que é quando o agressor mostra-se tenso e irritado por coisas insignificantes, chegando a ter os de raiva. Ele também humilha a vítima, faz ameaças e destrói objetos. A mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita e evita qualquer conduta que possa “provocá-lo”.
Na fase 2, ou “Ato de Violência”, a vítima mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle e tem um poder destrutivo grande em relação à sua vida, tem o sentimento de paralisia e impossibilidade de reação.
A amiga se lembra que Eloisa havia conhecido Fabiano três anos atrás num ponto de ônibus, em agosto de 2019, onde ela pregava mensagens de fé pela igreja evangélica que frequentava. Foram várias ocorrências de violência até chegar ao final trágico.

Com três meses de relacionamento, Eloisa procurou a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) por causa de agressões, injúrias e ameaças. De acordo com a delegada da Deam, Maíra Machado, o suspeito não demonstrou arrependimento e disse que não quis ficar batendo, por isso “apenas” matou.
Por fim, a fase 3 e última do ciclo da violência, também conhecida como “Lua de mel”, se caracteriza pelo arrependimento do agressor, que se mostra amável para conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e pressionada a manter o seu relacionamento, principalmente quando o casal tem filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, enquanto ele diz que “vai mudar”.
“Dizia que ele iria mudar, que estava trabalhando, que iria ajudar na casa, que ele estava na igreja e que nenhum homem se interessava por ela, só o Fabiano que ficava insistindo nela”, disse a amiga de Eloisa.
Baseado nesse ciclo, as mulheres que sofrem violência são incentivadas a falarem sobre as agressões que sofrem no relacionamento e não se calarem por causa de vergonha, medo ou constrangimento. Também trabalham na desconstrução da ideia de que a mulher permanece na relação violenta por gostar de apanhar, já que os agressores, por sua vez, constroem uma autoimagem de parceiros perfeitos e bons pais, dificultando a revelação da violência pela mulher.
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Segundo a polícia, o crime foi praticado na frente dos filhos de 5 e 9 anos, frutos do casamento anterior. Era na casa da avó paterna dessas crianças que Eloisa estava deixando os filhos para poder trabalhar. Além deles, há um bebê de 2 anos, do relacionamento atual com o suspeito. A vítima tinha outros três filhos não moravam com ela.
O relacionamento do casal era conturbado, segundo os amigos. Ela procurou a polícia em vários momentos. Ao todo, foram cinco boletins de ocorrência e duas medidas protetivas. Fabiano chegou a ser preso e usou tornozeleira eletrônica por cinco meses. Mas, no início de 2020, voltaram a morar juntos e as agressões continuaram.
Registos em 2022 332b6s
Casos de violência contra mulher registrados na Deam neste ano:
- Em janeiro, foram realizados 3.748 atendimentos e abertos 273 inquéritos, além de 277 inquéritos relatados. Também no primeiro mês do ano, foram expedidas 487 medidas protetivas e cumpridas 14 prisões.
- Em fevereiro, foram registradas 710 assistências a mais em comparação ao mês anterior e abertos 438 inquéritos e relatados outros 427. Foram cumpridos 20 mandados de prisão e feitos 471 pedidos de medida protetiva.
- Em março, a Deam já registrou 420 BOs de violência doméstica, mais da metade em comparação ao mês anterior – 721 em fevereiro.
