Síndrome de Diógenes – Vivendo com o lixo 13ln
Transtorno de acumulação pode estar associado a outras enfermidades psiquiátricas como ansiedade e depressão 5p25c
Marciliano aos 68 anos de idade perdeu a esposa, depois de quase cinquenta anos de matrimônio. ou a viver sozinho na mesma casa, que construíra após o nascimento de seu primeiro filho, hoje com 45 anos de idade. Depois desse filho teve mais dois meninos e duas meninas, todos casados e residentes na mesma cidade do pai.
Marciliano apenas mudou-se de quarto na casa e no antigo quarto do casal, manteve as coisas da esposa e nunca se desfez de nada, mantendo o quarto sempre fechado e chaveado. Logo após o falecimento de sua mulher, ele abria e mostrava o aposento aos filhos, mas depois de algum tempo deixou de fazê-lo.
Mais dois anos se aram e Marciliano também trancou o quarto de hóspedes e não permitia que ninguém o abrisse. Outros dois anos se foram e Marciliano fez isso com seu próprio aposento, ando a dormir na sala, mantendo os três quartos da casa trancados.
Os filhos que procuravam reunir-se na propriedade do pai aos domingos viam que algo estava errado, pois além dos quartos mantidos à chave, o pai perdera os cuidados básicos com a higiene e aparência pessoal; a casa estava suja e a diarista havia sido dispensada. Souberam pelos vizinhos que ele saía uma só vez por dia e retornava sempre com um saco, que retirava de dentro do carro, com alguma dificuldade, provavelmente pelo peso, para um senhor de 72 anos de idade.
Em determinado domingo, os filhos ao chegarem à casa do pai, encontraram-no com tosse, febre e alguma dificuldade para respirar. Levaram-no, a contragosto, a um pronto atendimento para avaliação médica e lá recebeu o diagnóstico de pneumonia, devido à covid-19, sendo internado mesmo contra sua vontade. Permaneceu dez dias hospitalizado, tempo suficiente para os filhos procederem a uma faxina geral na casa do pai, inclusive nos quartos trancados, depois de encontrarem as chaves.
Aí veio a surpresa: os cômodos eram verdadeiros depósitos de lixo, sem espaço para uma pessoa transitar no ambiente. Em todos, havia inúmeras peças velhas de eletrodomésticos, provavelmente encontradas no lixo, peças de veículos automotores, parafusos e até caixas vazias de supermercados. Um dos quartos continha ainda os pertences da mãe. Resolveram pôr tudo fora, exceto alguns objetos da mãe e assim que o pai voltou para casa, contaram-lhe tudo.
Marciliano mostrou-se visivelmente irritado, dizendo que os filhos não poderiam ter feito aquilo e que se comportava assim para manter a cidade limpa, pois a sujeira das ruas o incomodava. Com muito custo o pai foi levado a um psiquiatra que disse tratar-se de um transtorno de acumulação, neste caso também conhecido como Síndrome de Diógenes. Foi medicado, encaminhado à psicoterapia e orientado a ter a companhia dos filhos ou de cuidadores a partir daquele momento de sua vida.
No transtorno de acumulação existe a necessidade de alguém buscar e guardar diferentes objetos, acompanhada da dificuldade de a pessoa acometida por este mal desfazer-se de tais itens, ainda que sem valor monetário e quando isso é feito, geralmente forçadamente por terceiros, o doente vivencia grande sofrimento.
Quando a isso se associa a autonegligência e a negligência com seu ambiente residencial, geralmente em idosos, o transtorno de acumulação a a chamar-se de Síndrome de Diógenes, que pode estar associada à outra enfermidade psiquiátrica como ansiedade, depressão, transtorno de personalidade, estresse pós-traumático, uso de substâncias e demências.
O transtorno de acumulação / Síndrome de Diógenes pode melhorar ou até mesmo desaparecer com tratamento médico e psicológico seguido regularmente. Marciliano hoje reside numa edícula anexa à casa da filha caçula, está mantendo seu tratamento e deixou de acumular coisas. Não conseguiu desfazer-se apenas de alguns objetos da esposa que, segundo ele, têm um valor sentimental em sua vida.
Comentários (2) 3f1c4k
Boa tarde minha mãe esta com transtorno de acumulação / Síndrome de Diógenes onde procura ajuda aqui em cuiabá mt para melhorar ou desaparecer esse tratamento médico e psicológico.
Muito bom, mas de preferência não realizar invasões ao domicílio ou o descarte e a limpeza forçadas, contra a vontade ou conhecimento. A pessoa acometida com o Transtorno de Acumulação precisa participar das decisões. E deve ter ajuda de um psiquiatra ou psicólogo, de preferência da linha da Terapia Cognitivo-Comportamental, pois a pessoa terá de mudar seus hábitos diários e sua própria visão de mundo. A terapia deverá focar no conflito da pessoa, o porquê ela desenvolveu essa redoma (física e psicológica) para evitar a aproximação das pessoas. E por que ela usa a acumulação para alívio de angústia, depressão e ansiedade.