Positividade Tóxica – Onde é o limite? 1l4sp
Quando negamos veementemente a tristeza ou quando o otimismo é exagerado, podemos estar diante da Positividade Tóxica, que pode afetar a saúde mental 1l3c2
Há pessoas que naturalmente parecem mais felizes, outras nem tanto. Por outro lado, há muita gente que parece não conhecer a felicidade. O certo é que ninguém é completamente feliz ou completamente infeliz. A vida, por si só, é um emaranhado de acontecimentos bons e ruins, que interferem no nosso estado de humor.
Aprendemos que pensar positivo nos faz conseguir o que almejamos. Famosas são frases como esta: “o bem atrai o bem e o mal atrai o mal”. Mas, será verdade? As coisas funcionam dessa maneira? Na verdade, não é bem assim.
Vamos falar um pouco do que se conhece cientificamente. Muito embora a alegria, o otimismo e a felicidade sejam saudáveis, não há como impedir que os momentos tristes façam parte de nossas vidas. Usar em todos os momentos, bons e maus, a máscara da felicidade é a negação do próprio estado de ânimo ou o desejo de mostrar ao outro uma falsa alegria.

Quando, porém, não há coisa alguma que seja vista como negativa, por mais que o seja, com a exaltação do bom dentro do momento ruim, quando se agradece até pelo insucesso, podemos estar vivendo o que o psicólogo dinamarquês Svend Brinkmann denominou como Positividade Tóxica, um otimismo compulsivo visto principalmente em dois casos: primeiro, quando alguém não se permite ou não permite que o outro vivencie suas frustrações; segundo, quando alguém não se permite ou não consente que o outro se prepare para um resultado negativo.
No primeiro caso, há um impedimento à tristeza por algo que não deu certo ou por uma perda, com frases assim: “agradeça pelo insucesso porque o sucesso poderia lhe trazer sérios dissabores, tenha certeza de que foi melhor assim”. É como se dissesse “vamos comemorar a vitória da sua derrota”.
No segundo caso, há exclusão de qualquer possibilidade negativa, como, por exemplo, quando determinada pessoa diz: “espero que eu consiga” e recebe como resposta: “já conseguiu”.
É importante falar da “intoxicação digital”, hoje disseminada nas redes sociais, quando a tristeza é transformada digitalmente em felicidade e sucesso, não havendo espaço para o real e atingindo o seguidor, que muitas vezes se julga incapaz de experimentar o prazer que se espalha na tela.
A positividade tóxica nasce da psicologia positiva, amparada em três frentes: otimismo, gratidão e reavaliação de situações negativas. Está longe de ser má fé, pelo contrário, mas, infelizmente, leva ao impedimento da reação emocional esperada, como se invalidasse a dor, que existe, ainda que infelizmente e que precisa ser vivida para ser elaborada psicologicamente. Quando a dor deixa de ser vivida no momento de seu surgimento, provavelmente ela virá com maior intensidade mais adiante.
Talvez, pelos momentos difíceis do mundo atual, a positividade tóxica ou a fazer parte da sociedade moderna como movimento de defesa contra as adversidades da vida, com a necessidade imperiosa de manter apenas o pensamento positivo, mesmo que a situação esteja trafegando em sentido contrário; como reforço da realidade positiva e negação da realidade negativa; como um estímulo ainda que improvável aos soldados no campo de batalha, que somos todos nós.
A positividade tóxica trava uma batalha constante contra a tristeza ou qualquer outro sentimento negativo, dando vida apenas à felicidade, praticamente impondo a todo indivíduo a obrigatoriedade do pensamento positivo e de desfrutar de uma vida feliz, independente das intempéries encontradas no caminho, que não devem ser motivos para pensar ou agir negativamente ou com algum grau de sofrimento e tristeza.
A positividade deixa de ser normal e torna-se tóxica quando o indivíduo não encontra espaço para a tristeza e vive, ainda que artificialmente, a ideia positiva frente aos problemas. É muito bom transbordar alegria, mas não é possível viver alegre o tempo todo. Há momentos de tristeza que nos fazem sofrer, mas muitas vezes não extravasamos este sofrimento, o que é nocivo à saúde, pois represar por muito tempo a dor pode nos levar a um colapso mental. Assim como o prazer, o sofrimento é necessário para o equilíbrio do estado mental. Isso permite que nossos sentimentos e emoções estejam sintônicos com os acontecimentos da vida, sejam eles bons ou maus.
Equilibrar a positividade, evitando que ela se torne tóxica é importante para a harmonia psíquica. Isso deve ser feito permitindo-nos viver a alegria e a tristeza e, quando isso for difícil, procurar a ajuda de um profissional de saúde mental para falar de nossos sentimentos. O equilíbrio emocional, por si só, nos permite ver a vida com um olhar mais positivo e sem toxicidade.
Comentários (1) 3kf3p
Eu amei! Eu aprendi muito sobre positividade tóxica (e acho que vou parar de me forçar a ficar feliz)