Para famílias de MT, pacientes psiquiátricos são invisíveis aos olhos do Estado 2r5k6
No estado, em média, 200 pessoas tiram a própria vida por ano, segundo dados do Sistema de Informação de Mortalidade 612c
Invisíveis! É assim que as famílias de pacientes psiquiátricos em Mato Grosso avaliam que o Estado tem olhado para as pessoas que precisam de atendimento médico psiquiátrico no Estado.
A pedagoga Carla Lemos dos Santos Coelho Silva, de 51 anos, conta que em 2019 precisou tomar uma atitude extrema para proteger o filho, que foi diagnóstico com transtorno afetivo bipolar, com traços borderline, e, por isso, tem comportamentos emocionalmente instáveis.
Sem conseguir um local para internar o filho no estado, após uma crise, ela precisou amarrá-lo a uma cama. O caso ganhou repercussão nacional, mas diz que a luta para atendimento adequado para o filho no estado segue até hoje.
“Não consegui nenhum tipo de atendimento emergencial para o meu filho. E, no auge do desespero, pra proteger a vida dele, tive que tomar uma atitude drástica, que foi amarrá-lo. Tive que amarrar as pernas, braços, mantê-lo em contenção, eu mesma. E, por orientação do psiquiatra, fazendo sedações pra ver se a gente conseguia trazer ele de volta”, lembra Carla.

O filho voltou, mas de lá para cá avalia que o atendimento não melhorou. Seja nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), que atendem pessoas com transtorno mental severo e persistente e seus familiares, ou em casos emergenciais com o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e o Corpo de Bombeiros.
“A gente não sabe quem acionar. Recentemente, ele entrou em crise e me ligou pedindo socorro. Falava: ‘eu vou me matar, não estou conseguindo, não estou aguentando’. E enquanto o segurei no telefone, nós acionamos o Samu, em Cuiabá. E a resposta que ouvi foi que eles só podem socorrer, após ele fazer a besteira”.
Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar informou que “intervém apenas em situações envolvendo vítimas com risco iminente à vida, exemplos tentativas de suicídio, a fim de resguardar a integridade das mesmas, portanto, nos casos de atendimentos clínicos, como as crises em pessoas com transtornos mentais, não há intervenção por parte do CBM, sendo direcionados ao Samu”.
O Samu até a publicação da matéria não respondeu aos questionamentos sobre como é o atendimento em casos como esses.
Já o atendimento no Caps, Carla Lemos avalia negativamente pela não continuidade do tratamento, pois já viu ser reiniciado, após a mudança de profissionais que trabalham no local. O que julga que desmotiva os pacientes, que chegam a abandonar o tratamento.
“Um paciente inicia o tratamento, mas aí resolvem trocar o médico. Zera tudo o que foi feito. Os próprios pacientes desanimam e desistem. E isso é muito perigoso. Um paciente psiquiátrico que está estável, que está em tratamento contínuo, ele consegue trabalhar, estudar e ser produtivo”.
Vida útil com tratamento 4c4z35
O neuropsicólogo Eliéverson Douglas da Costa, de 43 anos, que atua há 11 anos na área clínica da saúde mental, também lembra que é necessário pensar na qualidade de vida dos pacientes.
“O paciente está frequentando o Caps, reduzindo danos, mas o que melhorou da qualidade de vida desse paciente? A inserção no mercado de trabalho? Lazer? E do o à educação? Nós precisamos entender essa pessoa no campo de atuação da sua rotina e suas habilidades sociais”.
Nesse sentido, avalia que o tratamento é muito mais amplo, onde é necessário buscar resultados significativos para vida da pessoa.
“É necessário trabalhar sob a perspectiva da inclusão. Não é porque o indivíduo tem um transtorno mental que ele não tem a possibilidade de trabalhar. Ele tem sim, dentro da realidade dele, de voltar a estudar, trabalhar. A gente precisa entender o tratamento, não mais como clínico psiquiátrico tradicional, mas de reabilitação cognitivas e sociais”.

Atendimento em Mato Grosso 86w2x
Em nota, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) informou que o Governo do Estado dispõe do Hospital Adauto Botelho para o atendimento de pacientes com doenças mentais e pessoas envolvidas com álcool e outras drogas. Na unidade, há 90 leitos disponíveis para internação.
A Secretaria ainda ressaltou que existem cerca de 40 Caps Municipais em torno de 30 cidades de Mato Grosso.
Suicídios no Estado 1t5k23
No estado, em média, 200 pessoas tiram a própria vida por ano, segundo dados do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade de Mato Grosso).
O levantamento, com dados de 2015 a 2019, também mostra que homens morrem mais por suicídio, 77,3%. Enquanto mulheres representam 22,7% dos casos no estado.
Contudo, a maioria das tentativas de suicídio é entre mulheres, que chega a 65,9%, enquanto de homens é 34,1%.
Casos de suicídio foram registrados em todo o Estado. Mas, a região da Baixada Cuiabana concentra 26,6% dos suicídios de Mato Grosso e 29,5 % da população. Enquanto o Sudeste concentra 19% dos suicídios e 15% da população.
O levantamento ainda mostrou que a existência de Caps no município reduz em 14% o risco de suicídio.
