Saúde Mental 5m4268

Pânico – o medo que isola 4f4i6p

Episódios repetidos de ataques de pânico perturbam o funcionamento da pessoa, que teme sair de casa e sofrer nova crise 6m1q52

Caio Márcio era um jovem funcionário público, de 24 anos de idade, já formado em economia e cursava uma segunda faculdade, o curso de Direito, pois tinha o objetivo de fazer concursos na área jurídica. Toda quinta-feira, depois do expediente, ia ao shopping e lá fazia sempre a mesma coisa: entrava na livraria do primeiro piso, dirigia-se à sessão literária de obras nacionais, folheava alguns livros e quase sempre comprava um deles para ler de imediato ou para deixar em casa na fila de leitura.

Em um desses dias, enquanto percorria as linhas de uma das obras, começou a perceber um imenso mal-estar, um aperto no peito, sentiu seu corpo todo “formigando”, seu coração disparou, suava muito, tinha certeza absoluta, naquele momento, de que estava prestes a sofrer um ataque cardíaco potencialmente fatal. Julgava que precisava de ajuda médica imediata para tentar evitar sua morte. Pediu ajuda a uma das vendedoras, que observou seu desespero e sua palidez, levou-o à área interna da livraria e o fez sentar-se, enquanto acionaria o socorro médico. Antes, porém, de chegar a ajuda solicitada, Caio já estava bem, sem qualquer sintoma e dispensou o apoio de saúde e foi para casa.

No dia seguinte começou a submeter-se a uma bateria de exames e avaliações médicas, tudo normal. Afinal de contas, era um jovem saudável, que não fumava, não usava drogas, bebia socialmente, comia como qualquer pessoa da sua idade e praticava esportes. Apesar do ocorrido estava calmo, já que todos os exames médicos e laboratoriais haviam descartado qualquer problema de saúde. Temporariamente deixou de frequentar a livraria, achou que poderia ser alguma coisa relacionada àquele local, mas retornou, paulatinamente, a se tornar presente nos corredores da loja de livros, voltando a fazer uma das coisas que lhe eram muito prazerosas.

Três meses depois, agora dentro da sala de cinema, quando acompanhado de Margarida, sua namorada, apresentou sintomas semelhantes a aqueles acima descritos e, dessa vez, achou que se não morresse, enlouqueceria. Pensou, também, que teria dificuldades em locais aparentemente fechados ou com muita gente e a partir dali evitava esses ambientes. Certo dia, porém, quando estava em casa, mais especificamente em seu quarto arrumando seu material acadêmico, voltou a sentir as mesmas coisas. Depois disso, fez mais uma bateria de exames e avaliações médicas … e nada.

Agora tudo lhe parecia muito maior, até em casa ele poderia ter um episódio desse tipo. Um medo imenso de sair e experimentar esses sintomas na rua; medo, também, de sentir esse mal-estar dentro de casa. Apesar disso, no aconchego do lar tinha os pais perto dele, o que de algum modo o tranquilizava. Isolava-se cada vez mais em sua residência. Praticamente só saía para ir à faculdade e ao trabalho, assim mesmo com muita dificuldade e com reiteradas faltas às aulas. Observou que não poderia continuar assim. O cardiologista, que o atendeu algumas vezes, já havia lhe dito que seu coração estava perfeito, que o problema estava na sua cabeça e, por certo, deveria procurar um psiquiatra. Foi o que fez e, depois de contar sua história, recebeu o diagnóstico de transtorno do pânico e logo começou seu tratamento.

O transtorno de pânico, também conhecido como síndrome de pânico, caracteriza-se por um verdadeiro ataque de sintomas ansiosos e fóbicos que ocorrem subitamente, a qualquer hora, em qualquer lugar, inclusive à noite, durante o sono, muitas vezes sem nenhum fator precipitante identificável. No momento da crise, surgem todos aqueles sintomas clássicos dos episódios ansiosos e fóbicos, como palpitações, sudorese, tontura, formigamento nos membros e até no corpo todo, sensação ou quase certeza de morte iminente ou de enlouquecimento. A angústia é tão grande que a pessoa clama por ajuda imediata. O primeiro episódio faz que o indivíduo associe a crise ao lugar ou à situação e a partir daí e a evitá-los, até que descobre que outras crises acontecem em locais e situações diferentes.

Episódios repetidos de ataques de pânico perturbam o funcionamento da pessoa, que teme sair de casa e sofrer nova crise. É uma enfermidade que aparece geralmente no início da idade adulta e hoje sabe-se que se deve à predisposição genética isolada ou associada a alguns fatores de estresse ambiental. É importante saber que a cannabis também é uma das grandes provocadoras de ataques de pânico e contribui para a evolução aos poucos casos de incapacidade mental.

O tratamento é médico psiquiátrico com uso de medicamentos, complementado pelo acompanhamento psicológico. Quando o tratamento é feito de acordo com as orientações dos profissionais assistentes, o prognóstico a a ser bom e a vida volta a ser totalmente normal.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Saúde Mental, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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