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Luto – A dor de quem fica 2o162y

Segunda-feira é dia de coluna Saúde Mental; confira a nova edição do artigo do escritor e psiquiatra Marcos Estevão 6v4n59

O luto é um processo, que cursa em várias etapas e faz que a pessoa enlutada experimente a tristeza em todas as fases, primeiramente acompanhada de raiva, depois apenas a grande tristeza da perda e por último uma enorme sensação de vazio, um vazio que chega a causar dor não apenas psíquica, como também física. Isso pode durar semanas ou meses, apesar de que o processo em grau mais contido pode perdurar por anos ou até mesmo por toda a vida. Outras situações de perda como separação entre pais e filhos ou o desenlace conjugal, por exemplo, podem se assemelhar ao luto e por isso são chamadas também de reações de luto.

Cemitério Memorial Park em Campo Grande (Foto: Osvaldo Nóbrega)
Cemitério Memorial Park em Campo Grande (Foto: Osvaldo Nóbrega)

Trata-se de um processo normal e esperado em situações de perda de entes queridos. Recentemente vivemos um período inusitado: a pandemia da Covid-19. Na época pandêmica criaram-se, necessariamente, protocolos de segurança e um deles obrigava a não realização de velórios, principalmente na fase mais difícil da doença. Com isso, deixamos de dar adeus aos nossos mortos, deixamos de enterrá-los. Dessa forma, o luto não se processou como esperado e nesses casos os sintomas do processo de luto tendem a ser postergados e mais graves. Isso já ocorreu e hoje ainda ocorre durante as guerras, onde corpos ficam perdidos pelo caminho e os amigos e familiares, meros impotentes em relação a isso, com sérias implicações no processo de luto.  

Como dito anteriormente, o luto existe e faz parte de nossas vidas como um processo normal e até necessário para que possamos elaborar de modo sadio nossas perdas. Por outro lado, o luto, de início normal, pode transformar-se em problema mais sério, na verdade um transtorno psiquiátrico maior, quando ele é prolongado. Difícil é saber o que é um luto prolongado, já que isso depende da relação da pessoa enlutada com o ente querido, do grau de afetividade dessa pessoa e se existe ou não predisposição a um quadro depressivo, por exemplo. 

Quando a morte é natural e até mesmo esperada, como nas doenças degenerativas, as pessoas conseguem preparar-se melhor e terminam conformando-se mais rapidamente frente à perda. Há uma espécie de estado de luto antecipatório, no decorrer da enfermidade, quando a raiva e a tristeza vão dando espaço à aceitação da perda, frente ao sofrimento do enfermo.  

Por outro lado, nas perdas súbitas, o processo de elaboração do luto se torna mais difícil, pois essas perdas não são precedidas de avisos, apenas acontecem, como nos casos dos acidentes automobilísticos, infartos agudos do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, suicídios, etc. Os enlutados ficam à procura de um por quê, precisam entender racionalmente o que e como aconteceu. As respostas, quando surgem, aliviam-lhe o sofrimento ou o aumentam ou se carregam de culpa, o que piora a dor do luto. 

As datas festivas, como aniversário, Natal, etc. e datas tristes, como o dia de falecimento de um ente querido, Dia de Finados, etc. têm um significado simbólico. Nelas, é claro, há uma revivência maior da perda e com isso, consequentemente, uma revivência do sofrimento. Isso apenas quantitativamente maior nessas datas, uma vez que o processo de luto se mantém por longo tempo independente de datas que tragam essas lembranças. De qualquer forma, provavelmente a dor da perda não será maior nessa época, será praticamente igual aos outros dias.  

Os amigos são aquelas pessoas que se fazem presentes nos bons e maus momentos. Apenas a proximidade deles, o estender a mão, um abraço, permitir que a pessoa viva seu sofrimento sem interferir nele, permanecendo ali ao seu lado para auxiliar no que for possível, pode ajudar muito na elaboração do luto e até evitar que um luto normal e à categoria de patológico. A empatia de um verdadeiro amigo é tão grande que ele chega a sentir a dor do outro e isso sim pode, de alguma forma abrandar o sofrimento. 

As crianças tendem a negar a perda ou simplesmente fantasiar um possível retorno de quem partiu. Os pais devem dizer de uma forma lúdica e de preferência com ajuda profissional, que aquela pessoa não mais vai voltar. O adolescente, por seu lado, desenvolve a raiva e a descrença na religião e muitas vezes carrega uma enorme culpa, quando perde um dos genitores ou outro familiar ou amigo e encontrava-se brigado com ele por ocasião de sua morte. Às vezes se faz necessário, também, o atendimento profissional. 

As orientações contidas nas abordagens de saúde mental são para que as pessoas se permitam sofrer a perda, chorar a perda e evitar anestesiá-la com medicamentos, bebidas alcoólicas etc. A fé e as crenças religiosas são extremamente importantes para abrandar o sofrimento e facilitar a conformação. 

O luto trata-se de um processo normal, não de uma doença. Na maioria das vezes não há necessidade de buscar um profissional, mas quando isso se faz necessário, o psicólogo deve ser procurado. Caso o luto se torne patológico, ou muito prolongado, ou seja, transforme-se em um transtorno mental, como uma depressão, por exemplo, aí é a vez de consultar um psiquiatra. 

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Saúde Mental, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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