Flashbacks 31481c
Já se avam três semanas desde que Selma havia sofrido um assalto à mão armada no estacionamento do supermercado que frequentava há anos. Foi significativo o choque que sofreu naquele dia, que a deixou abalada por uma semana. Depois disso, parecia estar retornando à total normalidade.
Eis que depois de quase um mês, Selma ou a sentir um medo cada vez maior de sair de casa e não ava nem ar na frente do supermercado onde tudo aconteceu. Na verdade, Selma evitava até as proximidades dali. Ao medo associava-se angústia, com palpitações, tristeza e choro franco. As faltas ao trabalho eram sucessivas até que resolveu contar à chefa o que estava acontecendo e foi orientada a procurar ajuda profissional, primeiro para restabelecer sua saúde e segundo, porque a empresa não poderia continuar com uma funcionária com grande absenteísmo.
O risco de demissão fez que Selma atendesse o pedido da chefa. O psiquiatra lhe disse que havia desenvolvido o transtorno de estresse pós-traumático, receitou-lhe um medicamento, encaminhou-a para psicoterapia e a dispensou do trabalho por quinze dias, tempo que a princípio parecia ser suficiente para os medicamentos fazerem o efeito necessário e que pudesse retornar ao trabalho.
Depois de quinze dias, seu médico viu que ainda não era possível o retorno de Selma às suas atividades profissionais e resolveu dispensá-la por mais trinta dias, totalizando em quarenta e cinco dias de afastamento do trabalho para que houvesse uma melhora inicial dos sintomas. Depois disso voltou ao exercício de suas funções, obviamente com algum receio, todavia não a ponto de impedir seu retorno à quase normalidade.
Selma tem o diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Vem fazendo tratamento psiquiátrico mensalmente e acompanhamento psicológico semanal. Houve grande melhora nos últimos doze meses de tratamento, quando, por orientação médica, teve redução dos seus medicamentos, com a possibilidade de suspendê-los totalmente após mais um ano.
O TEPT, como o próprio nome diz, é um quadro que acomete algumas pessoas depois de enfrentar uma situação de estresse, maior do que sua capacidade de absorver o evento estressante e fazer dele apenas uma experiência negativa e um novo aprendizado. Aparece dentro dos primeiros três meses após o trauma, geralmente no primeiro mês, com pensamentos intrusivos de revivência do trauma, visões do fato ocorrido flashbacks) e pesadelos envolvendo a situação traumática, tristeza, irritabilidade e, algumas vezes, ideias de suicídio.
A pessoa acometida por TEPT evita falar do assunto, assim como de frequentar locais relacionados ao evento. Geralmente há uma predisposição genética, com histórico familiar de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, que faz as pessoas mais suscetíveis de desenvolver o problema. Observa-se que quanto maior a carga genética, menor a capacidade de tolerância aos conflitos.
Há indicação de tratamento integrado (psiquiátrico e psicológico), com necessidade de uso de medicamentos em grande parte dos casos. Geralmente, o quadro reverte-se em alguns meses, quase sempre dentro de dois anos. Quando isso não acontece, de um modo geral evolui para quadros mais graves, comumente de transtornos depressivos, muitas vezes com incapacidade para o labor.
Na maioria das vezes, porém, tudo se resolve satisfatoriamente, com grande melhora ou resolução total do problema, desde que a pessoa acometida de TEPT se submeta ao tratamento médico psiquiátrico e psicológico, de acordo com as orientações dos profissionais.
