Vandalismo em Brasília: quem viveu nunca esquecerá 2g22u
Na semana que antecedeu os atos golpistas dos vândalos travestidos de patriotas em Brasília, a capital parecia intensamente feliz e calma, depois da posse do novo governo, com muitas idéias, devaneios e trabalho de sobra para quem atua nas redações como eu e minha equipe. 154u17
Na semana que antecedeu os atos golpistas dos vândalos travestidos de patriotas em Brasília, a capital parecia intensamente feliz e calma, depois da posse do novo governo, com muitas idéias, devaneios e trabalho de sobra para quem atua nas redações, como eu e minha equipe. Antes de pensar em escrever esse artigo, relutei um pouco, quis desopilar meu ódio pelos infames que são contra a democracia, afinal, dela é que vivo, dela que compro meu pão e mato meu ócio de tiranossauro rex do jornalismo.

Mas agora, adas semanas dos ‘’atos‘’, me atrevo a compartilhar de modo mais pessoal e menos fotográfico o que aconteceu naquela tarde, até então comum e enfadonha de domingo, dia 8 de janeiro de 2023. Trabalhei junto com as equipes de televisão e rádio na posse do presidente Lula. Um festa cívica que encheu de coragem muita gente, independentemente de partido ou de ideologia, afinal, os tempos obscuros e ridículos do neofacismo pareciam estar sendo enterrados .
Engano, ledo engano. Tanto que na semana anterior à tentativa de golpe, ei pela Esplanada dos Ministérios – e cheguei a observar em casa que, apesar das notícias de um possível protesto, tudo parecia calmo. Algumas barreiras na entrada da Esplanada, com os mesmos policiais “felizes‘’, grudados aos seus celulares, esperando a banda ar. Pior é que a banda não só ou, como estraçalhou as grandes avenidas da Capital, num misto de horror e alienação nazistas jamais vista.
Eu estava em casa, quando minha mulher me chamou para um plantão das TVs mostrando uma turba descendo a Esplanada com sangue nos olhos, com ódio nas mãos e com o luxuoso auxilo da Polícia Militar do Distrito Federal. O que aconteceu daí para frente todo mundo está cansado de saber. Eu quis descer em disparada da minha casa até a redação, mais ou menos dez minutos de carro, mas fui desaconselhado. O que restou, depois de tudo, foi um misto de nojo e ódio por tudo que tinha sido feito contra a cidade que aprendi a gostar na última década e meia.
Inacreditável o cheiro de ódio no ar. O desapego à civilidade e ao mínimo de compaixão com obras de arte, com história e, principalmente, com o nosso bem maior – a jovem e sobrevivente democracia brasileira.
Andar pelos prédios destruídos é revoltante, não só pela ignorância de quem praticou o ato, mas especialmente pelos ocultos que patrocinaram e até incentivaram (no caso, a PM) o vandalismo irracional. Mas é isso, a democracia venceu, os vândalos foram encurralados na mangueira da Papuda e todos, certamente, vão pagar pelo que fizeram. O resto é vida que segue e todos o dias estamos aqui a contar para o Brasil um pouco dos sonhos, das pilantragens e de tudo que cerca uma democracia. Como já ouvimos, você pode não gostar, mas esse é o único regime que realmente nos interessa.
Então, viva a democracia!
*Odacil Canepa é jornalista e correspondente da RMC em Brasília.