MPF vai investigar denúncia de assédio eleitoral em MS mostrada no Profissão Repórter 6r396x
Equipe da Rede Globo diz ter sido ameaçada ao registrar reunião com beneficiários de programas eleitorais, a 48 horas da eleição w1cw
O MPF (Ministério Público Federal) vai investigar situação revelada em reportagem do Profissão Repórter, da Rede Globo, comandado pelo jornalista Caco Barcellos. No trecho de mais de 5 minutos do programa dedicado a Mato Grosso do Sul, o programa mostrou reunião ocorrida às vésperas do segundo turno, com beneficiários de programas sociais, no município de Coronel Sapucaia, na linha de fronteira com o Paraguai.

A suspeita levantada é de que os convocados estavam sofrendo assédio eleitoral para o voto no segundo turno, atrelado ao recebimento do auxílio. Caco e o repórter Chico Bahia relatam que chegaram a ser ameaçados durante a condução do trabalho jornalístico.
“A Procuradoria Regional Eleitoral está ciente da reportagem e instaurará procedimento investigatório. Serão solicitadas diligências ao promotor eleitoral de Coronel Sapucaia para instruir o feito”, respondeu a assessoria de imprensa do MPF (Ministério Público Federal) ao ser indagada pelo Primeira Página sobre o conteúdo do programa global .
O que mostra a matéria? 5r22t
Caco Barcellos, durante o programa exibido nesta terça-feira, registrou reunião na qual beneficiários do Auxílio Brasil foram convocados, segundo moradores que aceitaram falar, para serem pressionados a votar em Jair Bolsonaro.
“Após entrevistas, nossa equipe foi alertada a deixar a cidade”, diz texto disponível no site do programa.
Conforme a descrição, Caco Barcellos e Chico Bahia foram até Coronel Sapucaia para fazer um perfil dos eleitores da cidade. Foi o município onde houve empate entre Lula e Jair Bolsonaro no primeiro turno.
A dupla de jornalistas – enquanto andava pela cidade para conversar com moradores sobre sua intenção de voto – viu uma concentração de pessoas em frente ao centro cultural e resolveu se aproximar.
De acordo com a apuração feita, os convocados para a reunião, eram beneficiários do Auxílio Brasil. Ninguém queria falar.
“Tem a ver de demonstrar o que o presidente e o governador estão fazendo pelas pessoas”, declarou uma pessoa identificada como assessora de uma secretária.
A reportagem mostra que, depois dessa resposta, as pessoas começaram a ir embora. Caco tenta entrevistar os presentes e começa a tentativa de impedir.
“É melhor vocês ficarem na sua!”, aparece um homem falando.

O cenário mostrado tem mesas, em que mulheres estão com planilhas. Nelas, diz o texto do site do Profissão Reporter, há nomes e dados das pessoas que compareceram. Uma outra pessoa, ao ser abordada, se recusou a falar e saiu andando e dizendo: “Eu não posso responder nada”.
Gincana 2i691u
“Encontramos o prefeito, Rudi Paetzold, em uma gincana entre escolas promovida pela Secretaria Municipal de Educação. Por lá, as perguntas também não foram bem recebidas”, relata o texto.
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Confira o diálogo transcrito 206t4e
Caco: A gente esteve no centro cultural e tinha uma fila grande de pessoas tendo que deixar o nome… Pessoas que recebem o auxílio.
Assessora 1: Aqui nós não estamos para falar de política. Aqui nós estamos…
Caco: Mas lá estavam falando sobre política. Por isso que estou perguntando.
Assessora 1: Mas aqui não estamos falando de política.
Caco: Mas estou falando de lá para o prefeito.
Assessora 1: O prefeito não tem que responder.
Prefeito: Inclusive eu estava… Não estava nem… ei por ar. Nós estávamos fazendo campanha política, não estávamos nem na cidade. Eu estava na aldeia indígena agora.
Caco: Eu sei, mas todas as pessoas estão dizendo lá que o senhor que organizou essa…
Prefeito: Não, eu não.
Caco: Mas como é que tem tanta gente lá?
Assessora 2: A gente tem horário para terminar.
Prefeito: Quem organizou foi a Secretaria de, de…
Assessora 2: Isso aqui é um evento que temos horário para terminar, gente.
Pressão 6n6a4g
Na sequência, é apresentada a entrevista de uma moradora, que topou falar e confirmou suspeita de assédio eleitoral.
“Eu fui. Chegamos lá; eles, sinceramente, falaram sobre o Auxílio Brasil, porém a parte foi só sobre política. Que teria que votar no 22, porque se não, no caso, não teria mais verba para vir para cá, né? Aí pararia com tudo: pararia de fazer o asfalto, as escolas. Você chega lá, se você está precisando… Vamos supor: você precisa para sobreviver o auxílio e o vale renda, você muda seu voto na hora com medo de perder o benefício. Pediram para colocar o nome, colocar o documento, o número de celular. Porque, no caso, esses nomes iriam lá não sei para onde. Para mim, aquilo foi uma pressão sobre as pessoas. Isso é promoção do prefeito, né?”
Eleitora não identificada
Ainda segundo a equipe do Profissão Repórter, uma pessoa da cidade ligou para Caco para dizer que era perigoso continuar a reportagem na região.
“Fiquei preocupado, extremamente preocupado. Eu sugeriria para vocês terminar a pauta o quanto antes. Se você quiser continuar aqui na cidade trabalhando, é o teu trabalho. É assim: sua conta e risco. Mas eu conheço bem aqui a cidade. É complicado”, é a fala do interlocutor com o jornalista conhecido nacionalmente por seu perfil investigativo.
A reportagem do Primeira Página pediu informação ao MPF, por se tratar de um programa com investimentos federais, e também pela suspeita de configuração de crime eleitoral. Também tentamos localizar o prefeito citado na reportagem, mas não foi possível.
Em contato com a assessoria direta do prefeito Rudi Paetzold, do MDB, a informação recebida é de que a prefeitura de Coronel Sapucaia não vai se manifestar por enquanto.