Uma canção pela morte: como Maria Gadú se despediu da avó 6z3s4e
As palavras de Dona Cila atravessaram o coração de Maria Gadú. Ela compreendeu, então, que o maior gesto de amor, naquele momento, seria permitir a partida da avó 5m3v
A música “Dona Cila”, composta por Maria Gadú, é mais do que uma canção: é um grito de amor, dor e libertação. Escrita em um dos momentos mais íntimos e dolorosos da vida da cantora, a canção presta homenagem à sua avó, Dona Cila, figura central de sua infância e da sua construção afetiva.
Confira entrevista de Maria Gadú:
Dona Cila enfrentava uma dura batalha contra o câncer, e Maria Gadú a acompanhava de perto, segurando suas mãos nos últimos dias de vida. Mesmo debilitada e sem lucidez constante, em um raro momento de clareza, Dona Cila olhou para a neta e disse algo que mudaria para sempre a forma como Gadú enxergava aquele sofrimento.
“Você me ama tanto que está rezando para eu ficar”, disse a avó. “Mas é para rezar para eu partir. Não é justo. Olha como eu estou sofrendo.”
Essas palavras atravessaram o coração de Maria Gadú. Ela compreendeu, então, que o maior gesto de amor, naquele momento, seria permitir a partida. Assim nasceu “Dona Cila”, uma súplica em forma de melodia, uma conversa com o divino, um pedido por libertação.
“Por que cargas d’água fui te encontrar?
Pra ser agora a dor que deságua…”
A música é marcada por uma doçura triste, com versos que carregam o peso da despedida e o alívio da entrega. É o retrato de um luto permissivo — como a própria Gadú descreve —, aquele em que, mesmo com o coração em pedaços, entende-se que o amor verdadeiro não aprisiona.
“Vai, minha filha, vai…
Se a dor é o que te impede de ficar…”
A canção caminha pelas memórias e pela saudade antecipada, mas também revela uma maturidade espiritual rara. Maria Gadú, ainda jovem na época, compôs não apenas para si, mas para todos que já precisaram soltar a mão de alguém querido.
Alguns dias depois de escrever a música, Dona Cila faleceu. E foi como se a canção tivesse cumprido seu propósito: abrir o caminho, suavizar a travessia. Hoje, “Dona Cila” ecoa como uma oração universal, um hino silencioso para todos os que amam e precisam deixar partir.
“Toda dor que eu sei, eu sei de cor
Sei que dói a ausência
Dona Cila, por favor…”
Maria Gadú eternizou sua avó nos versos e nas lágrimas transformadas em arte. “Dona Cila” é um lembrete de que até a dor pode ser bela quando nasce do amor mais puro que existe.
Comentários (1) 3kf3p
@flaviaborges, parabéns pela escolha, esta historia real de amor tem que ser degustada em nome da perenidade de quem ama. Uma historia linda e você contou com requintes de simplicidade em um texto esclarecedor. Alguém pode não ter gostado eu me emocionei e vou compartilhar muitooooo.