Um atentado da ditadura militar se transformou em uma das músicas mais tocadas nas festas juninas s6m50
Quem fez a letra dessa música é filho de pastor e até os 15 anos nunca tinha visto uma festa de São João de perto 6o4a4i
Essa talvez seja uma das músicas mais alegres do Brasil e eu jamais poderia imaginar que ela nasceu de um atentado terrorista que deu errado.
O cara que fez essa música é filho de um pastor, por isso até os 15 anos ele nunca tinha nem visto festa junina e muito menos carnaval.
Depois que ele saiu da casa dos pais, ou a gostar muito dessas coisas.
Em 1981, o Brasil estava ando pelo processo de reabertura política, para sair do regime militar e devolver o poder aos civis.

O povo queria a democracia, mas alguns setores militares mais radicais não queriam deixar isso acontecer.
Institucionalmente, o Brasil já tinha começado o processo de redemocratização, mas havia uma galera tentando sabotar isso.
Alguns militares tentavam intimidar o povo 5s316m
Começaram a bombardear vários lugares. Explodiram bancas de jornais que falavam do fim do regime, mandaram uma carta-bomba para a OAB no Rio de Janeiro que explodiu, jogaram bomba em livraria, faculdade, sede de jornais…
Foi bomba para todo lado.

Em 1981, planejaram o que era para ser o maior ataque terrorista da história do Brasil oh62
O Centro Brasil Democrático, que era presidido por Oscar Niemeyer e ligado ao Partido Comunista Brasileiro, organizou um grande evento para comemorar o Dia do Trabalhador.
Era um showzaço de MPB, aberto ao público, com Chico Buarque, Gal Costa, Luiz Gonzaga, Fagner, Alceu Valença e mais um monte de gente.
Esperavam cerca de 20 mil pessoas.

Na noite do dia 30 de abril, no Riocentro, no Rio de Janeiro, o show começou.
E enquanto Elba Ramalho cantava para aquela multidão, ouviram um estrondo muito forte.
O povo ficou procurando para ver de onde tinha vindo aquela explosão, até que disseram que um carro tinha explodido no estacionamento do Riocentro.

O segurança do estacionamento contou que o carro tinha acabado de dar ré para sair da vaga e, de repente, explodiu.
Dentro do carro estavam dois militares, um deles especialista em explosivos. Esse morreu na hora e o motorista sobreviveu.
Na época, os militares disseram que militantes tinham colocado a bomba no carro deles.
Mas depois descobriram que foram eles mesmos e que a bomba explodiu por acidente, na hora errada.
A ideia era explodir aquela bomba no show, colocar a culpa nos militantes para provar que o Brasil ainda precisava do regime para se proteger.
Mas o que realmente interessa aqui é a música de festa junina 5s542
O cara que fez a letra dessa música morava em Ipanema, no Rio, e logo depois que isso aconteceu ele ficou muito preocupado.
Ele estava levando o filho para a creche e ficou pensando em como criticar esses bombardeios todos.
Ele até pensou em fazer algo tipo Geraldo Vandré, mas ele não sabia ser tão incisivo assim.
O mês de junho estava perto, e aí ele teve uma ideia.
Começou ali mesmo a escrever mentalmente uma letra falando de bombas, de explosões, mas num cenário de amor, de alegria.
Como se dissesse:
“enquanto vocês estão jogando bomba para causar destruição, a gente está aqui jogando bomba para ser feliz”
Chegou em casa, terminou a letra e mostrou para a esposa.
Aí ele começou a pensar quem poderia fazer a melodia para aquela letra. Ficou na dúvida entre Dominguinhos e Moraes Moreira.
A esposa dele sugeriu o Moraes Moreira, porque ele morava ali perto.
Ele pegou o telefone, ligou para o Moraes Moreira e foi lendo a letra.
Do outro lado, o Moraes foi anotando.
Desligou o telefone, aram 20 minutos e o Moraes ligou de volta. Ele atendeu e o Moraes falou: ouve aí.
“Fagulhas, pontas de agulhas
Brilham estrelas de São João
Babados, xotes e xaxados
Segura as pontas, meu coração”
O compositor Abel Silva ficou impressionado com a velocidade que o Moraes Moreira criou aquela melodia.

Diz que quando o Moraes tocou, já estava até com aquele solo do começo no violão.
O Abel Silva achou um jeito de protestar levando aquelas bombas para outro contexto:
“Bombas na guerra-magia
Ninguém matava, ninguém morria”
“Nas trincheiras da alegria
O que explodia era o amor
Nas trincheiras da alegria
O Abel fez o contraponto da violência com o amor.
Depois que terminaram, o Moraes mandou a música para Gal Costa, que quis gravar na hora.
Essa música foi gravada em japonês, alemão, espanhol, inglês, italiano, até em árabe.
Qual versão de Festa do Interior você mais gosta? Ouça com Gal Costa:
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