Chico Lacerda ouviu desde cedo o Pantanal e transformou tudo em poesia z636s

Músico que faleceu nesta terça-feira (18), costumava dizer que o Pantanal nunca foi silêncio, o que ele traduziu com amor em canções do Grupo Acaba r2k6r

“Pantanal nunca foi silêncio”, costumava dizer Chico Lacerda, músico sul-mato-grossense e fundador do Grupo Acaba, que faleceu na tarde desta terça-feira (18), em Campo Grande. Aos 76 anos, ele enfrentava problemas de saúde decorrentes de uma demência vascular e do Parkinson, mas “hoje ele descansou no Senhor”, como frisou seu irmão de nascença e música, Moacir Lacerda.

Chico Lacerda
Chico do Grupo Acaba durante o documentário de Fabio Flecha. (Foto: Reprodução/Render Brasil Produções)

Poeta do Pantanal, Chico deixou uma legião de sons e palavras sobre o bioma, que ele sonhava em proteger.

“O Grupo Acaba sempre foi essa voz do Pantanal e essa voz do cuidado, da preservação da nossa fauna, flora. E o Chico era o poeta do grupo, sabia usar as palavras pra contar histórias, palavras simples das pessoas do Pantanal”, acredita o cineasta e produtor audiovisual Fábio Flecha.

Flecha produziu e lançou o documentário “Canta Dores do Pantanal – 50 Anos do Grupo Acaba”, em 2017. Emocionado, ele relembrou dos momentos que compartilhou ao lado do músico e da iração que começou a nutrir por Chico.

“Me deixou bastante emocionado ouvir essa notícia [do falecimento]. A gente já sabia que Chico estava numa situação delicada, mas é sempre um baque”, afirma Flecha.

Segundo o cineasta, o músico e seus parceiros são a voz de cada pantaneiro e pantaneira, de cada pessoa que vive na beira do rio.

“O Grupo Acaba sempre foi essa voz do Pantanal e essa voz do cuidado, da preservação da nossa fauna, flora. E o Chico era o poeta do grupo, sabia usar as palavras pra contar histórias, palavras simples das pessoas do Pantanal”.

Fábio Flecha

“Ele falava daquilo que você via, daquilo que você ouvia. Ele dizia que ‘Pantanal nunca foi silêncio’. Como ele mesmo disse: ‘Pantanal na palma da sua mão vem da flora, vem do verde’. E o Chico pra mim é agora aquele tuiuiú, aquela garça branca… Ele só tá levantando voo, e como ele mesmo escreveu: ‘Embora sem penas, aprendi a voar'”, descreve.

Grupo Acaba arquivo
Registro antigo do Grupo Acaba. (Foto: Reprodução/Render Brasil Produções)

O jornalista Rodrigo Teixeira, que atualmente escreve um livro sobre o Grupo Acaba, explica que Chico trouxe um olhar único para a música de Mato Grosso do Sul.

“O Chico foi quem inaugurou um jeito de escrever na música de MS e quem introduziu pela primeira vez na música popular brasileira o dicionário pantaneiro. Ele foi o pioneiro em escrever sobre as coisas do Pantanal, a fauna e a flora,. E principalmente o modo de ser, suas histórias, suas lendas e como é o pantaneiro”, afirma.

Rodrigo Teixeira, jornalista e escritor

Para Rodrigo, o fato de Chico ter nascido em Albuquerque, distrito de Corumbá, faz dele um eterno menino pantaneiro.

“Costumo dizer que o Chico é aquele guri na beira do rio que as pessoas viam quando estavam na cabine do Trem do Pantanal, por isso ele é o verdadeiro poeta do Pantanal. Seu olhar é de quem nasceu dentro daquele universo e não de um forasteiro, que está ali de agem. Chico foi uma das principais cabeças da cultura de MS nos anos 1970 e 1980, e sua obra vai ecoar para todo o sempre”, garante.

Perda para a cultura de MS 422149

A família de Chico Lacerda emitiu uma nota de falecimento, que ressalta o legado do músico. “O Chico foi o responsável por inserir pela primeira vez o vocabulário pantaneiro na música popular brasileira. Quando ele faz, em 1975, a letra de ‘Ciranda Pantaneira’, ele funda uma escola nova e que iria resultar na essência do trabalho do Grupo Acaba, os Cantadores do Pantanal”, diz a nota.

“Foi o Chico quem usou pela primeira vez palavras como ‘camalote’, ‘carandá’, ‘capivara’, ‘Pantanal’, ‘bugre’ no âmbito tanto nacional como regional. Chico colocou uma lupa na cultura pantaneira e, pantaneiro legítimo, nascido em Albuquerque, na beira do Rio Paraguai, foi quem melhor decifrou os costumes, os hábitos, o jeito e o modo de ser do pantaneiro”, completa.

Chico Lacerda
Francisco Saturnino Lacerda Filho, mais conhecido como Chico, morreu nesta terça (18), em Campo Grande. (Foto: Reprodução)

O Governo de Mato Grosso do Sul também lamentou a perda do músico nesta terça-feira (18). “Chico, como era carinhosamente conhecido, trilhou caminhos distintos e escreveu história entre criação e direção de arte de sua agência de propaganda e shows do Grupo Acaba, embalados por canções recheadas de fauna, flora, cultura indígena e folclore do nosso Pantanal. Estendemos condolências aos familiares e amigos e registramos grande perda de um ícone de nossa cultura”, frisou comunicado.

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Palavras do artista, o pássaro branco 212954

No documentário de 50 anos do Grupo Acaba, Chico mostrou um pouco da sua preocupação com o Pantanal.

Você pode considerar aí 50 anos, 60 anos: o Pantanal vai ser uma lâmina d’água, que já é hoje (…) o que desce de terra, de areia, vai soterrar tudinho, vai virar aí uma lâmina d’água de 60 centímetros. Quanto tempo? Não sei. Mas caminha pra isso.

Chico Lacerda, músico

Há também momentos em que relata seu processo criativo e a relação que construiu com a música.

“Eu sempre escrevi olhando o lado poético, até porque eu não sei tocar absolutamente nada. Assim como pássaro branco (…) tudo na base de poesia… deixa ela escorregar”, relata Chico no documentário.

Confira um trecho do documentário: 5o213u

(Vídeo: Render Brasil Produções)

E agora, a música:

O velório será nesta quarta-feira, 19 de outubro, a partir das 10 horas, no Parque das Primaveras. O enterro acontece às 14 horas, no mesmo local.

Voa Chico!

Grupo Acaba no mercado
Chico e Grupo Acaba no Mercadão Municipal de Campo Grande. (Foto: Luiz Claudio Fogaça)
Grupo Acaba completo
Chico e todos os integrantes do Grupo Acaba no documentário de Flecha. (Foto: Reprodução/Render Brasil Produções)
Chico e fãs
Chico interagindo com fãs. (Foto: Reprodução/Render Brasil Produções)

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