Solo de MT e MS é rico em diversidade, mas proteção é negligenciada, diz estudo da Nature 6a536s

O pesquisador espanhol Alberto L. Teixido, doutor em ecologia, explica ao PP detalhes do levantamento 482u1h

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, assim como todo Brasil, são ricos em uma diversidade de espécies no solo e ofertam grande quantidade de serviços ecológicos, aponta o estudo global publicado na revista científica internacional Nature, em outubro do ano ado. No entanto, entre os principais resultados, a pesquisa mostra que nos dois estados e globalmente a conservação do solo é negligenciada.

Pesquisa constatou que solo é vulnerável globalmente.
Pesquisa constatou que solo é vulnerável globalmente. (Foto: Reprodução)

O estudo contou com a participação de 39 pesquisadores de diferentes nacionalidades, liderados por cientistas da Espanha e Alemanha. O primeiro autor é Carlos Guerra, e o autor sênior e pesquisador responsável é Manuel Delgado-Baquerizo, do Conselho Superior de Investigação Científica da Espanha.

Um dos autores é o espanhol Alberto L. Teixido, doutor em ecologia, que trabalhou como professor visitante internacional no Departamento de Botânica e Ecologia da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) entre 2018 e 2022.

Segundo Alberto, quando se fala em conservação, a noção social é voltada para as árvores, aos mamíferos e esquecemos que o solo possui uma grande função no sistema ecológico. “O solo contém uma alta riqueza de espécie, uma comunidade muito diversa e uma série de serviços de sistemas relevantes para a natureza. E o solo é muito importante para as plantas e os animais na interação ecológica”, diz o pesquisador ao Primeira Página.

Também por isso, o professor explica que há uma lacuna de conhecimento a nível global sobre o que acontece com os valores ecológicos do solo, como a riqueza, diversidade e serviços ecossistêmicos. Assim, entender o quão importante são os solos e conhecer as diferenças entre eles.

Alberto Teixido participou da pesquisa no Brasil.
Alberto L. Teixido participou da pesquisa no Brasil. (Foto: Arquivo)

A pesquisa foi feita por amostragem do solo com 10 cm de profundidade, nos seis continentes do mundo, incluindo a Antártica, em vários países. Foram verificados a genética, riqueza, diversidade e serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono, retenção de água e outros fatores. O estudo analisou os solos nativos, ou mais parecidos com uma área sem alteração humana.

O solo brasileiro é mais diverso 6l4l2t

Entre os principais resultados, o estudo mostra que há uma grande diferença entre três regiões do solo do planeta.

A região tropical, onde está situado o Brasil, foi encontrado no solo uma “dissimilaridade de comunidades maior”. Conforme Teixido, em um país como o Brasil, em dois estados diferentes, mesmo próximos, é possível encontrar uma variação maior de espécies.

“Imagina que você coleta duas amostras em Mato Grosso e Minas Gerais. As comunidades são muito diferentes. Elas têm espécies muito diferentes. Esse é uma situação bem geral no trópico. Se a gente vai para latitudes temperadas, na Europa, uma coleta na Espanha e Portugal, aí a riqueza, comparado com o Brasil, é maior. Porém, a similaridade entre os [solos dos] dois países são maior”, afirma o pesquisador.

Em resumo, o cientista explica que nos biomas tropicais, entre dois estados diferentes, tem uma diferença muito grande das espécies registradas. Já na Europa, aumenta o número de espécies, mas elas são mais similares.

Solo de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul 2b2s55

Segundo o pesquisador, a região de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, área pantaneira, mais do que os valores ecossistêmicos, tem uma variação quanto a grande diversidade de comunidades.

“Numa área pequena, tem muitas espécies diferentes numa mesma região. Em quantidade, há menos espécies que em outras regiões, mas são muito diferentes”, pontua.

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O Pantanal é maior planície alagada do mundo; com a seca e atingido pelo fogo, o ambiente sofre alterações. (Foto: Reprodução/Montagem PP)

Os dois estados compartilham dois biomas comuns, o Pantanal e o Cerrado. Alberto diz que os solos do Cerrado são mais importantes em termos de comunidades de espécies. No Pantanal, há uma intensidade alta na diferença das comunidades e serviços ecológicos.

Vulnerabilidades do solo: desmatamento, fogo e mudanças climáticas 16s4z

Os solos do mundo apresentam diversas vulnerabilidades, principalmente por sofrer uma pressão antrópica (ação do homem) muito grande, explica o pesquisador.

Em regiões como a de floresta amazônica, as árvores são importantes componentes, que protegem o solo e têm interações diretas com os microrganismos do ambiente.

Teixido conta que a destruição dos ecossistemas, no entanto, não se limita ao desmatamento. “Por exemplo, biomas que a densidade de árvores não é muito alta (Cerrado, Pampas, Caatinga), a presença de árvores não é tão importante. Parece que a restauração ecológica está sempre voltada para a árvore. Isso eu acho que é uma noção errada, que não apenas cientistas, mas a sociedade tem. O desmatamento é um problema sim, especialmente para ecossistemas arbóreos”.

Imagens mostram fogo se alastrando na região do Rio Negro, no Pantanal Sul (Foto: Leonardo Gomes/SOS Pantanal)
Imagens mostram fogo se alastrando na região do Rio Negro, no Pantanal Sul (Foto: Leonardo Gomes/SOS Pantanal)

O fogo quando atinge o solo é um problema especialmente pela perda de diversidade, segundo o cientista espanhol. “As comunidades ficam mais similares entre si; perda de serviços ecossistêmicos, como a capacidade de armazenar carbono, de reter água, a quantidade de matéria orgânica e; obviamente, a pressão do solo; a urbanização”. Conforme o professor, isso atinge da mesma forma áreas nativas como na transição de uma área natural e uma região já modificada.

O solo também é prejudicado pelas mudanças climáticas, devido às alterações aos regimes das chuvas, por exemplo. “Essa alteração global faz com que muda muito a relação entre as espécies, as necessidades de nichos das espécies que estão no solo”.

O pesquisador lembra que, às vezes, as adaptações das espécies não são tão rápidas quanto às mudanças do clima, principalmente quando se relaciona aos microrganismos.

No Pantanal, em especial, o fogo é uma das principais ameaças do solo, situação que tem se tornado frequente e intensa nos últimos anos. Além disso, o desmatamento para agricultura, pecuária e uso de uma única cultura em áreas que eram diversas, o solo fica empobrecido.

“As consequências disso vai ser mudar a retenção de água, mudar as interações entre solo e plantas, de microrganismos”, detalha. “Solos alterados. Diversidades alteradas”, finaliza o Teixido.

O que dizem os Estados 3s3m4y

Em Mato Grosso do Sul, as ações de preservação e recuperação do solo são realizadas por meio do Prosolo (Plano de Manejo e Conservação do Solo e Água no Estado de Mato Grosso do Sul). O secretário de Meio Ambiente Jaime Verruck disse, em entrevista ao Primeira Página, que foi realizado um diagnóstico onde foi verificado a assoreamento (acumulo de matéria no fundo do rio) em alguns rios, o que fez com que o governo criasse uma plano para conservação.

O secretário de Meio Ambiente de MS fala sobre o Prosolo.

O estado tem um convênio com a Embrapa-Solos (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para o mapeamento do perfil do solos em todas regiões. Nas unidades de conservação, a atenção tem sido nas nascentes dos rios, que são vulneráveis. No Pantanal, no entanto, Verruck diz que não há nenhuma ação de intervenção devido a capacidade de regeneração do bioma.

Por meio de nota, a Sema-MT (Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso) disse que o estado preserva 62% do seu território com ações firmes de fiscalização remota, por imagens de satélite de alta resolução, e in loco, com operações constantes nos municípios que mais desmatam ilegalmente.

“O local apontado no estudo como top 5% maior biodiversidade representa o Bioma Amazônia, que tem uma parte na porção Norte de Mato Grosso, e é prioritário nas ações de fiscalização para que o desmate seja apenas o autorizado, de acordo com o Código Florestal, que é a legislação mais restritiva do mundo”, diz a Sema.

O governo do estado ainda afirma que atua para a prevenção e combate dos incêndios, principalmente na época de estiagem, com a proibição do uso do fogo por decreto, ações de educação ambiental, formação de brigadistas, criação de mais um pelotão do Corpo de Bombeiros em Poconé e fez a compra de um helicóptero para operações em locais de difícil o.

Em áreas consideradas degradadas, segundo a Sema, 5,5 milhões de hectares estão em processo de restauração da vegetação, o que representa a recomposição de cerca de 6% do território estadual.

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