Leucena: a invasora silenciosa que Campo Grande quer erradicar 6j5a1c
Espécie chegou ao Brasil na década de 1970, vinda do México, com a intenção de ser uma alternativa alimentar para o gado e auxiliar na recuperação de áreas degradadas 3f6f53
Presente na maioria das áreas verdes da capital sul-mato-grossense, a leucena (Leucaena leucocephala) pode parecer inofensiva, mas carrega uma história controversa e representa uma ameaça ambiental. Essa espécie exótica, muitas vezes desconhecida pela população, é agora alvo de uma nova lei municipal que visa sua erradicação e controle.

A leucena chegou ao Brasil na década de 1970, vinda do México, com a intenção de ser uma alternativa alimentar para o gado e auxiliar na recuperação de áreas degradadas. No entanto, seu cultivo fugiu do controle devido à sua capacidade de se espalhar rapidamente e dominar o ambiente.
Ameaça ao ecossistema local 5g4vz
O biólogo José Milton Longo explica a agressividade da planta no meio ambiente.
“Ela é muito, muito agressiva, crescimento muito rápido e ela se espalhou para todos os fundos de vale aqui na nossa, especificamente aqui em Campo Grande, os fundos de vale, beiras de rodovias, ruas, porque ela tem um crescimento muito rápido, ela domina, ela forma essas florestas únicas, mono-dominantes de uma única espécie.”

Longo detalha ainda que a leucena libera um composto químico chamado mimosina, que é “extremamente alelopática”, ou seja, inibe a germinação de outras espécies ao seu redor.
“Ela domina e traz esse problema, digamos, um problema ambiental severo, porque ela tem crescimento muito rápido, elimina as outras espécies por sombreamento, não tem atrativos para fauna, somente na fase de florada que atrai algumas abelhas, mas no balanço ela tem essa toxicidade, né, o consumo elevado pode trazer problemas ao animal que a consome”, alerta o biólogo.

A pesquisadora Gisseli Giraldelli, bióloga e diretora da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, estuda a leucena há 15 anos e reforça que o crescimento descontrolado pode trazer riscos à saúde de todo o ecossistema.
“Uma área que sofre a invasão das leucenas ela começa a perder toda a biodiversidade e vira aquilo que a gente chama de deserto verde. Aparentemente você olha, fala ‘tá lindo, né, tá verdinho, tem uma mata ali’, e quando você chega lá é toda de uma espécie só. Então ela ameaça a fauna e a flora como um todo”, afirma.
Giraldelli também destaca o impacto na saúde humana: “Muitas vezes a gente tem uma situação em que a gente não se preocupa com a questão do verde urbano e é onde está o pior prejuízo para nós, os seres humanos. Por quê? Porque a perda de biodiversidade no ambiente urbano faz com que aquelas doenças que são relacionadas ao desequilíbrio ecossistêmico comecem a ocorrer. Então afeta a nossa saúde, afeta a nossa economia de uma maneira muito negativa”.

Lei e desafios para o controle 2601w
Nesta semana, o município de Campo Grande sancionou uma lei que prevê a erradicação e substituição das árvores da espécie na cidade. Publicada no Diário Oficial desta quarta-feira (4), a legislação também autoriza convênios com órgãos públicos e parcerias com instituições privadas para que a erradicação saia do papel.
A nova lei proíbe o plantio, comércio, transporte e a produção da planta exótica, prevendo multa de mil reais para quem descumprir.
Silvia Arahe Pereira, bióloga e auditora fiscal de Meio Ambiente da Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável), explica que a erradicação é um processo complexo.
“Até quando a lei traz a erradicação, é uma questão muito complexa que a gente vai chegar a pequenos os ao controle da espécie. Isso não é um processo rápido. Quando a gente está falando em substituição de uma espécie invasora, existe um planejamento. O papel da Semades agora nesse momento é estudar tecnicamente como proceder em cada situação específica, porque nós temos situação de ocupação da espécie em áreas de preservação permanente que requerem um procedimento específico, nós temos casos de árvores isoladas, ocupação dentro de lotes particulares e lotes públicos, então neste momento nós estamos tecnicamente debruçados para definir as diretrizes mínimas para a condução do controle da espécie em cada uma dessas situações em particular”, detalha.
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Para os biólogos, a solução está no controle da planta com manejo e monitoramento adequados.
“A leucena ainda é uma questão a ser resolvida no mundo. A gente ainda não conseguiu chegar num método de controle em larga escala que seja capaz de erradicá-la, mas a gente tem mecanismos de controle. Então, até que a gente consiga chegar, que a ciência consiga chegar nessa fórmula de erradicar a leucena, nós trabalhamos com o termo controle, vamos controlando, é como se fosse uma doença incurável, uma doença do ambiente, e que a gente vai controlando até que o dia que a gente consiga a cura, e o controle não é um controle que deve ser feito sem critérios técnicos”, reitera José Milton Longo.
Ele complementa que erradicar e extinguir é “muito, muito difícil” devido à alta viabilidade das sementes por muitos anos e a rebrota imediata da planta.

Substituição 3v4g21
O manejo adequado inclui a remoção da leucena e a substituição por uma espécie nativa de crescimento rápido para promover sombreamento e inibir seu desenvolvimento, além da remoção da camada de sementes do solo, que podem durar até cinco anos ou mais.