A chuva que voa: os rios invisíveis que nascem na Amazônia 2od
Cursos de água invisíveis cruzam os céus da América do Sul, regulando o clima e levando chuva até o Centro-Oeste; fenômeno depende da floresta em pé 1c4f54
O ponto de observação é lá no alto. A 50 metros do chão, acima das copas das árvores, uma torre instalada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), na divisa entre Mato Grosso e Pará, oferece uma vista privilegiada para um dos fenômenos mais extraordinários da natureza: os rios voadores.

A trilha até o topo exige preparo físico. Escadas íngremes conduzem a equipe ao cenário onde se desenha um espetáculo invisível a olho nu — mas essencial para o equilíbrio climático de todo o continente.
“Essas nuvens que vemos acima das árvores são os rios voadores. São correntes atmosféricas de vapor d’água formadas pela evapotranspiração das árvores”, explica a repórter Lorraine Costa, da TV Centro América. “É essa água, lançada pela floresta, que se transforma em chuva em outras regiões do país, inclusive no Centro-Oeste.”
A cientista Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), detalha o percurso: a umidade que vem do oceano entra pela Amazônia, segue em direção à Cordilheira dos Andes e é desviada para o interior da América do Sul. “Esse fenômeno leva muita água para várias regiões. A floresta responde por cerca de 50% da água que compõe os rios voadores”, afirma.
O processo começa no chão da floresta: a umidade do solo evapora e se soma à transpiração das árvores — uma liberação constante de vapor pelas folhas, como se fossem bilhões de pequenas válvulas naturais. O volume é tão grande que a Amazônia lança trilhões de litros de água por dia na atmosfera.
Mas esse sistema está ameaçado. “Estamos perdendo chuva ao longo das décadas justamente por causa do desmatamento”, alerta Gatti. “Menos floresta, menos água jogada no ar.”
A bióloga Thaís Bastos Zanata reforça: “A floresta de pé garante serviços ecossistêmicos. Ela nos dá ar puro, alimentos, sementes, e principalmente chuva. A gente depende da natureza viva.”
Os rios voadores não são vistos, mas seus efeitos são sentidos. Preservar a Amazônia não é apenas proteger árvores: é garantir que a água continue cruzando os céus e caindo onde dela mais se precisa.
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