Successione diz que Neno participou de reunião em QG e negociava R$ 30 milhões para o bicho 403z13

Acusado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) de chefiar uma organização criminosa ligada ao jogo do bicho, o deputado estadual Roberto Razuk Filho, o Neno (PL), tinha atuação direta na formação de um grupo de pessoas que tinha o objetivo de tomar o controle da atividade em Campo Grande.

O grupo tinha planos de ass um rival e mais quatro pessoas, segundo as investigações. Além disso, estava negociando com um investidor, não identificado, um aporte de R$ 30 milhões para aplicar na exploração do jogo de azar em Campo Grande, o qual pretendia monopolizar, segundo os resultados da operação Successione.

Essas inferências constam da denúncia contra Neno e mais catorze pessoas, apresentada à Justiça em dezembro de 2023, e neste momento à espera da notificação de todos os envolvidos para responder formalmente às acusações.

No documento, o Gaeco lista uma série de evidências da liderança de Neno sobre o grupo.

Entre elas, está o depoimento de uma testemunha que relatou ter conversado, por chamada de vídeo, com o parlamentar, no dia 16 de outubro pela manhã, quando foi descoberto um QG do grupo sob investigação, no bairro Monte Castelo. O lugar sediava uma reunião para tratar do início das operações e distribuir tarefas.

As 10 pessoas que estavam lá são rés no processo. Outras cinco foram denunciadas a partir do resultado das diligências feitas pelo Gaeco com autorização do Judiciário.

No QG, na tarde do mesmo dia dos roubos, foram descobertas mais de 700 máquinas de registro de aposta do jogo bicho, por equipe do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), em meio a investigação dos assaltos.

Os crimes, todos cometidos em poucas horas, tiveram como vítimas homens responsáveis por recolher dinheiro das apostas na loteria ilegal, por um grupo atuante na cidade desde que a operação Omertà levou para a cadeia integrantes da família Name, historicamente conhecidos por comandar a ilegalidade na cidade.

A testemunha que revelou a conversa por vídeo com o deputado é uma das vítimas dos assaltos.

Ele relatou ter sido chamado à reunião no QG do jogo do bicho para mudar de lado, deixando o grupo para o qual trabalhava, identificado como MTS, e aderindo à turma comandada por Neno Razuk.

“Ao ser perguntado sobre os detalhes da reunião no ponto de concentração do jogo do bicho, horas antes do roubo, contou haver exigido inicialmente saber quem é o chefe da organização criminosa, para, então, dizer se aceitaria ou não a proposta de adesão às atividades do grupo”, diz o texto da denúncia.

“Quem que é o chefe de vocês, cara? Pra mim… eu tenho que saber quem é o chefe de vocês pra tomar conta”

Diálogo atribuído à testemunha

Nesse momento, prossegue o documento, o homem foi colocado em videoconferência “com o líder Roberto Razuk Filho.”

“Fez uma chamada de vídeo com esse do Damha, não dava pra ele ir lá […] Razuk mesmo”).

Na sequência, a narrativa ouvida pelos promotores do Gaeco é de que a testemunha recebeu do interlocutor por vídeo – Neno – a ordem de imediatamente iniciar a trabalhar com o grupo criminoso

“[…] já começa trabalhar com nós”

Fala de Neno Razuk descrita por testemunha ao Gaeco

O homem não confirmou de imediato, dizendo precisar de mais tempo para decidir. Nesse mesmo dia, sofreu o assalto, visto pelos investigadores como uma forma de pressão para entrar no esquema, assim como os outros dois casos.

Que não aceitava, era vítima de violência. A desconfiança é de que existem outros registros, sem denúncia à polícia.

O cabeça 3j68

Para o Gaeco, a participação de Neno Razuk foi tão grande na organização da ofensiva criminosa para tomar o controle do jogo do bicho que os assaltantes e demais envolvidos nos roubos aos “recolhes” dispunham de livre trânsito no imóvel onde mora, no residencial Damha III.

Tinham, inclusive, cadastro de reconhecimento facial para ilimitadas entradas e saídas, revelam as apurações. Para ir ao local, usaram veículos flagrados nos assaltos, um deles alugados no nome do político do PL.

A investigação levantou, a partir de documentos fornecidos pelo condomínio de luxo, várias visitas dos investigados, antes e depois dos crimes de roubo atribuídos à organização criminosa.

Investidor de milhões 303l3a

Em outro trecho da acusação, é relatada uma negociação de Neno Razuk com um investidor na atividade ilegal. O valor citado é de R$ 30 milhões.

A conversa, conforme consta da peça processual apresentada à Justiça, foi entre o deputado estadual e o major reformado da Polícia Militar, Gilberto Luis dos Santos, espécie de gerente da quadrilha, que até o estouro da operação Successione, era nomeado como assessor parlamentar na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul).

Diferentemente do habitual, conversar por meio de ligação no Whatsapp ou por por mensagem de voz, que não ficam registrados, nesse dia o papo foi por escrito, porque o áudio apresentava problemas.

“Acerca das tarefas incumbidas ao líder Roberto Razuk Filho (Neno Razuk), consta do aparelho celular do gerente maj QOPM Giberto Luis dos Santos (“Coronel”, “G.Santos” e/ou “Barba”) esclarecedora conversa travada em 1º.12.2023, ou seja, em data recente e após os roubos”, escrevem os promotores.

No diálogo captado, Neno Razuk questiona ao gerente Coronel “se um pretenso investidor no jogo ilegal ’tem bala’, ou seja, se dispõe de aporte financeiro para o investimento ilícito”, está descrito na peça judicial.

O gerente, então, afirma não ter certeza, e complementa dizendo ter comentado sobre a empreitada envolver R$ 30 milhões e, do outro lado, o tal investidor não ter apresentado tom de espanto.

“Ah Neno, tem que… tem que conversar com ele né cara, quando falei no valor de 30 milhões, ele nem se abalou não, ele falou “Pô! Legal ué, se for coisa boa, me explica pra mim como funciona […]”)”

Diálogo por aplicativo entre Neno Razuk e Coronel

G.Santos comenta ter interrompido a conversa dizendo que somente Razuk saberia explicar o funcionamento. “Eu não sei explicar como funciona, Eu falei vou colocar você com o Neno, o Neno te explica como funciona”, foi transcrito pelo Gaeco.

Às vésperas da deflagração da operação Successione, outros dois investigados, que estão presos, travaram conversa falando sobre a estrutura que, mesmo com a apreensão de 700 máquinas em outubro, estava sendo preparada para operar o jogo do bicho a partir de janeiro de 2024, com a participação de integrantes da banca do MTS. Outras 800 máquinas já haviam sido compradas.

No dias 3 e 4 dezembro, os denunciados Mateus Aquino Junior e Diogo Francisco, o Barone, comentam sobre a existência de 15 cambistas esperando talão de apostas, na região dos bairros Alves Pereira, Rouxinol e Universitário.

Na acepção do Gaeco, o teor confirma a efetiva implantação do jogo ilícito em Campo Grande pelos comandados por Neno.

“Há, portanto, robustas provas do exercício efetivo da liderança da organização criminosa por parte do denunciado Roberto Razuk (Neno Razuk”), a quem igualmente recai o mando dos 3 (três) roubos, ladeado dos denunciados maj QOPM Gilberto Luiz dos Santos e José Eduardo Abdulahad (“Zeizo”, “Zenzo” e/ou “Z”).

Gaeco em peça processual

Gerente foragido 244y2z

José Eduardo Abdulahad é classificado como outro gerente do grupo, diante da expertisse com jogos de azar na região sul do estado. Ele está foragido.

No dia 16 de outubro, quando o QG do bairro Monte Castelo foi descoberto, “Zeizo”, como é chamado, foi quem abriu a porta para equipe do Garras.

A análise do material aprendido pelo Gaeco nas duas fases da operação Successione revela a posição de comando de José Eduardo, que é de Ponta Porã, e já foi preso por envolvimento com a exploração de jogos de azar.

“O registro de diálogos entre o investigado Gilberto dos Santos e o também investigado José Eduardo Abdulahad, conhecido como “Zeizo” revelam as tratativas para implementação do sistema, que pelo contexto inserido se trata da exploração para o jogo do bicho, incluindo aí o investigado Neno Razuk, no qual fica claro que este teria trazido equipamentos para operacionalizar o respectivo sistema”, afirmam promotores à Justiça.

A testemunha que revelou ter falado com Neno Razuk por videoconferência sobre a entrada no grupo também contou em depoimento que, na casa do Monte Castelo, ouviu do denunciado José Eduardo que eles dominariam o jogo do bicho em Campo Grande.

Planos de assassinatos 493l1d

Outra fala creditada a “Zeizo” é de que “a cabeça” do líder da organização criminosa rival já estaria encomendada, ao preço de R$ 50 mil.

Pelas investigações da Successione, o bando liderado por um deputado estadual pretendia copiar os traços violentos que costumam acompanhar a exploração do jogo do bicho. Foram encontradas referência a cinco pessoas que estavam marcadas para morrer.

O nome de três, dois homens e uma mulher, aparece em uma anotação encontrada com o major G.Santos. Uma outra pessoa, chamada apenas de Macaule, é citada numa conversa entre Mateus Aquino e Diogo.

Eles dizem que estão esperando o contato de Zeizo, cogitam que ele deve estar resolvendo alguma situação e depois afirmam esperar que seja em relação a Macaule, usando o termo “sumir com ele”.

“Tem-se, portanto, pelo próprio teor dos diálogos, que a organização criminosa liderada por Roberto Razuk Filho (‘Neno RAzuk’) está habituada a empregar a violência em suas investidas, além da confirmação de que os 3 (três) roubos apurados nesta investigação representam uma pequena parcela de vários crimes violentos praticados pelo grupo no curso da disputa pelo controle do jogo do bicho em Campo Grande/MS”, argumenta o Gaeco na denúncia, processada na 3ª Vara Criminal.

Protocolada em dezembro do ano ado, a denúncia foi recebida pela juíza May Melke do Amaral neste mês.

A magistrada determinou que a Asssembleia Legislativa fosse notificada da existência de processo contra um parlamentar, cumprindo a legislação que permite ao Legislativo pedir a suspensão da ação enquanto durar o mandato do parlamentar, por se tratar de crime fora do exercício parlamentar. A Casa não tomou providências e disse que só o fará se for provocada.

Quanto aos réus, foi expedida notificação para apresentarem resposta à acusação, no prazo de 10 dias após recebido o documento.

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Ao Primeira Página, o advogado de Neno Razuk, João Arnar Ribeiro, informou ainda não ter sido oficiado do teor da denúncia e por isso não comentaria as informações apuradas pela reportagem.

Resposta igual foi dada por Cézar Lopes, advogado que representa mais de um investigado, entre eles José Eduardo Abdulahd, que está foragido. Indagado se o cliente pretende se apresentar, ele disse não ter resposta.

Confira abaixo todos os réus e os crimespelos quais o Gaeco quer condená-los: 695c1s

• Roberto Razuk Filho – integrar organização criminosa armada em concurso de pessoas, com transporte de valores e emprego de arma de fogo; roubo triplamente majorado por três vezes, também em concurso de pessoas, com transporte de valores e emprego de arma de fogo; exploração ilegal do jogo do bicho, em concurso material
  
• José Eduardo Abdulahad, “Zeizo”, “Zenzo” ou “Z”: integrar organização criminosa armada, em concurso de pessoas, com transporte de valores e emprego de arma de fogo); roubo triplamente majorado, por três vezes, em concurso de pessoas, com serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo; exploração ilegal do jogo do bicho, em concurso material
  
• Gilberto Luis dos Santos, “Coronel”, “G.Santos” ou “Barba”: integrar organização criminosa armada; em concurso de pessoas, com serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo; roubo triplamente majorado por três vezes, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores) e emprego de arma de fogo, exploração ilegal do jogo do bicho) c.c. art. 71 do Código Penal (diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023), aplicando-se, ao final, a regra prevista no art. 69 do Código Penal (concurso material);
  
• Carlito Gonçalvez Miranda: integrar organização criminosa armada em concurso de pessoas, com transporte de valores e emprego de arma de fogo; roubo triplamente majorado por três vezes, também em concurso de pessoas, com transporte de valores e emprego de arma de fogo; exploração ilegal do jogo do bicho, em concurso material, por diversas vezes
  
• Diego de Souza Nunes: integrar organização criminosa armada; exploração ilegal do jogo do bicho por diversas vezes ao longo de 2023, também em concurso material;
  
• Diogo Francisco, “Barone: integrar organização criminosa armada; exploração ilegal do jogo do bicho por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material;
  
• Edilson Rodrigues Ferreira, “Mentirinha”: integrar organização criminosa armada); exploração ilegal do jogo do bicho por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material
  
• Julio Cesar Ferreira dos Santos: integrar organização criminosa armada; exploração ilegal do jogo do bicho por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material
  
• Luiz Paulo Bernardes Braga: integrar organização criminosa armada; exploração ilegal do jogo do bicho, por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material);
  
• Mateus Aquino Junior: integrar organização criminosa armada, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo, do Código Penal; roubo triplamente majorado por três vezes, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores, e emprego de arma de fogo; exploração ilegal do jogo do bicho
  
• Manoel José Ribeiro: integrar organização criminosa armada, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo; roubo triplamente majorado por três vezes, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo; exploração ilegal do jogo do bicho por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023), em concurso material;
  
• Taygor Ivan Moretto Pelisssari: integrar organização criminosa armada e exploração ilegal do jogo do bicho, por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material;
  
• Tiano Waldenor de Moraes: integrar organização criminosa armada, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo; roubo triplamente majorado por uma vez; exploração ilegal do jogo do bicho diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023), em concurso material
  
• Valnir Queiroz Martinelli (“Cebola”): integrar organização criminosa armada, exploração ilegal do jogo do bicho, diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material.
  
• Wilson Souza Goulart (“Neguinho”): integrar organização criminosa armada, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores e emprego de arma de fogo; roubo triplamente majorado por duas vezes, em concurso de pessoas, serviço de transporte de valores emeprego de arma de fogo; exploração ilegal do jogo do bicho por diversas e seguidas vezes durante o ano de 2023, em concurso material.