Capivara Criminal 5g3p65

Quem é quem no júri da década em Campo Grande 455v3c

Não falta personagem com história a ser contada nesse episódio tão esperado do mundo jurídico sul-mato-grossense, o 1º júri da operação Omertá 5t225f

Segunda-feira, 17 de julho de 2023, Fórum de Campo Grande, a partir das 8h. No endereço onde outrora funcionou o primeiro presídio da cidade, está marcado para começar o júri popular já anotado na história regional, mesmo se uma surpresa jurídica impedir a realização. Em se confirmando, vai ser a primeira vez de um Name no banco dos réus por crime de pistolagem, depois de décadas em que a família foi influente, vista com temor, sob vistas grossas de agentes do poder público e à base de corrupção, tal qual indicou a operação Omertà, nominada assim em referência ao código de silêncio decretado pelas máfias.

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Jamil Name Filho, à esquerda, Vladenilson Olmedo, no centro da foto, e Marcelo Rios, à direita. (Fotos: reprodução de processo)

Não falta personagem com história para ser contada nesse episódio tão esperado do mundo jurídico sul-mato-grossense, desde réus e testemunhas aos operadores do Direito envolvidos na contenda. A Capivara Criminal deste domingo trata disso: o quem é quem no “júri da década”.

A vítima 733i2a

  • Matheus Coutinho Xavier

Matheus Coutinho Xavier estudava Direito e tinha 20 anos. Se formaria no ano ado. Tinha em mente o desejo de se tornar diplomata, carreira de alta concorrência e grau de dificuldade intenso para o.

No dia 9 de abril de 2019, o estudante universitário manobrava a S10 normalmente usada pelo pai, na garagem de casa, quando foi alvejado por uma dezena de tiros de fuzil AK 47. O pai tentou levá-lo para a Santa Casa de Campo Grande, no outro carro da família. O rapaz chegou sem vida.

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Matheus Coutinho Xavier, que foi assassinado em emboscada feita para o pai dele. (Foto: redes sociais)

Os réus 6y456r

  • Jamil Name Filho

Mais conhecido como “Jamilzinho”, “Bob” ou ainda “Guri”, é o primogênito de Jamil Name, o “Jamilzão” ou “Velho”, nome influente na sociedade local por muitos anos, com atuação em diversas áreas – imóveis, pecuária, título de capitalização e até o Joquéi Club de Campo Grande, criado e comandado por “Jamilzão”. Por trás desses negócios legais, operava segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), uma milícia armada para eliminar quem fizesse frente a real fonte de renda, a exploração do jogo do bicho e a agiotagem mediante extorsão.

Jamil Name Filho, 46 anos, é acusado de, junto com o pai, falecido na cadeia em 2021, encomendar a morte de Paulo Roberto Teixeira Xavier, por R$ 120 mil, por vingança a uma suposta traição nos negócios. Os executores erraram o alvo e quem morreu foi o filho do inimigo dos Name.

“Guri” já tem três condenações derivadas da Operação Omertà, que somam quase 24 anos de reclusão. Nenhuma delas transitou em julgado, ou seja, ainda cabem recursos.

  • Marcelo Rios

Ex-guarda civil metropolitano de Campo Grande, Marcelo Rios, 46 anos, é réu sob denúncia de ter providenciado os meios para a execução ser levada a termo, agindo como espécie de gerente da milícia armada. Entre os meios relacionados, está a contratação dos pistoleiros, a aquisição da arma pesada, depois descartada, e de um veículo incendiado após o crime.

Está preso desde maio de 2019, um mês após a morte de Matheus, por outro acontecimento investigado na operação Omertà, a descoberta de um paiol de armas em imóvel da família Name no Jardim Monte Líbano. Tem condenação em relação a esse caso e está recorrendo no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

  • Vladenilson Daniel Olmedo

Segundo a denúncia, Vladenilson Daniel Olmedo, 63 anos, fazia parte do núcleo de gerência do escritório de pistolagem e também concorreu para a viabilização da logística para o ataque fatal a Matheus Coutinho Xavier. Segue preso desde setembro de 2019, quando a Omertà foi às ruas. Ficou até o começo de junho no presídio federal de Mossoró (RN) e agora está em Campo Grande, no presídio fechado da Gameleira 2, apelidado de “Supermáxima”, em razão do esquema mais rígido de custódia.

As testemunhas r1m41

  • Paulo Roberto Teixeira Xavier

Policial militar até o ano ado, quando foi excluído pela corporação, em razão de condenação judicial, o pai de Matheus Coutinho Xavier, Paulo Roberto Teixeira Xavier, 46 anos, prestou serviços no ado para a família Name.

Teria virado desafeto do clã depois de mudar de lado em uma transação milionária envolvendo a fazenda Figueira, propriedade rural que já foi da associação do Reverendo Moon, em Jardim. “PX”, como é chamado, chegou a ficar preso nos anos 2000, por suspeita de envolvimento na máfia dos caça-níqueis. A operação na qual foi preso, a Xeque-Mate, foi anulada pela Justiça Federal.

Ele vai depor pela acusação, na qualidade de informante, pois tem interesse direto na condenação dos réus. Nesse tipo de depoimento, não é firmado o compromisso de falar somente a verdade.

  • Eliane Benitez Batalha

Esposa de Marcelo Rios, Eliane Benitez Batalha é um personagem chave na operação Omertà. Falará por duas vezes nas audiências de julgamento desta semana. Prestará depoimento em defesa de Jamil Name Filho, ex-patrão do marido, segundo a acusação, e será ouvida na condição de informante na cota de testemunhas de Marcelo Rios.

Depoimento de Eliane dado em maio de 2019, ao Gaeco, é uma espécie de fio condutor das denúncias derivadas da operação Omertà. No dia, ela revelou contatos suspeitos com a família Name e outros investigados pela ofensiva, dando detalhes sobre o que ouviu e viu a respeito de execuções atribuídas ao grupo. As declarações foram explosivas pois iam ao encontro das suspeitas sobre os implicados.

Em juízo, Eliane deu outra versão, alegando até mesmo ter sido coagida a mentir por policiais e promotores. Essas denúncias nunca avançaram. Os oficiais de justiça não localizaram Eliane para intimar sobre o depoimento. Essa tarefa ficou com as defesas que a convocaram.

  • Orlando de Curicica

Ex-policial militar do Rio de Janeiro, Orlando Oliveira de Araujo, o Orlando Curicica, é suspeito de chefiar milícia armada em Jacarépaguá, no Rio de Janeiro. Cumpre pena em Mossoró, onde estão Marcelo Rios e Jamil Name Filho. Foi convocado para depor em favor de Rios.

No ano ado, foi condenado a 25 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado, como mandante Carlos Alexandre Pereira Maria, em 8 de abril de 2018, na Taquara, Zona Oeste do Rio. Chegou a ser apontado como um dos envolvidos no assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, em março de 2018.

O depoimento de Curicica será por videoconferência.

  • Delegados da Omertà

Dos cinco delegados de Polícia Civil que integraram a força-tarefa criada para investigar mortes com as mesmas características da execução de Matheus, colocadas na conta de duas milícias armadas consorciadas, quatro prestarão depoimento no primeiro dia do júri de Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson. As autoridades são testemunhas da promotoria, responsável por convencer o júri popular da culpa dos acusados.

Um dos delegados, Carlos Delano, titular da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), revelou em depoimento à Justiça ter sofrido pressão de seus superiores diretos para não avançar na apuração do caso, sob argumento de ameaça a sua integridade física, nunca detalhada. Foi, inclusive retirado da chefia da unidade, em abril de 2019, logo após a prisão de um técnico em informática, contratado para localizar o alvo em tempo real, como relata o processo. Depois da deflagração da Omertà, Delano foi devolvido ao cargo de titular da unidade, onde segue até o momento.

O presidente do júri 5i6u60

  • Aluízio Pereira dos Santos

O juiz Aluízio Pereira dos Santos atua no Tribunal do Júri há 18 anos, tempo suficiente para presidir mais de 1,7 mil julgamentos de réus por crimes contra a vida. Foi o responsável por um dos processos mais complexos vistos no estado, a acusação contra a médica Neide Mota Machado, de fazer abortos em mais de 10 mil mulheres em uma clínica na rua Marechal Rondon, em Campo Grande. Neide foi encontrada morta, em 2008.

Aluízio marcou a data do júri pela morte de Matheus Coutinho Xavier três vezes, até chegar à atual. Teve de reagendar por causa de recursos dos denunciados. A primeira data foi para outubro de 2020. Apelações manobradas pela defesa derrubaram essa data. A ação ficou um ano parada. Quando foi retomada, a data da agenda mudou para fevereiro deste ano, depois para maio e, por fim, para o período entre 17 e 20 de julho.

Está tudo pronto, mas uma surpresa vinda dos tribunais não é impossível, e até mesmo na hora do júri, podem haver manobras, como renúncia de patronos e até ausência de jurados. Dos 25 convocados, teve pelo menos três jurados pedindo dispensa, sob os mais variados motivos.

Os promotores 14s69

Serão quatro representantes do Ministério Público no plenário, dois que já atuam junto à 2ª Vara do Tribunal do Júri, Douglas Oldegardo dos Santos e Luciana do Amaral Rabelo, e dois designados pela Procuradora Geral de Justiça, Moisés Casarotto, vindo de Três Lagoas, e Gerson Eduardo de Araújo, do Gaeco.

Gerson enfrentou, às vésperas do júri, uma alegação de suspeição pela defesa de Jamil Name Filho. Os advogados afirmaram haver inimizade à família Name da parte dele, citando como exemplo a existência de uma queixa-crime no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), relacionada à atuação do Gaeco em processo na 1ª Vara do Tribunal do Júri. O juiz acabou rejeitando o pedido, na sexta-feira (14) e mantendo tanto a sessão de julgamento quanto a presença do promotor no plenário.

Assistência de acusação 3n5s3m

  • Cristiane de Almeida Coutinho

A advogada Cristiane de Almeida Coutinho é mãe da vítima do assassinato por engano. ados quase quatro anos da perda do filho, ela manteve silêncio e viveu a dor sem manifestações públicas.

No dia 11 de julho, pediu para ser habilitada como assistente de acusação, direito de toda família vítima de crime contra a vida. Procurada pela Capivara Criminal, Cristiane agradeceu o apoio da imprensa e disse que só dará entrevista depois do julgamento.

Os advogados 614gn

Serão mais de dez operadores do Direito em plenário. Entre eles, o nome de mais peso é o de Nefi Cordeiro. Ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) até 2022, Nefi Cordeiro foi um dos investimentos mais recentes da família de Jamil Name Filho para sua representação legal. Conforme a apuração da coluna, esse será o primeiro júri do agora advogado depois de se aposentar precocemente do STJ.

Cordeiro, conforme apurado, estará no plenário para a defesa do cliente, junto com Eugênio Malavasi, criminalista de Santos (SP), que tem no currículo centenas de júris pelo país.

Leia mais n1u6n

  1. 1º júri de Jamilzinho reúne 4 promotores e ex-ministro do STJ 2z654e

  2. Jamilzinho e os outros condenados da Omertá 1q6b4m

A história acontecendo 2o4s32

O lugar onde ocorre o júri, no encontro entre as ruas Barão do Rio Branco, 25 de dezembro e da Paz, tem retrospecto de peso na história de Campo Grande. Ali funcionou o primeiro presídio da cidade, depois transformado em unidade policial e por fim em Fórum da Justiça estadual.

Entre milhares e milhares de júris, foi naquele prédio que Fernandinho Beira-Mar, tido como como um dos mais perigosos bandidos do Brasil, foi julgado em, 10 de novembro de 2009, pela encomenda da morte de João Morel. O assassinato, dentro do presídio estadual de segurança máxima de Campo Grande, aconteceu no contexto de disputa pelo controle do tráfico de drogas na faixa de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, nas cidades gêmeas de Coronel Sapucaia, onde se fala português, e Capitan Bado, onde a língua é o castelhano. Essa morte abriu uma guerra sangrenta na época, com execuções dos dois lados.

Entre os dois julgamentos, são 14 anos. Eles guardam semelhança na repercussão e na estrutura de segurança. Em 2009, o perímetro do Fórum chegou a ter o trânsito fechado e só entrava no Tribunal do júri quem estava credenciado.

Tribunal do Júri em Campo Grande fica no Fórum da cidade
Fachada do prédio onde fica o Tribunal do Júri em Campo Grande. (Foto: Marta de Jesus)

Dessa vez, haverá reforço policial, mas o trânsito não estará impedido. Viaturas do Batalhão de Choque da Polícia Militar ficarão a postos no entorno do prédio. Dentro, a segurança fica a cargo dos policiais já cedidos para o Judiciário. Nas vias próximas, haverá ainda rondas de guarnições de outras unidades.

Nem adianta perguntar sobre número de policiais envolvidos, pois é tratado como sigilo total, por questões de segurança.

As sessões começam todo dia às 8h e estão previstas para encerrar-se às 17h. Para assistir, é preciso se antecipar e chegar logo, pois os lugares não serão marcados. Haverá espaço no plenário do auditório do Tribunal do Júri e em uma sala anexa, por meio de um telão.

Caso seja preciso, o julgamento poderá avançar por mais dias.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Capivara Criminal, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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