Perícia em celular evidencia rotina de violência na vida de Sophia 5n1pb
Conversas entre marido e mulher revelam uma série de agressões e ameaças não só a Sophia, mas também ao irmão mais velho dela, de 5 anos 5j32f
ados pouco mais de nove meses do dia em que Sophia Ocampos foi levada sem vida a uma unidade de saúde de Campo Grande, a perícia entregou à Justiça a análise feita telefones celulares da mãe dela, Stéphanie de Jesus e do padrasto Christian Campoçano – presos desde janeiro deste ano pelo assassinato da menina, que viveu apenas 2 anos e 7 meses.

O conteúdo só veio à tona depois da insistência da assistência de acusação na perícia dos celulares, que foram enviados para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), uma vez que a Polícia Técnica havia informado que não conseguiu desbloquear os aparelhos recolhidos pela Polícia Civil no dia do crime.
Nas conversas, marido e mulher revelam uma série de agressões e ameaças não só a Sophia, mas também ao irmão mais velho dela, filho de Christian, de 5 anos.
A troca de mensagens que narra o ambiente de violência e medo na casa da família começa em 2021 e estava guardada na memória do celular de Stéphanie. As agressões partem dos dois adultos, sempre com ar de “correção”.
Os pais falavam das sessões de espancamento com tom de orgulho. Nas mensagens, Christian chegou a ensinar a mulher a bater nos filhos, além de orientar sobre como fazer para Sophia parar de chorar.
“Vira a cara dela pro colchão e fica segurando porque ai ela para de chorar, é sério, parece até tortura mais não é, porque ai ela fica sem ar e para de chorar”.
Mensagens de Christian para a mãe de Sophia
Ao longo da conversa, algo muito mais grave fica claro: dentro da casa, imperava o medo.
Linha do tempo de horror 5x304y
A maioria das conversar foram retiradas do telefone de Stéphanie. A primeira mensagem listada é de 2 de dezembro de 2021, quando Sophia apanha por “tirar” os brinquedos da mão do irmão.
“Ela começou com sem graça de querer pegar tudo na mão dele aí ele foi e entregou, aí tipo, ela começou a bater nele aí ele foi e falou para mim, aí eu fui e briguei com ela. Ai virei para o lado um pouquinho ela foi e bateu nele de novo. Aí eu catei fui e falei com ela de novo, aí eu tava com a caneta da mesa digitalizadora na mão né, aí bem na hora que ela foi bater nele aí eu peguei eu catei e bati bem no dedo dela, aí ela já entortou a boca, eu falei se você chorasse você apanha de novo, ficou quieto, aí não deu mais”.
Mensagem de Christian em áudio
No mesmo dia, ele narra agressões ao filho mais velho depois que ele derrubou e quebrou o ventilador da casa.
– “Eu acho que você deve ter espancado ele né?”
Conteúdo do celular periciado
– “Espancado foi pouco, eu acabei de arrebentar ele foi só no murro só. Murro e chinelada no pé para ele larga de ser besta”
[…]
– “A Sophia tá aqui sentada e quieta depois de ver eu batendo no ****, diz Christhian
Stephanie responde:
“É tipo o **** quando me vê batendo na Sophia, também fica quieto”
Leia mais n1u6n
No dia 9 de dezembro do mesmo ano, é Stephanie quem bate no menino que, supostamente, teria derrubado a irmã. Na conversa, ela “reclama” de que não tem força no braço e por isso o menino sequer sente o “corretivo”; chineladas no corpo.
– “Só que nem faz efeito”
Conteúdo de celular periciado
– “Tá criando residência”, responde Christian
– “Chorou só uns 2 minutos, parou rapidão”
Depois disso, Stephanie conta detalhes de como foi: o irmão teria puxado a pequena pelos ombros.
– “Porém, ele tá acostumado com você. Minha chinelada nem faz efeito”
– “É só bater forte né amor”
Cinco dias depois, a cena de repete; Stephanie volta a dar chineladas no enteado.
– “Acabei de dar uma chinelada no ****. Dessa vez doeu tenho certeza, tá chorando ainda e não para de chorar”.
– “Bem feito, ele tem que apanhar mesmo, está muito palhaço é só aquela transtornada lembrar dele que ele começa a ficar assim”, responde o pai.
O tempo a e em 26 de março de 2022 a mãe demostra mais uma vez o lado violento, dessa vez com a filha, diz que vai “tacar Sophia na parede” e recebe instruções assustadoras de como fazer a pequena parar de chorar.
– “Desde a hora que você saiu ela não para de chorar. Já bati e não adiantou nada”
Conteúdo de celular periciado
– “Porque você não pega o celular e fala que vai ligar para mim, sei lá, vai tentando assustar ela com alguma coisa”, diz Christian.
– “Eu estou tentando aqui, BO a parada, mas, mesmo assim, minha cabeça está explodindo mais que tava”
– “Da uns tapão nela, ai você vira a cara dela pro colchão e fica segurando porque ai ela para de chorar, é sério, parece até tortura mais não é, porque ai ela fica sem ar e para de chorar, entendeu”.
Em agosto Chistian inclusive orienta a mulher a ameaçar quebrar o pescoço da menina. Confira o diálogo na foto:

No mesmo mês, a mãe pergunta se o marido mordeu Sophia.
– “Você chegou a morder mais ela? Ela tá com uma mordida enorme no braço”
Conteúdo de celular periciado
– “Mordi ela. Mas esse foi quando a gente tava brincando. Sabe que não controlo a mordida, ela é macia demais”
No dia 16 de novembro, o próprio padrasto nota que a menina está com a boca sangrando depois de mais uma sessão de espancamento.

No mês de janeiro de 2023, dias antes da morte da menina, Christian conta a esposa que os filhos – Sophia e o irmão mais velho – não queriam comer e por isso deixou os dois de castigo: para provar, manda uma foto dos dois em pé ao lado do carrinho da caçula da família e alega que não vão sentar enquanto não terminarem.
– “A Sophia só deu três colheradas até agora é muito”, narra o padrasto.
Conteúdo de celular periciado
– “Deixa ela ar fome, deixa ela sem comer”, orienta a mãe.
Cerca de 40 minutos depois da foto, ele volta a falar com a mulher. Dessa vez para contar que bateu nos dois.
“Ela vai comer, ela vai comer, está de palhaçada com minha cara, vai para casa do pai dela e volta assim, não, ela vai comer. Eles apanharam de cinto hoje, eu não vou nem fazer questão de encostar a mão, vai apanhar só de cinto agora. Só que foi umas chicotadas cabulosas (risos) estralou, sem ser o cinto de couro. Se fosse o cinto de couro essa hora estava até sangrando com as chicotadas que eu dei neles”.
O laudo ainda relembra as mensagens trocadas pelo casal no dia em que Sophia foi levada sem vida para um posto de saúde da cidade. As mensagens reforçam a tentativa de Stéphanie em encobrir as agressões ao perguntar ao marido o que deveria falar com a polícia, a resposta deixa claro a vida de violência da pequena. “Fala que se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez”.
O processo sobre a morte de Sophia já está na parte final, mas ainda não há data para o julgamento.
A reportagem procurou a defesa dos réus, mas ainda não obteve resposta.