Morte de Bomba, ex-segurança de Rafaat, segue sem respostas 6w1w1f
Inquérito no âmbito da operação Omertà foi arquivado por falta de elementos para apontar culpados por execução de Orlando da Silva Fernandes, ocorrida em Campo Grande, em outubro de 2018 4z2y1y
Um corpo estendido no chão, estraçalhado por disparos de fuzil. Uma camionete branca blindada atingida por parte desses disparos. O asfalto marcado pela artilharia pesada.
O cenário da execução de Orlando da Silva Fernandes, de 41 anos, no dia 26 de outubro de 2018, imprimiu um carimbo de sangue na esquina da rua Amazonas com a rua Enramada, no bairro Monte Carlo, em Campo Grande.

Ali, pistoleiros deixaram um morto, dois feridos por estilhaços e uma cidade inteira perguntando: quem estava matando pessoas de forma tão violenta, com características de pistolagem antes vista com mais frequência na região conflagrada da fronteira com o Paraguai.
Era o terceiro homicídio em circunstâncias muito semelhantes em menos de um semestre na capital sul-mato-grossense:
- Ilson Martins Figueiredo, chefe de segurança da Assembleia Legislativa, executado em 11 de junho de 2018, aos 62 anos;
- Marcel Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”, morto em 18 de outubro de 2018, aos 31 anos;
- Orlando Bomba, executado em 26 de outubro de 2018, aos 41 anos.

“Bomba”, como era conhecida a última vítima, carregava em seu currículo o peso de ter sido o chefe da segurança de Jorge Rafaat Toumani, homem conhecido como o “Rei da Fronteira” até ser alvo de um atentado em junho de 2015, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia grudada a Ponta Porã, no Brasil.
Até hoje se fala do assassinato pelo poderio bélico usado, uma arma calibre .50, e pelo reflexo na geopolítica do crime organizado na região.
Na sequência da morte de Rafaat, deu-se um banho de sangue entre interessados em controlar o comércio clandestino de produtos ilegais, com respingos em Campo Grande.
Orlando Bomba teria sido mais um dos mortos para vingar a eliminação de Rafaat. Isso porque caiu sobre ele a suspeita de ter “vendido” a cabeça do ex-patrão, fornecendo detalhes sobre sua rotina aos inimigos. Só uma pessoa foi condenada, o atirador. O plano foi colocado na conta da facção criminosa com maior atuação no Brasil e fortes tentáculos no país vizinho, em conluio com barões do tráfico.
Inquérito sem respostas 4y574i
ados quase cincos anos, a pergunta sobre quem mandou matar Orlando Bomba segue sem resposta oficial.
O crime entrou na lista de execuções investigadas pela operação Omertà, que completa quatro anos no dia 27 de setembro de 2023. Foram mais de três anos de inquérito para, no fim, ser decretada a impossibilidade de apontar autores.
Decisão judicial
“Não é possível o oferecimento de denúncia com os fatos esclarecidos de modo incompleto. A denúncia deve descrever os fatos e os autores de forma pontual e precisa, sendo vedada a escolha de uma linha de investigação em detrimento de outras, ou a escolha de uma linha descritiva se não há convicção de quem sejam os autores e de que forma eles tenham agido”, descrevem os promotores atuantes na 2ª Vara do Tribunal do Júri, ao solicitar o arquivamento.
“Os Promotores de Justiça Luciana do Amaral Rabelo e Moisés Casarotto, ao analisar as provas, emitiram parecer pelo arquivamento. Posto isso, determino o arquivamento deste inquérito, ressaltando que se surgirem novos indícios ou provas, é possível desarquivá-lo e reiniciar as investigações”, despachou o juiz Aluizio Pereira dos Santos, no fim do ano ado.
No mesmo despacho, o magistrado retirou o sigilo dos autos, e por isso o conteúdo está disponível. Antes, só as partes tinham o.
São 1,3 mil páginas, desde as peças vindas da Polícia Civil, por parte da força-tarefa criada para investigar as mortes ocorridas com sinais de pistolagem, entre junho de 2018 e outubro de 2018. É o mesmo grupo responsável pelo levantamento de provas contra os acusados de matar, por engano, Matheus Coutinho Xavier, estudante de 20 anos, em abril de 2019.
A partir desse esforço policial, nasceu a Omertà, derivando para um trabalho bem mais amplo, sobre milícia armada, exploração do jogo do bicho, lavagem de dinheiro, tráfico armas e corrupção policial.
São mais de duas dezenas de ações em andamento.
Dos assassinatos a cargo da força-tarefa, por enquanto apenas o de Matheus teve júri realizado, entre 17 e 19 de julho de 2023. Os réus, Jamil Name Filho, Marcelo Rios e Vladenilson Olmedo, foram condenados. O processo está em fase de recurso.
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Outro caso, o da morte de Marcelo Hernandez Colombo, o “Playboy da Mansão”, ocorrido em 18 de outubro de 2018, está para ir à apreciação do júri popular. Em comum, o réu Jamil Name Filho, enquadrado como mandante. A motivação identificada foi um entrevero entre “Jamilzinho” e Marcel, ocorrido anos antes em uma boate na avenida Afonso Pena, em Campo Grande.
Jamil Name Filho também foi apontado como responsável por encomendar a morte do chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, o subtenente Ilson Martins Figueiredo, a primeira das execuções dessa série que ensejou a criação de um grupo diferenciado para descobrir os autores.
Houve denúncia pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Entre os acusados, estavam Jamil Name Filho, o pai dele já falecido Jamil Name, e um aliado da família em terras fronteiriças, Fahd Jamil Georges, intitulado por muitos anos como “Rei da Fronteira”, ou “Padrinho”, tamanha sua influência.
Ilson, sustentou a denúncia embasada no trabalho pessoal, foi vítima de vingança, por ser considerado pela família Fahd como um dos participantes do sumiço de Daniel Jamil Georges, o “Danielito”, cujo corpo jamais foi achado.
Outro filho de Fahd, Flavio Jamil Georges, foragido, também foi denunciado, assim como o policial federal Everaldo Monteiro de Assis, implicado como espécie de espião do escritório de pistolagem denunciado.
Conforme levantado, Everaldo usava sua prerrogativa de agente federal para pesquisar a vida dos inimigos das milícias armadas existentes em Campo Grande em Ponta Porã. Os dois grupos criminosos, entendeu a operação Omertà, agiam como um consórcio, dando fim a inimigos, seja de cunho pessoal, seja nos negócios escusos.
Nenhum dos acusados pela emboscada contra Figueiredo foi pronunciado. A Justiça considerou não haver provas suficientes para levar o caso ao júri popular.
A Capivara Criminal relembrou esses episódios para chegar ao elo com a execução de Orlando Bomba, tema desta edição.
Everaldo Monteiro de Assis chegou a ser ouvido pela força-tarefa porque, em um pen-drive apreendido com ele, havia um pequeno dossiê sobre a vida de Orlando da Silva Fernandes. O método, de angariar informações sobre vítimas de atentado, conforme as apurações da Omertà, era rotineiro e foi percebido em outros casos objeto de apuração policial.
Interceptação de conversas entre Everaldo, apelidado de “Jabá”, e um outro policial, revela diálogo no qual o PF atribui a Orlando Bomba a contribuição com os matadores de Rafaat.

Negativa 5s5j2
Em seu depoimento, Everaldo atribuiu a coleta de dados sobre a vítima ao trabalho na Polícia Federal, alegando que “Bomba” era alvo de pesquisas por atuar junto a Jorge Rafaat.
O que a força-tarefa fez? Tentou saber da PF se isso fazia sentido, porém não vieram respostas esclarecedoras.
Celulares não ajudaram 2z2p
É praxe considerar os aparelhos celulares de vítimas de crimes do tipo como uma prova preciosa, por permitir refazer os últimos os, descobrir com quem a pessoa falava e a partir daí construir a linha investigatória.
Não foi possível em relação a Orlando Bomba. Quando morreu, ele estava com dois iPhones em mãos.
Recolhidos, os aparelhos foram enviados para o Instituto de Criminalística Hercilio Macellaro, subordinado à Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública).
Primeiro, a direção do Instituto pediu prazo superior a um ano para o trabalho de tentar extrair dados dos telefones. Alegou estar com 300 aparelhos aguardando pelo mesmo serviço.
Em junho de 2019, veio o laudo, frustrante.

O primeiro iPhone, vermelho, foi submetido ao equipamento chamado UFED, descrito como ferramenta padrão para extração de dados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Apesar dessa chancela, não foi possível quebrar a senha de o. Nada foi extraído. Do chip do aparelho, obteve-se apenas dados básicos, nada relevantes para a polícia.
O outro iPhone, preto, sequer funcionou para a tentativa de retirada de conteúdo para basear o inquérito.

Uma cena para não esquecer 6h6r4w
Orlando Bomba saía do barbeiro, onde tinha ido cortar o cabelo, por volta das 18h daquele 26 de outubro de 2018.
No caminho para a camionete Hilux branca que usava, e que era blindada ao custo de mais de R$ 40 mil, um homem grandalhão, de pelo menos um metro e oitenta de altura, sem capuz no rosto, atirou inúmeras vezes contra a vítima.
Bomba caiu morto. Antes, disparou um tiro calibre 9 mm.
Dois homens que estavam na região foram atingidos de raspão por estilhaços, assim como os carros de ambos.
Enquanto a perícia fazia o trabalho de necropsia no corpo de “Bomba”, surgiu a informação de dois carros incendiados nos arredores da cidade. Esse é outro método em comum aos casos investigados pela operação Omertà.

Na única imagem de câmera de segurança recuperada, é possível ver a movimentação dos dois veículos usados pelos pistoleiros, um Dodge Journey branco e um Hyunday Creta vermelho.
O Dodge, mostraram as imagens, estaciona bem perto do veículo de Bomba, depois de dar uma volta na quadra para encontrar espaço. O pistoleiro desce, metralha a vítima e depois vai embora.
Leva consigo a arma do homem morto. Na fuga, o Dodge a por cima das pernas do alvo da execução.
O Creta vermelho surge depois e também vai embora em seguida do ataque.
Esses dois veículos foram achados incendiados, em pontos diferentes, poucas horas depois. Ambos tinham placas falsas e eram produtos de roubo.
No local da morte, foram recolhidas 61 capsulas deflagradas, de calibre 7.62, e uma de calibre 9mm. Houve a tentativa de achar fragmentos humanos que levassem a identificação de um perfil genético nos materiais recolhidos, sem êxito.
Bomba testava com 226 mil reais em cheques e mais de mil duzentos reais em dinheiro vivo.
Sua vida, depois de deixar Pedro Juan Caballero, após a morte de Rafaat, era sustentada pelo empréstimo de dinheiro a juros, como itido por familiares nos depoimentos.
Naquele dia, horas antes do ataque fatal, tinha ido ao shopping com um dos filhos comprar uma chuteira.
Testemunhas também foram de pouco auxílio 1of6y
Os familiares de “Bomba” negaram ter ciência de algum tipo de ameaça anterior. Sobre a mudança de Pedro Juan para a capital, disseram ter sido comunicada a Jorge Rafaat bem antes do dia fatal, no qual o “Rei da Fronteira” se transformou em mais uma vítima da guerra do crime organizado.
Consta dos autos uma cobrança de valores por parte de “Bomba” à família Rafaat e segundo os testemunhos, esse acerto financeiro, de montante não informado, foi feito por um dos herdeiros. Os Rafaat, nos depoimentos, negaram qualquer atrito com o ex-segurança.
Como anotou o juiz Aluizio Pereira dos Santos ao arquivar os autos, se houver algum tipo de elemento novo, a investigação pode ser reaberta.