Jogador de futebol teve carreira destruída após ser baleado por PM em Cuiabá, diz promotor 104fa
Vítima foi atingida nas nádegas ao ser abordado pelo policial e sofreu sequelas locomotoras e urinárias irreversíveis, segundo o MP 264449
O adolescente baleado aos 17 anos pelo policial militar Ricker Maximiliano de Moraes, em 2018, teve a vida transformada de forma irreversível: segundo o Ministério Público, ele era jogador de futebol e, após ser atingido, sofreu sequelas que afetaram a mobilidade e o impediram de seguir na profissão.

Além disso, de acordo com o promotor de Justiça, Jacques de Barros Lopes, o jovem ou a enfrentar problemas urinários graves, que o obrigaram a usar sonda por um longo período. Os outros dois adolescentes, que acompanhavam a vítima no momento do crime, sofreram abalo emocional.
“Essa vítima possui sequelas locomotoras na perna. Era um jogador de futebol. Teve sua vida profissional ceifada naquele momento, porque não pode mais jogar bola.”
Segundo o MP, o policial agiu motivado por um estereótipo racista ao abordar o adolescente e dois amigos, todos negros e pobres, que caminhavam por uma rua de Cuiabá.
“Eles aram na rua, eram três adolescentes, pobres, negros, e, segundo o Ricker, foram estereotipados como bandidos. O Ricker perguntou a eles por que estavam rindo, porque eles estavam brincando ali no dia. Os adolescentes responderam que não era com ele e saíram. O Ricker simplesmente sacou a arma de fogo, os meninos saíram correndo e ele deu um tiro que atingiu a vítima nas nádegas”, relatou o promotor.
O Ministério Público afirma que os jovens não ofereciam qualquer ameaça e o policial tentou, ainda, “impor uma carapuça de criminosos” às vítimas, recorrendo a uma versão distorcida dos fatos.
“Há todo um contexto racista por trás dessa versão que ele dá. Além da covardia do crime de atirar num adolescente sem defesa pelas costas, ele também mostra o seu caráter perverso de tentar imputar a esse jovem um crime que não ocorreu”, declarou o promotor.
Imagens de câmeras de segurança anexadas ao processo mostram os adolescentes correndo, de costas, quando um deles é atingido. A gravação, segundo a acusação, desmente a alegação do policial de que teria reagido a uma tentativa de assalto.
O julgamento do PM, inicialmente marcado para esta quarta-feira (28), foi adiado para 8 de julho, após Ricker pedir a troca de advogado. O júri ocorreria dias após o policial ser acusado de outro crime: o assassinato da esposa, Gabrieli Daniel de Moraes, de 31 anos, que seria testemunha no processo da tentativa de homicídio.
Após o feminicídio, ocorrido no último sábado (25), Ricker fugiu com a filha do casal e se apresentou à polícia no dia seguinte. A Justiça decretou sua prisão preventiva, apontando risco à sociedade e à instrução criminal.
O caso segue como um dos mais emblemáticos envolvendo violência policial e racismo estrutural no estado de Mato Grosso.