Ex-paciente fala dos abusos sofridos de médico foragido 3d621f
Com mandado de prisão em aberto, o Salvador Arruda mantém inscrição para atuar em São Paulo e Mato Grosso do Sul 625v1q
Após anos de dor silenciosa, mais uma vítima do médico Salvador Walter Lopes de Arruda decidiu trazer à tona a violência que viveu no pouco tempo em que foi paciente do ginecologista e obstetra em Campo Grande. Este é o assunto da edição 20 da Capivara Criminal, com a contribuição especial da repórter do Primeira Página Geisy Garnes.
O ginecologista e obstetra, que já foi até diretor de hospital em Campo Grande, e tinha uma carteira grande de clientes, está foragido desde outubro de 2020 por importunação sexual e assédio sexual. Foi assunto da coluna, contando o fato de manter inscrições para atender pacientes tanto em Mato Grosso do Sul quanto em São Paulo, apesar de ser um fugitivo da Justiça.

Foram as notícias recentes sobre os processos contra o médico que fizeram a aposentada de 63 anos falar de lembranças doloridas, guardadas por muitos anos.
Na época, perto do ano de 1995, ela descobriu miomas no útero e por indicação de uma amiga, chegou ao nome de Salvador.
“A investida dele não foi de cara não. Foi conforme eu fui voltando ao consultório. Estava com problema de saúde que não foi resolvido de imediato e eu fiz algumas voltas”, lembrou.
Ex-paciente de Salvador Arruda
No início, conta a ex-paciente, o ginecologista ou o tratamento, mas logo a conversa mudou. Ela relembra ter se sentido acuada. Recebeu “cantadas” grosseiras, até ser “agarrada” por ele. O relato é a repetição dos casos investigados pela Polícia Civil, e que renderam a abertura de processo criminal contra o médico, de 69 anos.
O desrespeito fez com que a mulher procurasse outro médico e recomeçasse todo o tratamento. O episódio trouxe uma outra complexidade, ao impor uma dificuldade de restabelecer a confiança em outro profissional.
Apesar do tempo, as palavras de Salvador nunca saíram da lembrança da aposentada, mas foi só quando ela viu outras mulheres contando sobre as próprias experiências, que ela decidiu abrir o coração pela primeira vez.
“Eu só resolvi falar agora porque o assunto voltou à tona e eu resolvi que queria falar”.
À Capivara Criminal, a vítima revelou um comportamento de rotina em pacientes abusadas. Teve medo de falar, cair em descrédito e ser julgada. Calou por tanto tempo, diante do receio de entenderam que era ela quem tinha “dado espaço” para a investida do médico.
Ao ver diversas denúncias, reconheceu-se como mais uma das vítimas das ações “brutais e antiéticas” de Salvador. “É a mesma cantada barata, a mesma conversinha”.
Uma mulher ajuda a outra a enxergar abusos desse tipo, ensina toda a experiência de quem lida com investigações do tipo. É por isso que a Capivara Criminal fez questão de ouvir essa paciente, acatando a responsabilidade de preservar sua identidade, para evitar, ainda, a revitimização.
“Ele pegava a mulher em um momento vulnerável, em que ela ia à procura de um tratamento de saúde, diagnostico correto, alguém resolver seu problema. Jamais você vai imaginar que vai ser cantada”, narrou a vítima. Para a vítima, revelar casos de assédio é a única maneira de frear o desrespeito contra a mulher. “Homens se sentem no direito de fazer gracinha. Hoje a mulher não se sente segura em nenhum ambiente”.
Hoje, mesmo depois de tanto tempo, o desejo por justiça continua o mesmo, mas agora, através de algo muito maior: a união entre as mulheres.
A equipe do Primeira Página procurou a Polícia Civil para saber como está a situação do médico. Conforme a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), nenhuma vítima procurou a unidade recentemente, mas Salvador continua sendo procurado. O mandado de prisão contra ele é de 21 de outubro de 2020, expedido em ação judicial derivada de investigação da Deam, depois que uma paciente e duas colegas de trabalho do médico o denunciaram por abusos ocorridos no consultório dele e em hospitais, dos quais foi afastado.
Desde julho de 2022 o médico mantém inscrição para atuar em São Paulo e Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, o prédio em que atendia está fechado e para alugar.

Em outros casos, como foi em relação ao ex-prefeito Marcos Marcello Trad, alvo de processo por abusos contra mulheres, a Deam chegou a ir atrás das vítimas, mas sobre o médico, a orientação foi para que elas procurassem a unidade.
“Pedimos às vítimas para procurar me procurar na Deam diretamente e registrar boletim de ocorrência. Continuamos as investigações contra ele”, declarou a delegada Maíra Pacheco Machado.
Denúncias desse tipo de crime podem ser feitas pelo número 180, que agora também atende pelo Whatsapp.
Desde que começou a tratar do assunto, a coluna, assim como a reportagem do Primeira Página, tentam contato com a defesa de Salvador Arruda, sem qualquer resposta.