Marcos e Lilian só se sentem moradores de Campo Grande após 35 anos 6q651p
Na segunda reportagem da série Planejamento Urbano, veja depoimentos de quem esperou 35 anos para se sentir morador de Campo Grande e as análises do preço que o crescimento cobra 506t65
No bairro de Campo Grande que se tornou símbolo de progresso, o Rita Vieira, os primeiros moradores comemoraram há pouquíssimo tempo a chegada do asfalto. O desenvolvimento urbano na região demorou, e hoje caminhar pela rua é sinônimo de vitória para o casal Marcos e Lilian. (assista ao vídeo acima com a 2ª reportagem da série Planejamento Urbano)
“Foi uma festa! Vai acabar a poeira. A gente falava Rita Poeira, Rita Lameira, porque aqui na época de chuva era terrível”, conta a aposentada Lilian Sodré.

No álbum de fotos de família, os registros do casal mais novo, com filhos ainda pequenos. Eles se mudaram para a região três décadas atrás. “Não tinha equipamento urbano nenhum a não ser as ruas abertas pelo dono do loteamento. O bairro ficou sem nada por causa das gestões públicas e as pessoas foram desistindo daqui, que ficou no esquecimento por mais de 30 anos”, diz o arquiteto Marcos Sodré.

A chegada do asfalto se tornou marco para o desenvolvimento e foi o pontapé para o entusiasmo de construtores pela área. Quem esperou pela valorização do imóvel diz que valeu a pena. Isso porque se asse se Lilian ar o que a família pagou à época para real, por R$ 2 mil ou R$ 3 mil reais se comprava um terreno no Rita Vieira. O mesmo lote hoje vale, pelo menos, R$ 150 mil.
“Eu tenho que agradecer pela minha esposa ter aguentado ficar aqui comigo. A gente viu o bairro nascer, a rede elétrica, a luz, o telefone, vindo para cá. Vimos todas as dificuldades que um bairro pode ter. Somos testemunha ocular disso, fazemos parte da história do Rita Vieira”, se orgulha Marcos.
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Campo Grande – o preço do crescimento 51275s

O crescimento também cobra seu preço, e se tratando de Campo Grande, ele é medido por milímetros de chuva, inundações e alagamentos.
Geógrafo, Fábio Martins Ayres fala que nas décadas de 1980 e 1990, a cidade tinha algumas formas de lidar com a água. “A Maracaju e a Fernando Corrêa da Costa era o que tínhamos de solução para a drenagem. Então, se a gente olha o projeto do Sóter, Segredo, Imbirussu, entendemos que eles têm uma área que permite receber essa água”, exemplifica.
A discussão em cima dos problemas de drenagem de Campo Grande se dividem entre duas medidas, as estruturantes e não estruturantes. Ayres explica que a primeira são obras, já a segunda são os instrumentos para que se possa lidar da melhor forma.
“Se hoje eu faço coleta da água da minha casa e jogo direto para a rua, eu estou acelerando este processo. Agora se essa água minha fosse lá para o fundo da minha casa, lavasse a minha varanda e demorasse de 10 a 30 minutos, este tempo não iria acumular em termos de volume”, pontua o geógrafo.
O que quer dizer que inundações e enchentes não estão sob responsabilidade somente do poder público, mas de todo cidadão.
Campo Grande tem 11 bacias hidrográficas dentro da cidade. Entretanto, não é essa característica a única responsável pelo cenário que fica durante as chuvas. “Somadas, as construções individuais também refletem um problema na drenagem, logo nas enchentes. Nas últimas chuvas relevantes, tivemos 43 pontos de alagamento”.
Plano Diretor 5xk6e

O plano diretor, documento que traça diretrizes para a urbanização da cidade, trouxe instrumentos para tentar frear os problemas de enchentes e alagamentos que surgem em algumas regiões da cidade, como o ponto da Ernesto Geisel e Rachid Neder, que toda vez que chove, fica praticamente debaixo d’água.
Uma dessas ferramentas é a chamada taxa de relevância ambiental, que obriga moradores a deixar livre uma porcentagem do terreno quando for construir, que hoje varia entre 15 e 30%.
“Observando toda essa questão do solo, do tipo de ocupação que nós temos, observamos que o município tem suas diferenças, seu solo e capacidade de absorção de água da chuva diferente em cada região, e por isso tratamos de uma forma diferente”.
Outra ferramenta levantada pelos especialistas é a chamada outorga onerosa. Funciona mais ou menos assim: cada região da cidade tem regras para a construção de terrenos, e quem tem interesse em construir uma área maior do que a permitida pelo plano diretor precisa pagar ao município.
Mais do que existir na teoria, essas regras e leis precisam funcionar também na prática, para que Campo Grande enxergue ofereça condições iguais para todos, sem que os moradores precisem ar décadas no aguardo.
“A gente esperou quase que 35 anos para poder dizer, hoje nós estamos inseridos na cidade de Campo Grande”, completa.

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A terceira reportagem da série vai ao ar na tarde desta terça-feira (28) no Primeira Página, e no dia seguinte (1º), no telejornal Bom Dia MS.