Em tempos de guerra, tronco de mamoeiro vira doce caseiro: furrundu 1qt3c
Iguaria desperta a curiosidade de 'forasteiros' 681v2l
A música de Moisés Martins e Pescuma explica o doce conhecido como furrundu, que é feito do tronco do mamoeiro. “Furrundu doce do pau, do pau do mamoeiro, até parece com uma dança, mas é só doce caseiro”, diz trecho da música.

E sim, existe doce de mamão e doce do tronco do mamoeiro. De acordo Irene Souza, cuiabaníssima e do “pé rachado”, a parte debaixo do tronco é a melhor para fazer o doce.
“O pé de mamão cresce muito, mas não é bom tirar as partes muito altas, porque não fica tão macio quanto a parte mais baixa do tronco”, explicou.
A música também diz “rala, rala, arrasta, arrasta” e, realmente, depois de tirado o tronco, ele é cortado em várias partes e ralado, com um ralador bem grande. A massa moída é guardada no congelador e pode ser transformada aos poucos.
Irene é um doceira de mão cheia, faz doce de laranja, figo, queijadinha, de mamão, mas, ela tem verdadeiro orgulho do furrundu, do original, porque traduz não apenas a cultura cuiabana, mas a vida dela e de todos os cuiabanos.

Muitos amigos e familiares já sabem da fama dela, então, se alguém precisa arrancar um pé de mamão para uma construção ou qualquer outro motivo, logo lembra dela. Assim, ela sempre tem matéria prima para fazer essa iguaria.
Quando não é possível, ela faz o furrundu “genérico”, feito de mamão ralado. Mas, cá entre nós, a semelhança é muito grande.
E como boa doceira, ela gosta de fazer todas a etapas: rala o tronco, guarda a poupa em saquinhos, escolhe a melhor rapadura que encontra e começa o preparo do doce.
“Eu amo fazer doce. Faço toda semana e gosto muito quando as pessoas dizem que ficou bom. Tenho prazer em apresentar a minha cultura para as pessoas”, confidenciou ela.

Surgimento do doce 155b40
Sim, o furrundu tradicional não é feito com açúcar e, sim, com rapadura. Tudo isso tem origem no período brasileiro conhecido como Segundo Reinado. Em Mato Grosso havia muita plantação de cana-de-açúcar, assim como engenhos de açúcar e rapadura.
A professora e pesquisadora da Faculdade de História da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), Ana Carolina Silva Borges, desde o período colonial, o Brasil tem um pé no mundo agrário. Os estudos apontam que havia uma variedade considerável de alimentos oriundos da agricultura, neste período.
Com o cultivo da cana-de-açúcar, o melado e a rapadura eram itens abundantes na região e são a base de muitos pratos da culinária regional.
Ana Carolina explica ainda que o melado, o furrundu, o caldo de cana ainda estão muito presentes no dia a dia dos pantaneiros e são vistos como alimentos importantes para saúde, especialmente no combate a anemias.
“Esses conhecimentos foram ados de geração em geração demonstram a preocupação e a percepção de saúde em torno da culinária”, ressaltou a professora.
A fartura desses itens fez com que a culinária se expandisse e, dentre as criações, surgiu este doce tão famoso e tão tradicionalmente cuiabano.
O processo do Furrundu 62134k
E para quem ficou curioso, dona Irene, como é chamada, ensina o a a o.
Em uma a grande, ela põe três rapaduras, cerca de 1 kg de massa de tronco de mamoeiro, gengibre e cravo. Depois ela coloca um litro de água fria e leva ao fogo para cozinhar. Durante a fervura, os temperos vão se misturando, dando gosto e forma ao doce.
Porém, até chegar nessa fase, não é tão fácil assim. Ela pega o tronco do mamoeiro, descasca, separa o miolo, rala, lava bem para tirar o leite, deixa escorrer e põe para congelar até o dia de fazer o doce.
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