Conheça Manuel Tsiwario, adolescente Xavante medalhista no Pan-Americano 9585c
O adolescente tem 16 anos e é da aldeia de Três Lagoas, na região de General Carneiro 2u3m4a
Correndo descalço em uma estrada de chão, cheia de lama. Foi assim que o treinador Sivirino Souza dos Santos conheceu Manuel Tsiwario, que participava de uma corrida de 10 km na Terra Indígena de Sangradouro, na região de General Carneiro, a 449 km de Cuiabá, em dezembro de 2020. Ele afirma que o encontro foi algo “divino”.

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“Vi que o percurso dava 10 km. Falei: ‘quero ver o que eles vão fazer’. De repente, vem um menino, descalço, uma lama por conta da chuva e ele venceu os 10 km em 36 minutos e 37 segundos. Eu diria assim: é igual pegar uma criança de Mato Grosso e ela fazer o vestibular na Universidade de Harvard e ser o primeiro colocado. Uma coisa fora do comum”, disse o treinador, que também é vice-prefeito de Barra do Garças.
Manuel tem 16 anos, pertence ao povo Xavante, da aldeia de Três Lagoas, na região de General Carneiro. No dia 27 de março, em Serra (ES), ele conquistou a medalha de bronze no Pan-Americano de Cross Country na categoria sub-18.
A competição reuniu 371 participantes, com atletas do Canadá, México, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, além do Brasil. Dos brasileiros convocados, o país foi representado por atletas da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.
Muito tímido e falando com dificuldade o português, Manuel disse ao Primeira Página que está muito feliz com a conquista da medalha e que amou conhecer o litoral.
“Fui o terceiro campeão, isso foi muito bom. Fiquei em um hotel grande e muito bonito. Também conheci a praia e o mar. Eu gostei”.
Barreiras do idioma 3l283v
Apesar do talento do indígena, o idioma tem sido uma dificuldade. Para o treinador, se não fosse isso, Manuel já teria conquistado mais medalhas para Mato Grosso e o país. Para conseguir se comunicar com o atleta, Sivirino aprendeu algumas palavras em Xavante.
“Ele só não foi campeão nessas duas provas no nacional. Foi o 4º colocado no Brasileiro, tinha tudo para vencer, mas ainda não dá para montar estratégia de corrida com ele, porque não entende, por conta da língua. Algumas vezes falo na língua dele, como corre mais rápido”.
Estudos e cautela 4s2p3e
Por mais que já seja considerado uma promessa no esporte, o treinador é cauteloso em relação ao adolescente. E afirma que seu sonho é que Manuel conclua os estudos e consiga ar para as crianças da sua comunidade tudo o que aprendeu em seu programa de atletismo.

“Talvez daqui a 10 anos você me pergunte: ele não virou um atleta? E eu responda: ‘Não, mas está na aldeia dele formado em educação física, devolvendo com as crianças o que ele recebeu da gente aqui’. O meu maior sonho hoje, dentro das comunidades indígenas, não é fazer um atleta, mas é trazer e dar qualidade de vida e estudo”, ressaltou.
O programa de atletismo, coordenado por Sivirino, em Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá, vai fazer 22 anos de funcionamento. Já a Casa dos Atletas começou em 2002 e tem sido fundamental para revelar nomes no atletismo.
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“Mato Grosso hoje é referência sul-americana e pan-americana nessa modalidade do atletismo, que é o Cross Country. De 2006 para cá nós nunca ficamos um ano fora da seleção brasileira, ou de Cross Country ou de pista. Já temos uma história bonita”.
A Casa dos Atletas fica na Vila Olímpica no bairro Jardim Piracema e reúne 27 jovens, que têm talento e pouca condição financeira para se manter do esporte.
O Brasil já teve outros atletas indígenas em suas seleções . Yuri Moreira Benites, da etnia Guarani Kaiowá (MS), participou de competições sub-20 no lançamento do dardo, assim como Mirelle Leite, da etnia Xukuru (PE), nos 3.000 m com obstáculos e 5.000 m.