Estudantes de MS criam lambe-lambe inspirado na luta de Marçal de Souza
Trabalho foi feito pelos estudantes do 9º "A" durante a Semana Literária da Escola Estadual Maria Elia Bocayuva Corrêa da Costa
No mês que celebra a resistência dos povos originários, os alunos do 9º ano “A” da Escola Estadual Maria Elia Bocayuva Corrêa da Costa, na Vila Margarida, homenagearam Marçal de Souza, o maior símbolo da luta indigenista de Mato Grosso do Sul, através da arte urbana.

Eles criaram um lambe-lambe em que o rosto do líder indígena surge em meio a frases que emanam resistência.
Os estudantes foram orientados pelo artista Kelton Medeiros, principal expoente da técnica em Campo Grande. A ideia de convidar o artista para uma aula especial foi da professora de artes, Heidy Kanasiro.
Heidy explica que a atividade integra a Semana Literária, projeto que foi posto em prática com a participação de todos os alunos da escola, neste mês de abril, e que consiste exatamente em exaltar a cultura indígena.

A iniciativa vai de encontro à lei 11.645 que estabelece a obrigatoriedade das escolas abordarem a história e a cultura afro-brasileira e indígena.
“Todas as turmas deviam fazer produções a partir de uma obra literária, de um discurso, de uma canção que tivesse relação com a temática indígena. Podia ser uma paródia, uma exposição, uma poesia ou uma apresentação livre. A nossa turma ficou responsável pela pesquisa sobre a vida de Marçal de Sousa”.
Heidy Kanasiro, professora.

Trabalho feito por Kelton no centro de Campo Grande motivou a professora a entrar em contato com o artista. Quem a pela rua 13 de Maio também pode “dar de cara” com outro lambe-lambe do líder indígena estampado em um muro, perto do cruzamento com a rua Antônio Maria Coelho.
Após o convite ser aceito, coube aos cerca de 20 estudantes formularem frases inspiradas na luta de Marçal de Souza Tupã-y, nome completo de Marçal, para ilustrar o “lambe”.

No mural, o rosto do indígena pequenino, que se tornou um gigante na defesa de seu povo, se destaca imponente em meio à dizeres como “MS terra indígena”; “Marcado para morrer, mas por uma causa” e a “A voz de Marçal ainda ecoa”.
O lambe-lambe foi confeccionado pelos alunos durante oficina ministrada por Kelton, na última quarta-feira (24).
Durante a atividade, os estudantes aprenderam um pouco mais sobre a técnica, o contexto da arte de rua e também assistiram trechos do espetáculo Tekoha, do grupo de teatro Maracangalha.
O espetáculo narra a trajetória do líder guarani Marçal de Souza e sua resistência histórica na luta pela terra e direitos dos povos indígenas.

No próximo dia 9 de maio, todos os trabalhos feitos pelos alunos durante a Semana Literária estarão expostos na escola. Entre os convidados especiais do evento estarão outros representantes do movimento indígena.
Na ocasião, as atividades também serão avaliadas e as notas irão compor as médias de cada um dos estudantes.
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Para Kelton Medeiros o ensino através da arte facilita o processo de aprendizagem e amplia as potencialidades da escola.
“O lambe-lambe tem esse aspecto de causar o interesse dos alunos para o contexto da arte urbana, e permite que o tema abordado seja mais aprofundado. Marçal deve ser reverenciado não só nas ruas, ele tem que servir de referência a todo momento e que momento melhor do que na sala de aula?”
Kelton Medeiros, artista.
Além de ressaltar a importância de Tupã-y no movimento indigenista do país, a oficina também mostrou aos alunos que o tom de protesto é uma das principais fontes de inspiração da arte de rua.
“Não tenho dúvidas que vários dos alunos se aprofundaram no tema e também no contexto do manifesto que o ‘lambe’ trás. A escola deve incentivar sempre a criatividade dos seus pares e atender as demandas criativas de seus alunos”.
Kelton Medeiros, artista.
Uma vida de luta
Marçal de Souza nasceu em 1920, no povoado Rincão de Julho, em Ponta Porã. Dotado do discurso contundente e revolucionário dos grandes líderes da história, Tupã-y denunciou os constantes ataques aos povos originários até ao papa João Paulo II, diante de uma multidão, no palácio episcopal de Manaus (AM), em julho de 1980.

“Somos uma nação subjugada pelos poderosos, uma nação espoliada, uma nação que está morrendo aos poucos sem encontrar caminho, porque aqueles que nos tomaram este chão não têm dado condições para a nossa sobrevivência”.
Marçal de Souza.
A repercussão internacional foi tamanha que no ano seguinte, Marçal foi à ONU (Organização das Nações Unidas), nos EUA (Estados Unidos da América) alertar sobre o avanço de mineradores no solo sagrado dos indígenas.
Marçal de Souza Tupã-y lutou na defesa dos indígenas até a morte. Ele foi assassinado com cinco tiros em 1983, na porta de casa na Aldeia Campeste enquanto cobrava a demarcação do território TI Pirakuá, em Mato Grosso do Sul.