Mãos que transformam: mulheres costuram independência e reciclam profissão milenar 4v37x

Costura precisou ar por ressignificação para atender mercado e novas profissionais 1z5u1c

O ado é uma roupa que não cabe mais. Assim ocorre com muitas coisas que se tornam obsoletas com o inevitável ar do tempo. Dentre elas, estão profissões milenares, essenciais à população, mas que precisaram se reciclar para sobreviver. A costura, técnica nascida há mais de 30 mil anos, engrossa a lista.

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Costureira durante o trabalho (Foto: Jéssica Benitez)

A união de técnica, mão de obra e gestão pode resultar em equação que contribui para a escassez do mercado. Quem se especializa em todos estes itens consegue sair na frente, como foi o caso das sócias Dione Toledo e Rozilda Rocha que empreenderam duas décadas atrás.

Trabalhavam juntas em uma oficina de roupas, quando perceberam que poderiam unir seus objetivos e dar um o além. Alinhavaram os planos, costuraram os sonhos e o que parecia ser uma colcha de retalhos se transformou numa forte rede que lhes rendeu “tudo que têm hoje”, como elas mesmas definem.

Para isso, precisaram bem mais do que a coragem de pegar junto ao banco um empréstimo de R$ 5 mil cada, dinheiro grande se voltarmos a 2006. A expertise no trabalho era garantida, faltava preparo de gestão.

Rozilda conta como foi emendar as duas coisas:

Rozilda Rocha conta como foi o início (Vídeo: Liniker Ribeiro)

Dione, hoje com 65 anos, mas que se lançou à costura aos 24, entrou na profissão despretensiosamente. Era a única forma de casar trabalho e maternidade. “Eu pegava uns concertos para fazer em casa. Fiz curso de corte e costura, mas nunca imaginei o que a profissão me traria”.

Trouxe, e muito!

Casa e carros próprios, formação das filhas, ajuda com os netos. Para além do financeiro, a costura cerziu liberdade e não só a ela. A história contada individualmente ecoa no coletivo.

Rozilda Rocha, empresária (Vídeo: Liniker Ribeiro)

Palavras também de Irene Cassamale, 67 anos, uma das cinco costureiras daquela oficina de roupas. Aliás, não “uma das”, mas sim a prata da casa, que soma duas décadas de trabalho ao lado das empresárias. Em breve relato de tantos anos de carreira, ela enumera as conquistas e traça planos.

Irene Cassamale, costureira (Vídeo: Liniker Ribeiro)

Cenário 196e2x

Dados de 2025 fornecidos pela Receita Federal revelam que o segmento da costura em Mato Grosso do Sul, que engloba atividades como confecção sob medida, roupas íntimas, costura criativa, consertos e até design de moda, é composto por 3.139 empresas ativas, das quais 3.099 são pequenos negócios MEI (Microempreendedor Individual), ME (Microempresa) e EPP (Empresa de Pequeno Porte).

Os números ajudam a escrever a história de Dione, Rozilda, Irene e tantas outras mulheres, tendo em vista que a área é majoritamente feminina.

Sebrae mostra raio-x do setor nos últimos cinco anos:

• 2024 – 399 empresas abriram e 142 fecharam
• 2023 – 426 empresas abriram e 128 fecharam
• 2022 – 434 empresas abriram e 94 fecharam
• 2021 – 493 empresas abriram e 88 fecharam
• 2020 – 487 empresas abriram e 56 fecharam

Mesmo com os fechamentos, o saldo anual segue positivo, com mais empresas abertas do que encerradas.

Outros dois fatores que promissores são:

  • A presença de CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Económicas) que abrangem desde confecção sob medida até design de moda e fabricação de órios mostra que o setor está se diversificando e se aproximando de nichos mais lucrativos e criativos.
  • o a mercados diferenciados: O crescimento da costura criativa e da personalização abre portas para atuação em mercados como o de moda autoral, figurinos, eventos culturais e e-commerce.

E é exatamente aí que as empreendedoras tecem outro formato de uma receita que deu certo no ado.

Reciclar é preciso! 6c3k63

Assim como tudo que resiste à ação do tempo, a profissão também se vê numa reciclagem. A mão de obra escassa fez com que o ofício se adaptasse aos tempos modernos. Não se trata mais de algo ado de mãe para filha, como antes. A nova roupagem surge alinhada às pautas atuais, como a sustentabilidade.

Consultora Sebrae
Penélope Herradon (Foto: Sebrae/MS)

🎧 É o que explica a analista técnica do Sebrae-MS, Penélope Herradon:

É nesta toada que caminha a Associação Ipê Rosa, hoje composta por 25 mulheres e que já impactou mais de 145 desde que foi criada em 2024. Não se trata de grupo de adolescentes engajadas em tirar a costura da extinção, tampouco “herdeiras” das linhas.

São mulheres que em algum momento estiveram em situação de vulnerbilidade e decidiram ser senhoras dos próprios destinos através da costura. Todas tinham contato de alguma forma com a profissão, nada aperfeiçoado.

Encaminhadas pela pasta de Assistência Social de Bataguassu, cidade a 330 quilômetros de Campo Grande, encontraram o Costura Sustentável e não pararam mais. O projeto ensina costura, gestão e design utilizando resíduos florestais da MS Florestal, produtora de eucalipto para a fabricação de celulose no Brasil.

A parceria conta com o programa Bracell Social e Sebrae-MS.

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Costura está no coração das veteranas (Foto: Jéssica Benitez)

Matriarca do grupo, dona Heloísa Alves de Goes, 73 anos, enche o peito para falar que é “aposentada e agora costureira”. ou a vida entre trabalhos manuais como bordado e pintura, nunca conseguiu migrar para costura, como almejava quando menina.

Agora, chega à profissão que sonhava na infância adequada aos novos tempos, prova de que o curso trouxe não só aperfeiçoamento prático, mas também a consciência de que ser sustentável é preciso.

“Depois que veio a costura, eu peguei firme mesmo. É muito importante, tão importante que não sei nem como falar. Saber que aquele material ia todo para o lixo, poluir o meio ambiente, e agora a gente faz essas coisas lindas e que ainda rendem um dinheirinho”.

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Peças expostas no Bioparque Pantanal (Foto: Mais Floresta)

Laço de fita na cabeça, camiseta rosa, gestos delicados. Não se engane! A armadura dessa guerreira nada tem de frágil. Presidente da associação, Mirian Priscila de Oliveira Belo, 39 anos, começou sua história de amor com a costura à distância. Ganhou do marido um curso on-line para aprender a fazer lingeries. Antes disso, não tinha contato algum com o ofício.

Para ajudar no sustento dos cinco filhos, labutava como faxineira. Só que o serviço braçal foi ficando pesado com o ar do tempo. Então que decidiu mudar de área. O curso ofertado pela MS Florestal veio para coroar a decisão.

Mirian conta detalhes da associação ao jornalista Liniker Ribeiro (Vídeo: Jéssica Benitez)

O que ficava nas ondas cibernéticas se fez real. Linha e agulha em mãos, Mirian acabou por costurar não só os próprios sonhos, mas também os de muitas mulheres, como conta na entrevista acima.

A mestra 1n5j5i

Ponte entre ado e presente, Francine Mendes Braga Nunes, 38 anos, foi a responsável por lecionar ao grupo. Costureira especialista em roupas feitas sob medida e concertos, encarou o desafio de ampliar o leque ao sustentável.

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Francine Mendes é a mestra do grupo (Foto: Liniker Ribeiro)

Nunca havia mexido com materiais recicláveis, porém, como de costume, não fugiu à luta. Abraçou a causa como quem sabe que precisa se renovar e ao mesmo tempo ar adiante a própria sabedoria.


“É muito gratificante vencer esse desafio que é ensinar. Eu gosto muito de ensinar, de explicar. Não adianta eu saber uma coisa e esconder o segredo”.

O dom de fazer aprender vem de família. Fran conta que, anos atrás, entraria na faculdade para cursar istração, quando ficou grávida.

Os planos tiveram que ser reformados.

“Eu trabalhava em um mercado na época e minha mãe teve que ir morar comigo. Foi aí que comecei a aprender a costurar com ela”.

Era o modelo adequado à vida naquele momento. “A gente pegava demanda de fábricas para fazer em casa. Então, comecei com o nascimento da minha filha e, de lá para cá, tiro meu sustento todo da costura, graças a Deus”.

Costura Sustentável 3p732b

O sucesso foi tanto que o Costura Sustentável se tornou permanente e ininterrupto. Qualquer pessoa pode se inscrever e, após ar por triagem, colocar as mãos na massa, ou melhor, no tecido.

A matéria-prima principal são os resíduos florestais que seriam descartados. Com o projeto, o material ganha nova vida e finalidade, se transforma em bolsas e órios.

Os itens ficaram expostos no Bioparque Pantanal esta semana e agora seguem para exposição em Três Lagoas entre os dias 10 e 15 de junho no shopping da cidade.

A ideia é mostrar como a sustentabilidade aliada à costura pode render peças atuais, impactar financeiramente e ainda propor ao público o consumo consciente. Quem se interessar pode também encomendar os adornos através deste link.

🎧 Bruno Rabelo, gerente institucional da MS Florestal, fala um pouco mais sobre a iniciativa:

FALE COM O PP 6s423v

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