Dois empregos ou mais: jovens e adultos estão acumulando trabalho para pagar as contas 6m555q
Alta de preços em necessidades básicas está levando a um aumento da carga horária de trabalho, pouco lazer e consequente piora na qualidade de vida; confira depoimentos reais 3x3714
“Está difícil”. A frase que abre este texto é um consenso entre os entrevistados desta matéria. Letícia de Souza, 37 anos; Luiz Roberto Gonçalves, 30 anos; e Bárbara Moreira, 19 anos, fazem parte de uma complicada realidade: campo-grandenses que precisam acumular trabalho para poder pagar contas básicas no final do mês. Se antes as jornadas duplas e triplas eram encontradas com mais facilidade nas classes mais baixas, hoje, a classe média também faz malabarismos para se manter.
De acordo com pesquisa divulgada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), responsável por avaliar os gastos dos brasileiros, a cesta básica na capital sul-mato-grossense é a quinta maior do país e chegou a R$ 715, 81 este mês. O dado foi divulgado na quarta-feira (6) pelo instituto.

A conta de luz, desde o ano ado em patamar acima da bandeira vermelha por conta da escassez hídrica, é outro vilão. Para o leitor ter uma ideia, hoje, o valor cobrado por 100 kwh é de R$ 14,20. Quase 50% acima do que já foi cobrado na bandeira vermelha, R$ 9,49 – nesta semana foi divulgado pelo Ministério de Minas e Energia que a bandeira mais alta termina no próximo dia 16, com a promessa de que haja uma redução no valor da conta de até 18%.
Dito isso, é importante relembrar o valor do salário-mínimo brasileiro: R$ 1.212. Em cálculo feito pelo próprio Dieese, para poder custear as despesas básicas de uma família, como alimentação, saúde e educação, o valor do salário-mínimo precisaria ser 5 vezes maior, ou seja, R$ 6.394,76. A conta simplesmente não fecha.
Com todas as altas, a renda não chega até o final do mês, de acordo com os entrevistados. O que tem feito com que o campo-grandense busque alternativas para não quebrar.
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Enfermeira em dois hospitais e parteira particular 505i27
A técnica de enfermagem Letícia de Souza está acumulando trabalho. Para poder pagar as contas no final do mês e ajudar no sustento da família (ela é mãe de três filhos), ela atua em dois hospitais, inclusive nos finais de semana, e ainda pega “extras” particulares, quando cuida de bebês.
“Minhas despesas, por mês, ficam numa média de R$ 3.500. Fora os gastos pessoais. Hoje, o que mais pesa no meu orçamento são os gastos com supermercado, gasolina e luz. Comparando com anos anteriores, minha renda e qualidade de vida pioraram”, ela conta ao Primeira Página.
Com tanto trabalho, o tempo para dedicar a família está cada vez menor. Sem falar no lazer, que está praticamente nulo.
“Devido a longa jornada de trabalho, fico muito ausente da família, pois trabalho para dar o melhor para eles. No pouco tempo que estou em casa, gosto de ficar com eles, assistir TV, e ir em lanchonetes. Gostaria de estar mais presente e poder viajar com eles, mas devido as despesas não fazemos”, revela.

A gente quis saber o maior desejo profissional da Letícia e ela foi prática: “Não é só meu, como de todos da área de enfermagem, que é sermos reconhecidos, com uma carga horária e salários justos. Na minha área é muito comum a pessoa ter até três empregos”.
Porteiro, motorista de aplicativo e mecânico 216h2m
Luis Roberto, atualmente, tem um emprego fixo como porteiro de um prédio em CG. Segundo ele, o valor que recebe limpo por mês é de R$ 2.050. O que não custeia “nem de longe” os gastos da família. Para complementar a renda dele, da mulher e de uma filha, ele também trabalha como motorista de aplicativo, aluga carros e faz os serviços de oficina dos veículos que tem por conta própria.
“Gastamos uma média de R$ 2500 por mês com alimentação, material de limpeza e farmácia. A mecânica já representou 1/3 da minha renda, mas hoje eu nem calculo. Tive que aumentar minha renda em relação aos anos anteriores, mas infelizmente só para tapar buracos das altas dos preços, pois o custo de vida subiu muito e, infelizmente, minha qualidade de vida piorou demais. Hoje, praticamente, eu não tenho tempo para lazer”.

Sobre seu maior sonho profissional, Luis comenta: “É equilibrar as finanças do meu pequeno negócio para voltar a sonhar com expansão e poder trabalhar um pouco menos.
Operadora de caixa em loja, fabricante de doces e atendente de mercadinho c606e
A jovem de 19 anos, Bárbara Moreira é estudante de istração. Para custear os estudos, gastos pessoais e responsabilidade com os pets da casa, ela chega a trabalhar em até 4 funções durante a semana. Fixo, ela tem um emprego em uma loja de calçados bastante conhecida em Campo Grande. Além desse trabalho, ela faz trufas para vender em outros comércios; nos finais de semana atende em um pequeno mercado; e ainda atua na loja de roupas da mãe. Ela recebe um salário-mínimo no emprego primário.
“De carteira assinada eu tenho um salário-mínimo. Com as trufas, dependendo do mês, consigo um lucro de R$ 300. Os demais freelas acontecem quando sou chamada”, explica a estudante.

“Tenho alguns objetivos e sonhos que quero alcançar. Então, já estou correndo atrás, como por exemplo, me formar. Apenas com o salário-mínimo não é suficiente, então comecei a fazer os doces com meu namorado para ter um dinheirinho extra. Estou no 5º período de e tento priorizar meus estudos para não me prejudicar, mas tem dias que preciso priorizar os trabalhos”, Bárbara conta.
O Primeira Página quis saber se ela notou a alta dos preços e se isso afetou sua qualidade de vida, mesmo sendo tão jovem.
“Por toda essa situação pandêmica, o valor das coisas aumentou bastante. E esse é um dos motivos de eu buscar trabalhar muito. Hoje em dia eu gasto mais com a faculdade e meus animais. Percebo esse aumento de preço quando vou comprar comida e rações”, comenta.
O maior sonho da menina? “Meu maior sonho profissional é atuar na área pet, já que sou apaixonada por animais. E meu sonho de vida é ter uma boa condição para mim e para minha família”, conta.
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