Fundadora do Grupo Flor Ribeirinha descreve Cuiabá de antigamente 596of
Mesmo diante do avanço da modernidade na capital, Dona Domingas não abre mão de alguns costumes e tradições g681k
Na última sexta-feira (8), Cuiabá completou 303 anos de fundação e embora a modernidade tenha chegado na capital de Mato Grosso, a cidade ainda preserva viva algumas características únicas: a tradição. Aos 68 anos, 50 deles dedicados à vida cultural, Dona Domingas, fala do orgulho que tem por suas raízes.

Cuiabana e fundadora do Grupo Flor Ribeirinha, a moradora do São Gonçalo Beira Rio é um símbolo de resistência.
“Filha de coxiponés, neta de coxiponés e de sangue paraguaio. Ajudo a manter nossas tradições vivas. Carrego com garra a bandeira da cultura popular”, ressalta Domingas.
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Dançarina de siriri, benzedeira e apaixonada pelo Rio Cuiabá, Dona Domingas relembra como era viver na cidade antigamente.
“Hoje está tudo muito diferente. Antes a gente vivia, hoje a gente sobrevive. Nasci e me criei na beira desse rio [Cuiabá]. Tomava banho, bebia dessa água e comia muito peixe. Hoje não se faz mais nada disso”, afirma Domingas.
Ela conta que naquela época o rio era farto de muitos peixes, desde pacu, dourado e peraputanga, a jaú, cachara e pintado. Na margem dele, inclusive na região da comunidade de São Gonçalo, havia “praia”.
“Às vezes, a rede ficava tão cheia de peixes que não tinha nem como retirar da água e os pescadores tinham que libertar boa parte do pescado para retirar a rede da água. Era uma fartura. A gente comia peixe todos os dias. Fazia paçoca de pilão com pintado seco, comia peixe seco com banana verde, peixe com mandioca, com quiabo, bagre ensopado com arroz sem sal. Agradeço a Deus por ter vivido tempos tão bons à beira desse rio. A gente era feliz e não sabia”, ela relata.
Tradições e festividades cuiabanas 4y1
Mesmo diante do avanço da modernidade na capital, Domingas reforça que não abre mão de alguns costumes e tradições.
“Minha avó, Tóla, era indígena coxiponés e me ensinou a benzer. Hoje sou a única benzedeira da comunidade [de São Gonçalo]. Benzo contra mal olhado, quebrante, costura, dor de cabeça. Para os ribeirinhos, a fé não costuma falhar”, afirma.
Ela fala ainda sobre as festas religiosas que não são mais tão frequentes quanto antigamente, e que antes a comida dos eventos era oferecida gratuitamente à comunidade.
“Antigamente, as festas religiosas eram todas feitas por devoção. Em 80 ou 81, não lembro direito, quando eu fui rainha, a comida servida na Festa de São Gonçalo era oferecida à comunidade gratuitamente. Depois, com a chegada da igreja, ou a ser cobrada para ajudar nos custos da diocese. Hoje está tudo pela hora da morte, não se pode dar mais nada de graça. Mas os festejos de São João, a Festa da Dona Dalvete, ainda mantém a tradição, o almoço ainda é servido gratuitamente”, disse Domingas.
Entre algumas tradições que permanecem está a Rota do Peixe, quando todas as peixarias da região da São Gonçalo Beira Rio abrem em comemoração ao aniversário de Cuiabá. A festividade que ocorre entre os dias 5 e 8 de abril para toda a comunidade, ainda atrai muitos visitantes.
“De vez em quando ainda fazemos [saraus] aqui no meu quintal, o famoso Quintal da Domingas. O bom é que tenho músicos à disposição. Quando tem lua, o povo se diverte tocando e dançando rasqueado cuiabano, siriri. É sempre muito animado, as pessoas se divertem, não tem violência, só harmonia. Aproveito e convido a todos para virem um dia à comunidade se divertir com a gente”, convida
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