Casarão que desabou era lar de artista plástico e foi frequentado até por ex-presidente 6z6c6i
Casarão histórico será demolido pela Defesa Civil, para evitar novos desmoronamentos 6o3e2j
O desabamento de um casarão no Centro Histórico de Cuiabá na madrugada desta segunda-feira (14) deixa uma ferida no patrimônio material e imaterial da capital que não poderá ser curada. A estrutura na Rua Batista das Neves existe há, pelo menos, 70 anos e está sendo demolida pela Defesa Civil após parte parte desabar por causa das chuvas.

Personalidades importantes já viveram ou frequentaram o local, como o ex-presidente da República Eurico Gaspar Dutra, o ex-vice-prefeito de Cuiabá Coronel José Meireles, pai da atriz Totia Meireles, e a personalidade tradicional de Cuiabá Jejé de Oyá.
Atualmente, a casa era residida pelo artista plástico Benedito Aleixo Cortez, famoso por se inspirar nas obras de Salvador Dali em seus traços fortes e firmes, com muita cor e movimentos em suas pinturas.
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O Primeira Página falou com Aleixo horas após sua residência desmoronar. Visivelmente abalado, ele disse que escapou da morte por pouco e que precisa de ajuda. Seus móveis, obras e objetos pessoais foram retirados dos escombros e colocados temporariamente na casa de um amigo que ofereceu ajuda.
“Agora não tenho lugar para morar. Eu estava morando nessa casa há 6 anos porque uma amiga me cedeu o espaço. A parede caiu era mais ou menos 1h e eu corri lá para o fundo e não morri. Perdi mais de R$ 4 mil em materiais, como tinta, pincel, telas, cavaletes e outros materiais que uso. Não vou conseguir comprar tudo de novo. Sou simples, vendo meus quadros baratos e eu estou sofrendo muito”, disse ele à reportagem.

De acordo com o historiador e memoralista Francisco das Chagas Rocha, a casa inicialmente pertencia à família de Emanuel Pereira Cuiabano, conhecido como seu Maneco, um livre pensador que viveu até 1958.
“Hoje é um dia muito triste para nós, historiadores, porque estamos presenciando o desmoronamento do casarão que pertenceu ao seu Maneco. Depois, foi vendida para a família Muller e até a data de hoje várias pessoas já moraram nesse casarão. Morou o coronel Meireles, que foi vice-prefeito de Cuiabá na gestão de Dante de Oliveira, ele era casado com a dona Zulmira Meireles, que tinha obras filantrópicas e também uma pessoa muito famosa que aqui residiu foi a atriz Totia Meireles”, explicou o historiador.

A Defesa Civil fez o isolamento da área e interditou dois outros casarões próximos, que também correm risco de desabamento.
“No anexo ao casarão, morou o Jejé de Oyá, que era filho da dona Didi, empregada do seu Maneco. É muito triste ver o desmoronamento dessa casa tão histórica, que um dia recebeu o presidente da República Eurico Gaspar Dutra”
O Primeira Página entrou em contato com o Iphan (Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional) e foi informado que o local é de propriedade particular. O órgão enviou a seguinte nota:
“O Iphan informa que o imóvel localizado na Rua Batista das Neves, esquina com a Praça Antônio Corrêa pertence ao Setor de Entorno denominado Setor Boa Morte, do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Cuiabá. O imóvel é uma propriedade particular, que foi objeto de fiscalização da Superintendência de MT, porém, a proprietária é falecida. O Iphan solicitou informações à família sobre a responsável pelo inventário, mas não obteve resposta. Hoje (14) pela manhã, a Divisão Técnica do Iphan-MT esteve no local, juntamente com uma equipe da Defesa Civil para vistoriar o imóvel”.

Artista plástico 2a4l1l
Aleixo nasceu em Poconé, a 104 km de Cuiabá, em 1965. Na Capital, participou de diversas exposições coletivas do Museu de Arte e de Cultura Popular, entre elas: Pintaram os bichos na visualidade (1986), Acqua Aquática (1987), Negra Sensibilidade (1988) e Momentos da República na Arte Mato-grossense (1989).
Ele foi aluno dos artistas plásticos Dalva de Barros e Nilson Pimenta no Atelier Livre da UFMT. Suas obras, com muita personalidade, mostram a natureza de Mato Grosso, os peixes, rios, personalidades, canoas e muitos elementos sociais. Ele também aplica o universo sacrossanto, as flores, e cores vibrantes.
O artista participou do III Salão Paulista de Arte Contemporânea em São Paulo, (1990), e em 1991 obteve o Grande Prêmio no I Salão Mato-grossense de Artes Plásticas. Por diversas vezes, sua pintura esteve no Salão Jovem Arte Mato-grossense, e em 2002 no Salão de Piracicaba em São Paulo.
Em 2004, foi premiado no Salão de Pequenos Formatos, e no ano seguinte foi no 5º Salão Livre da Associação Cuiabana Belas-Artes.